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O avião HALO, usado para a coleta de amostras de ar atmosférico da Amazônia. — Foto: Divulgação

Grupo usa avião adaptado para estudar como nuvem de ‘partículas misteriosas’ a 15 km do solo impacta a Amazônia

O projeto chamado CAFE-Brazil busca compreender uma camada de gases encontrada na atmosfera da região em 2016. Além de sua existência ser desconhecida até então, os cientistas ainda não sabem qual a função que ela exerce.

O avião HALO, usado para a coleta de amostras de ar atmosférico da Amazônia. — Foto: Divulgação
O avião HALO, usado para a coleta de amostras de ar atmosférico da Amazônia. — Foto: Divulgação

Por Júlia Putini, G1

Um novo experimento de campo coleta dados da atmosfera sobre a Amazônia Legal e de outros quatro estados brasileiros para analisar uma camada de aerossóis localizada a 15 quilômetros de altura.

A existência dessa camada foi constatada em 2016, durante os voos do projeto ACRIDICON-CHUVA, e surpreendeu os pesquisadores. A origem da camada e sua função ainda são desconhecidas, mas a hipótese é de que ela atue regulando a temperatura da região, mantendo o clima ameno.

Essa camada também está presente em outros locais do globo, como na Ásia e na América do Norte. No entanto, o Brasil é o único local no qual ela se encontra sobre uma floresta e, especialmente, na floresta Amazônica, a maior floresta tropical do mundo. Esses aerossóis são transportados no mesmo caminho que os rios voadores, que transportam a umidade para o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

O projeto intitulado CAFE-Brazil é uma abreviação de ‘Chemistry of the Atmosphere: Field Experiment in Brazil’, ou seja, ‘Química da Atmosfera, Experimento de Campo no Brasil’, em tradução livre.

“A gente está querendo descobrir que tipo de aerossol está lá em cima, se ele é antropogênico ou não, como que ele chega naquela altitude e do que ele é formado. E, o mais importante, qual o impacto no clima”, explica o coordenador brasileiro da pesquisa, Dr. Dirceu Luís Herdies, do Instituto Nacional de pesquisas Espaciais (INPE).

A pesquisa envolve cientistas gregos, brasileiros e alemães, e inclui a parceria com o Max Planck Institute for Chemistry, que é referência no campo da pesquisa científica e tecnológica na Alemanha. Além destes, também há o envolvimento do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade de São Paulo (USP).

Luís Augusto Machado, pesquisador do Instituto de Física da USP e colaborador no Instituto Max Plack, explica que a chuva carrega os gases que a floresta emite. Esses gases (isopreno e monoterpeno) são, na prática, o cheiro que a floresta exala.

Carregados pelas nuvens, esses particulados sobem a altas altitudes e com o frio se transformam em partículas.

“Diferente do gás, elas absorvem muito mais radiação e assim mudam o clima. Elas também levam bioaerossóis, que são vírus, bactérias e esporos. Essas correntes, dentro das nuvens, transportam biodiversidade”, afirma Machado.

São esses detalhes que eles esperam conhecer ao investigar a composição da nuvem. Assim como existem os rios voadores, que se tornam a chuva, tem os de aerossóis, que carregam partículas que vem da África, do deserto do Saara e até do que é emitido pelos vulcões.

Esse transporte particulado fertiliza a floresta porque carregam fosforo e nitrogênio, além de vários componentes trazidos nesses rios de aerossóis voadores.

“Estudaremos tanto eses rios como também a maneira que eles são levados pela convecção. Imagine que, por exemplo, com as mudanças climáticas, a direção desses rios voadores seja alterada. Aí eles param de fertilizar a floresta e isso tem várias consequências, a floresta morre. Tem uma série de fronteiras da ciência que a gente vai tentar resolver”, complementa Machado.

A base será em Manaus, de onde partirão os voos da aeronave de pesquisa. O avião é chamado de HALO, abreviação de High Altitude Long Range Aircraft, que significa, em tradução livre, Aeronave de Longo Alcance em Alta Altitude. Para coletar as informações necessárias, ele foi equipado com instrumentos de química atmosférica e de parâmetros meteorológicos.

Por dentro do avião HALO, onde dados serão coletados e gerados para análise dos pesquisadores. — Foto: Divulgação/Dirceu Herdies
Por dentro do avião HALO, onde dados serão coletados e gerados para análise dos pesquisadores. — Foto: Divulgação/Dirceu Herdies

O trajeto

O avião sairá de Manaus e fará vários braços de voo para depois sobrevoar em espiral acima da torre ATTO (Amazon Tall Tower Observatory), que é a maior torre de pesquisas climáticas do mundo e está localizada no coração da Floresta Amazônica.

Os voos acontecem entre a primeira semana de dezembro de 2022 e janeiro de 2023. A aeronave irá realizar medidas de particulados atmosféricos, gases e parâmetros meteorológicos nos Estados do Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará.

As informações coletadas servirão para investigar as interações dessa nuvem-aerossol que paira sobre a Amazônia.

Além disso, também complementará as medidas realizadas no solo pelo Projeto ATTO, servindo como base para os ajustes do modelo do Weather Research and Forecasting Model (WRF-CHEM), usado para pesquisa e previsão do tempo.

A investigação

Os voos irão investigar as fontes das altas concentrações de nanopartículas, como as emissões de gases da floresta (que é uma das principais fontes de aerossóis na atmosfera amazônica) influenciam a química de oxidação e como esse processo se relaciona com a formação de aerossóis e sua abundância em altas altitudes.

O principal interesse científico da campanha de coleta de dados está no aumento de conhecimento das interações entre as diversas componentes do sistema atmosférico e entre biosfera e atmosfera, proporcionando um melhor entendimento dos processos da atmosfera tropical, com foco na região amazônica.

Sistemas instalados na fuselagem da aeronave transportarão o ar ambiente para os instrumentos no interior da aeronave. Uma vez analisadas as propriedades químicas e físicas, o ar coletado pelas sondas será liberado para o exterior através de tubos de escape.

Sistema para captação do ar atmosférico, instalado na fuselagem do avião. — Foto: Divulgação/Dirceu Herdies
Sistema para captação do ar atmosférico, instalado na fuselagem do avião. — Foto: Divulgação/Dirceu Herdies

Os dados obtidos serão armazenados eletronicamente a bordo da aeronave e copiados para um sistema central de armazenamento após cada voo. Esses dados brutos serão disponibilizados para todos os parceiros de pesquisa brasileiros e estrangeiros para análise e para comparação com os resultados do modelo preexistente.

O grande diferencial do momento escolhido para a pesquisa é a qualidade do ar atmosférico. O experimento realizado agora, em dezembro, coincide com o final da época chuvosa no local, logo, a atmosfera estará bastante limpa.

Fonte: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2022/12/12/grupo-usa-aviao-adaptado-para-estudar-como-nuvem-de-particulas-misteriosas-a-15-km-do-solo-impacta-a-amazonia.ghtml


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