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Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Com 5G, modelo atual de negócios das operadoras torna-se arcaico

O ministro Fábio Faria (Comunicações) chega para o início do leilão do 5G, em Brasília
O ministro Fábio Faria (Comunicações) chega para o início do leilão do 5G, em Brasília – Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

por Thiago Camargo, via Folha de São Paulo

leilão 5G realizado pela Anatel abre caminho para novos investimentos em tecnologia. Por coincidência, em 2022 o desenho “Os Jetsons” completa 60 anos, uma animação que contava o dia a dia de uma família do ano 2062. Desenho futurista e profético, “Os Jetsons” previam esteiras rolantes, smartwatches, casas inteligentes, robôs de faxina, camas de bronzeamento, drones e muitas outras coisas que acabaram se tornando realidade. O 5G, em alguns momentos, parece uma aproximação da realidade da família Jetson, mas isso não deve acontecer tão rapidamente.

As promessas mais revolucionárias dependem não só de conectividade, mas também de regulação, tecnologia ou viabilidade financeira. Não veremos, no curto prazo, carros autônomos ou cirurgia pela internet, mas veremos mais pessoas conectadas, o que é fantástico quando se pensa em inclusão digital.

O grande ganho social do leilão de 5G acontece, porém, no 4G, com a previsão de cobertura de 95% da área urbana dos municípios que ainda não contam com esse acesso. É a chegada do 4G que vai permitir a inserção real das pessoas no ambiente da economia e serviços digitais. Existe, também, a previsão de recursos para universalizar a conexão à internet de alta velocidade nas escolas, caso haja apresentação por propostas na faixa de 26GHz, uma faixa que permite alta velocidade, porém alcance muito limitado.

Existe a previsão, considerada difícil de se tornar realidade por algumas pessoas, de termos 5G em todas as capitais já no meio do ano que vem. Isto seria muito bom, se não chegasse com um risco: aumento da desigualdade digital. Como há a definição do modelo chamado “standalone”para o 5G, as teles vão precisar de uma infraestrutura nova e é de se imaginar que essa estrutura vai ser implantada em locais de maior retorno financeiro, o que significa que, pelo menos em um primeiro momento, o baixo número de antenas por habitante em regiões mais pobres não deve ser sanado.

Existe a promessa de ganho de competição, já que muitas empresas participaram do leilão, mas não é possível saber se isso se tornará realidade. Nos blocos nacionais, foram quatro ganhadores, assim como tinha sido no leilão dos 700 MHz (o leilão do 4G). Dessa vez, sai a Oi —que não apresentou proposta em nenhum bloco— e entra a Winity, ligada a um fundo de investimento, o Patria.

O mais provável é que o fundo de investimento construa uma rede aberta, permitindo que outras operadoras utilizem essa rede. Isso já existe hoje com as MVNOs, operadores de redes móveis virtuais, como é o caso da Surf Telecom e do celular dos Correios. A Brisanet, provedora de internet com forte presença no Nordeste brasileiro, ganhou lotes no Nordeste e Centro-Oeste, e é possível que tenha uma operação nacional utilizando a rede da Winity.

Mais do que os impactos no agro ou na indústria, já amplamente comunicados, o 5G deve impactar sobremaneira o negócio das próprias teles. Os modelos de negócios que temos hoje vão se tornar arcaicos. A banda larga fixa vende velocidade (você compra planos de 100, 200, 400 megas), enquanto a conexão móvel vende volume de dados (você compra planos de um, dois, dez, 20 gigas).

Com uma banda larga móvel oferecendo velocidade superior à fixa e com um volume de dados aumentando exponencialmente —vamos passar do conteúdo 4k para o 8k, rapidamente— nenhum dos modelos que existem hoje vai fazer muito sentido. Será necessário que se reinventem.

Também será necessária a reinvenção da economia nacional, para que possamos gozar plenamente das possibilidades do 5G. Isto porque ainda não temos aplicações específicas para essa tecnologia, o que demandará elevado investimento em pesquisa e desenvolvimento. Precisaremos trocar nossos celulares, mesmo alguns dos celulares mais modernos não possuem total compatibilidade com o modelo de 5G standalone e poderão sentir alguma perda de qualidade em chamadas.

No leilão do 5G, finalmente estamos vislumbrando a universalização do 4G. Nos resta torcer para que possamos avançar com a nova tecnologia antes que o resto do mundo já esteja começando com o 6G. Ainda que o leilão desta semana não nos leve para o mundo dos Jetsons, ele pelo menos diminui o atraso e tirar o Brasil do episódio dos Flintstones, aquela família da idade da pedra.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/11/com-5g-modelo-atual-de-negocios-das-operadoras-torna-se-arcaico.shtml


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