Por causa da queda na procura por alguns itens, os supermercados tiveram que ajustar os estoques: diminuíram, por exemplo, a oferta ou a variedade dos produtos que têm ficado por muito tempo nas prateleiras.
Por Jornal Nacional
A inflação nas alturas tem forçado o brasileiro a mudar hábitos na hora de comer. E, para economizar, a refeição fora de casa está cada vez mais rápida.
A expressão “comer na rua” tem traduzido bem o que é a hora do almoço em uma cidade como São Paulo. Nem sempre dá para pagar pelo conforto e pelo prato de um restaurante. Resta se acomodar em um cantinho da calçada para economizar nas refeições, que para a auxiliar de limpeza Ruth Thomas e para a líder de limpeza Vanessa Iris Carlos de Medeiros foi um pastel.
“Uma hora a gente vai num restaurante, outra hora a gente faz um lanche. Onde é mais acessível o preço”, conta Vanessa.
“Pastel, um hot dog… E assim vai”, completa Ruth.
A vendedora de cachorro-quente Ana Paula Machado tem mesmo vendido mais cachorro-quente na esquina de uma rua cheia de escritórios, e sabe que o melhor ingrediente é o preço.
“O lanche meu é R$ 7. Onde você vai encontrar um almoço a R$ 7? Entendeu? Ai a pessoa enche a barriga com R$ 7 até chegar em casa. Acaba trocando o almoço por um lanche”, conta Ana Paula.
E é o que mostrou um estudo feito em sete regiões metropolitanas por uma consultoria que pesquisa hábitos de consumo.
“Entre o primeiro trimestre de 2022 com o primeiro trimestre de 2020, um milhão de pessoas, no total, deixou de consumir refeições na rua. Enquanto 3 milhões começaram a consumir mais hambúrgueres”, diz Hudson Romano, gerente da Cconsultoria Kantar.
Não foi só na rua que o cardápio mudou por causa da inflação. O brasileiro cortou da lista de compras itens que subiram demais de preço e, quando possível, trocou por outros mais baratos. Os supermercados, então, tiveram que ajustar os estoques: diminuíram, por exemplo, a oferta ou a variedade dos produtos que têm ficado de lado por muito tempo nas prateleiras.
Um levantamento com informações de 40 mil lojas mostrou o impacto disso nos supermercados. No último mês, de uma lista de 100 produtos, pelo menos 11 não foram encontrados nas prateleiras. É a chamada taxa de ruptura, que fica ainda maior em determinados produtos – como leite e ovos. A falta de leite longa vida, por exemplo, atingiu o maior patamar desde o começo da pandemia. Parte da explicação está no preço, que subiu mais de 40% em 2022 – e que pesa na conta de quem tem filhos.
“Leite para ele é quase impossível: R$ 7 o litro do leite. Tem que diminuir a quantidade e tentar algumas outras opções. Suco de caixinha, mas também não é saudável”, conta o executivo de contas Leandro Felício.
“Quanto mais o preço aumenta, menos o consumidor leva para casa de produtos. Então, nós temos visto aí um dos menores estoques que o varejo tem tido nos últimos dois anos”, explica Robson Munhoz, diretor da Neogrid.
O consumidor percebe a falta de algumas marcas, mas escolhe mesmo o que vai levar pelas promoções.
“Eu procuro o mais barato, quando eu acho. Quando eu não acho, às vezes, pego assim… As pessoas me dão arroz, açúcar, café. Mesmo vencido, eu uso”, conta uma consumidora.
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