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Volatilidade atual dos mercados florestais no médio e longo prazo

A atual crise não configura uma crise do setor privado, que hoje conta com crédito e financiamentos disponíveis, mas sim uma crise dos governos que se endividaram, em muitos casos, justamente para ajudar o setor privado na crise de 2008. Portanto, se o setor privado produz e se desenvolve, a crise dos governos, mesmo influenciando negativamente o setor privado, tende a não afetar de forma tão drástica o crescimento das economias como foi o caso da crise de 2008.

Da mesma forma, analisando o setor do agronegócio, as tendências têm apontado para uma situação em que a crise de estoque de alimentos (commodities) mundiais persistirá possivelmente por mais uma década. Por sua vez, os preços agrícolas também vão ficar em alta em função do déficit de produção de alimentos, da queda da produtividade do agronegócio e da perspectiva de crescimento populacional em alguns países emergentes. Neste cenário, países com aptidão para produção primária tendem a estar em uma situação favorável que, se bem aproveitada, pode colocá-los em uma posição vantajosa no futuro.

Considerando-se as tendências mundiais, o setor florestal, assim como todo o agronegócio, pode estar se deparando com um cenário otimista dos negócios nos anos vindouros. A diferença temporal entre a decisão efetiva de investir e os resultados oriundos dessa decisão pode-se apresentar como uma janela de oportunidades para o setor. As crises e a possível redução de investimentos nos países produtores florestais pode ser a oportunidade para que o setor florestal brasileiro se fortaleça com investimentos em tecnologia, eficiência econômica e agregação de valor, desfrutando de ganhos oriundos da venda de produtos valorizados.
A análise conjuntural do Centro de Inteligência em Florestas deste mês de outubro de 2011 continua a acompanhar os movimentos e tendências dos vários segmentos dentro do setor florestal. Apesar da redução de crescimento e desafios que segmentos específicos estão enfrentando, de modo geral, o setor continua se desenvolvendo e com condições de tomar as decisões corretas para assegurar um fortalecimento da competitividade dos negócios florestais brasileiros frente aos concorrentes mundiais.

Segmento de Celulose e Papel

Apesar da crise econômica na Europa, do consumo menor que o esperado na China e da demora na recuperação dos Estados Unidos, no segmento de celulose e papel as empresas estão seguindo seu plano de expansão, uma vez que estão identificando oportunidades de mercado no longo prazo. Na Suzano, diversas providências estão em implantação para fortalecer a estrutura de capital e viabilizar os projetos futuros do Plano Suzano 2024. A empresa tem plano de expandir sua produção de celulose com os projetos do Maranhão e Piauí.

A Fibria segue na ampliação da base florestal de Três Lagoas (MS), com o objetivo de iniciar a produção da nova linha naquela unidade cuja capacidade esperada é de 1,5 milhão de toneladas por ano em 2014. Cenibra, Celulose Rio-Grandense (controlada pela chilena CMPC), Veracel (jointventure entre Fibria e Stora Enso), Arauco, Stora Enso (no Uruguai) e Klabin completam a lista das companhias que anunciaram projetos ou planos de investimento nos próximos anos. Além disso, está certo o início da implantação da fábrica da Eldorado Brasil, produtora de celulose controlada pela J&F, holding do frigorífico JBS Friboi, em 2013.

Com relação aos preços da celulose, em São Paulo, estes situaram na faixa de US$850/t a US$900/t de maio a agosto de 2011, de acordo com o CEPEA. O mesmo foi observado nos Estados Unidos e Europa. Na China, esses preços apresentaram-se menores nesse período: entre US$700/t e US$800/t.

A expectativa é de que estes preços sejam mantidos no atual patamar. Como no Brasil, a maior parte da produção encontra-se associada a contratos com clientes, a volatilidade de preços para a empresa pode reduzir. Porém, há expectativa de que, no curto prazo, o valor caia em função de um cenário de estocagem e redução do consumo nos países desenvolvidos, mas não como aconteceu entre 2008 e 2009, por conta da crise mundial.

Para os executivos, o problema maior para o segmento é o câmbio. Como não há sinais de melhora na relação cambial para exportação, principal negócio dessas empresas, a celulose brasileira vem perdendo competitividade. Assim, todas elas estão pensando em estratégias para manter o nível de competitividade, baseado no custo de produção. Na Fibria, por exemplo, a companhia está mudando o perfil de suas florestas. Em Três Lagoas, a nova unidade de produção deverá ficar com uma relação de 70% de florestas arrendadas e 30% de terras próprias, que favorecerá o fluxo de caixa da companhia que não terá de desembolsar recursos para a aquisição de terras naquela região.

Segmento de Madeira Processada

Em setembro, as exportações de madeira e derivados foram de US$155.263 mil, representando uma queda de 6,7% em relação ao mês anterior. As importações foram de US$17.067 mil, representando uma redução de 14,4% em relação ao mês anterior. Portanto, o saldo na balança comercial de agosto foi de US$157.246 mil, queda de 5,7% em relação a agosto deste ano. Quando comparado com o mês de setembro do ano passado, as exportações, importações e o saldo da balança variaram -1,3%, 34,2% e -4,4%, respectivamente.

Em 2011, de janeiro a setembro, a balança comercial acumulou um saldo de US$1.422.689 mil, representando uma redução de 2,9% comparada ao igual período do ano passado. Esses números indicam uma ligeira queda do ritmo de crescimento neste último mês

Mesmo com as incertezas do mercado global, a Suzano anuncia novos investimentos. O presidente da Suzano Energia Renovável, André Dorf, assinou um protocolo de intenções com o governo do Maranhão, em 2 de outubro de 2011, que prevê o investimento de R$1 bilhão em florestas plantadas e três fábricas, até 2014. A meta é instalar no estado três unidades de produção de pellets de eucalipto (pedaços de madeira) para geração de energia.

Segundo Dorf, a disponibilidade de terras, preço mais acessível e a infraestrutura logística do Maranhão foram fatores determinantes para a escolha do estado. O executivo disse que o mercado alvo da Suzano é a Europa, que já é o principal consumidor de pelletsde madeira. “Através do Maranhão, ganhamos cinco dias de navio até a Europa”, declarou Dorf. Ele ainda informou que a companhia já está negociando preço de frete para baratear os custos (Globo Rural Online).

Outra boa notícia para o segmento de madeira processada é que tramita no Senado uma proposta de proibição de exportação de madeira não beneficiada. Esta medida estimularia o beneficiamento da madeira, agregando o seu valor, gerando mais empregos, renda e divisas. Madeiras beneficiadas, de acordo com a proposta, são aquelas transformadas em vigas, pranchões, tábuas, lâminas ou outras formas de comercialização.

Segundo Bolsonaro, essa proibição temporária seria um primeiro passo para que o País adote uma política eficiente de fiscalização de extração da madeira nativa. “A floresta amazônica é a última grande reserva de madeira tropical do planeta. As empresas que controlam o mercado internacional desse recurso já começaram a transferir suas operações para a região”, alertou. Esta proposta já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Como tramitou de forma conclusiva, ela segue para análise do Senado.

Em setembro de 2011, alguns preços do metro cúbico de madeira serrada na Zona da Mata Mineira tiveram alta, a saber: Angelim Margoso (R$1.890,00), Cumaru (R$2.430,00), Jatobá (R$2.430,00), Sucupira (R$2.250,00), altas de 3,2%, 5,9%,
5,9% e 16,3%, respectivamente. Já os preços do metro cúbico de madeira serrada dEucalipto (R$1.100,00), Pinus (R$800,00) mantiveram-se estáveis (CIFlorestas).

Apesar de apresentar uma ligeira queda de atividades durante o mês de setembro, perspectivas de maiores investimentos, já vislumbrando uma melhor situação econômica mundial no futuro, e também iniciativas parlamentares para que se adicione valor às madeiras exportadas apontam para uma melhor perspectiva de médio e longo prazo para o segmento de madeira processada.

Segmento de Produtos Florestais Não Madeireiros

No segmento de produtos florestais não-madeireiros, o valor das exportações de castanha-do-brasil, óleo essencial de eucalipto e castanha-de-caju apresentaram uma redução média de 27,0%, 9,0% e 19,0%, ao mês, de julho a setembro desse ano, o que pode estar relacionado com a crise nos Estados Unidos, um dos principais importadores desses produtos (MDIC), apesar do crescimento das exportações brasileiras para os países árabes nos últimos anos.

O valor das exportações de palmito e tanino, por outro lado, tiveram alta de 30,0% e 78,0%, ao mês, respectivamente, também de julho a setembro desse ano. Por sua vez, as importações de borracha natural apresentaram queda de 7,0% ao mês no mesmo período (MDIC), o que também pode estar relacionado com a atual crise na Europa e Estados Unidos, que vem desaquecendo a indústria automobilística mundial, inclusive a indústria brasileira, impactando negativamente nas importações nacionais de borracha natural.

Contudo, as expectativas da indústria automobilística nacional parecem ser otimistas, já que estão previstos investimentos de US$21 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de produtos até 2015 para manter a competitividade, o que pode reverter as importações de borracha natural do país para os próximos meses, bem como impulsionar a produção dessa matéria-prima domesticamente.

Segmento Moveleiro

Os empresários do setor moveleiro brasileiro, neste segundo semestre de 2011, continuam apreensivos em face das incertezas que persistem na economia global, principalmente em função da crise que ronda os países da zona do euro. As mudanças repentinas no cambio têm se refletido em instabilidades na produção, na exportação e na importação dos diversos produtos desse segmento.

Apesar das ameaças da crise internacional, o setor moveleiro apresentou indicadores positivos no mês de agosto, acompanhando o quadro geral da indústria de transformação brasileira que registrou dois meses seguidos de aumento da atividade industrial. O setor apresentou crescimento de 12,0% em relação ao mesmo mês do ano de 2010, valor acima da média da indústria nacional, de 6,7%.

O quadro de agosto não é de forte expansão, mas a continuidade de taxas de crescimento das variáveis pesquisadas contrasta com a estagnação observada na primeira metade do
ano. Em setembro e outubro, esses resultados devem ser menos favoráveis em decorrência de mudanças macroeconômicas internas e externas

As exportações do setor, de janeiro a setembro de 2011, embora crescentes, apresentam-se em queda em todos os meses no comparativo com os mesmos meses de 2010, exceto em agosto, quando houve uma ligeira recuperação. No acumulado do ano de 2011, o Brasil exportou, aproximadamente, US$ 337 milhões em móveis, um resultado 12% inferior ao obtido no mesmo período em 2010.

Praticamente inexpressivas no passado recente, as importações de móveis apresentam-se crescentes neste ano de 2011. No comparativo com 2010, de janeiro a agosto de 2011, essas são 97% maiores do que aquelas no mesmo período. Tal quadro vinha revelando perda de competitividade da indústria moveleira nacional frente a uma moeda nacional valorizada. No entanto, em setembro, percebese que houve queda expressiva dessas importações, reflexo talvez da repentina e forte desvalorização do real frente ao dólar em decorrência do agravamento da crise financeira nos EUA e Europa.

Acredita-se que as medidas de incentivo dadas pelo governo federal, visando desonerar o setor de móveis, os investimentos em promoção e inovação, a redução das taxas de juros, as mudanças no cambio, além do aquecimento natural da demandainterna no segundo semestre, devam, em conjunto, resultar em um cenário mais otimista para o setor no médio e longo prazo.

Fonte: Remade

(Enviada pelo Colaborador Especial Gustavo Henrique de Oliveira)

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