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Proibidas em algumas cidades brasileiras, as sacolinhas plásticas ameaçam voltar e até virar obrigatórias. E o meio ambiente?

Vamos ou não extinguir as sacolinhas plásticas?

Folha de S. Paulo de 15 de maio trouxe reportagem mostrando que algumas cidades do interior do Estado de São Paulo estão tornando obrigatória a distribuição de sacolas plásticas nos supermercados. A matéria informa que localidades como Franca, Guarulhos, Itapeva, Mogi Mirim, Lins e Barretos entendem que o custo dos sacos plásticos já está incluído nos  preços dos produtos e que, portanto, o consumidor deve ter a opção de levar as sacolas sem custo extra.

Essa discussão vem sendo travada por mais oito municípios paulistas, além da capital: Campinas, Itararé, Valinhos, Atibaia, Botucatu, Sorocaba, Santo André e Araraquara.  Ourinhos, cidade do oeste do Estado, aprovou lei que obriga os supermercados a distribuir sacolas gratuitamente. Aqui, tramita da Assembleia Legislativa um projeto de lei que obriga a distribuição das sacolinhas em todo o Estado.

Os políticos estão reagindo para responder a um mal-estar que se torna cada vez mais evidente entre os consumidores,  desde que as sacolinhas deixaram de ser distribuídas.

Interessante é que, antes da proibição – voluntária, porque foi uma decisão da  Associação Paulista de Supermercados (Apas) –, elas não gozavam de boa fama entre esses mesmos consumidores. Por que o mal-estar e as reclamações? Será que as pessoas voltaram a preferir as sacolinhas, mesmo sabendo que elas poluem? No começo deste ano, consumidores e imprensa saudavam o fim do uso delas e o benefício que esta atitude traria ao meio ambiente. O que mudou de lá para cá? Os consumidores deixaram de se preocupar com o meio ambiente? Na verdade, estamos vivenciando as dificuldades inerentes a mudanças radicais de comportamento, mudanças  que ficaram maiores do que precisavam ser porque houve alguns erros de avaliação e de percurso, por assim dizer.

Campanhas motivacionais

Desde 4 de abril deste ano, os supermercados paulistanos deixaram de distribuir as sacolinhas plásticas para acomodar as compras. A medida foi adotada pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) como resultado final de uma campanha iniciada em agosto de 2011, denominada “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco”. Essa campanha, por sua vez, foi inspirada em outra,  lançada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em 2009, com apoio do Walmart Brasil, chamada “Saco É um Saco”.  Essas campanhas já haviam sido precedidas por iniciativas voluntárias de substituição do saco plástico por sacola retornável, empreendidas por outras redes de supermercados e por prefeituras de localidades como Belo Horizonte, Jundiaí e Curitiba, entre outras.

As campanhas eram bem aceitas pelos consumidores e a aversão deles ao item era corroborada por pesquisas como o estudo feito pelo MMA e pela rede Walmart Brasil chamado “Sustentabilidade Aqui e Agora”, sobre meio ambiente, hábitos de consumo e reciclagem em 11 capitais. Nesse levantamento, foi verificado que seis em cada dez consumidores urbanos apoiavam o fim das sacolas plásticas.

Mais ainda: a campanha “Saco é um Saco”, que estimulava o consumidor a usar outros meios que não a sacola plástica para carregar as compras, foi um sucesso absoluto. Fazendo parcerias com supermercados, mas sem lançar mão de proibições, a campanha conseguiu que o uso de sacolas plásticas caísse 33% ao ano, entre 2009 e 2011. Ou seja, só por meio de campanhas motivacionais, o Brasil deixou de consumir 5 bilhões de sacolinhas por ano, levando-se em conta que a produção anual é calculada em 15 bilhões de unidades.

Proibição leva à irritação?

Por que, de repente, quando a ação toma forma mais concreta, o consumidor reage mal? Em primeiro lugar, porque qualquer mudança sofre resistência, mesmo que seja considerada uma mudança justa. Afinal, a pessoa precisa sair de sua zona de conforto e se aventurar num cenário desconhecido, mesmo que aparentemente simples, como o de trocar a sacola plástica pela retornável. Para muitos consumidores, essa singela troca pode ter representado transtornos enormes, que alteraram o cotidiano, como encontrar outra opção para colocar o lixo ou lembrar-se de pegar a sacola retornável quando sair para o supermercado.

Mas, no caso em questão, o principal desconforto parece estar sendo gerado pelo fato de a substituição estar causando ônus apenas para uma das partes interessadas: o consumidor.

As sacolas retornáveis estão sendo vendidas por preços que variam de alguns centavos até R$ 12 ou mais. No caso das opções mais caras, os supermercados informam que são produtos atrelados a causas sociais ou ambientais e que a renda é totalmente revertida às respectivas instituições. Mas o que deve pensar um consumidor quando chega ao caixa para pagar sua compra e só encontra as sacolas mais caras para vender?

Assim, no caso das sacolinhas, agregue-se à resistência natural a qualquer mudança o fato de o consumidor estar, de fato, pagando para poder carregar suas compras. Não são poucos os que se perguntam se essa troca foi boa para o meio ambiente ou para o lucro do supermercado.

Ordem na casa

Um processo que começou bem, com campanhas de estímulo e facilitação, está virando uma grande confusão, com políticos se aproveitando da insatisfação para fazer aprovar uma legislação que representa um retrocesso em política ambiental.

Os supermercados e o setor de comércio precisam começar a pôr ordem na casa. Como? Retomando e aperfeiçoando o sentido inicial das primeiras campanhas em favor das sacolas retornáveis, visando conscientizar o cidadão e levá-lo (não obrigá-lo) a buscar outras opções.

Em parceria com as empresas fornecedoras, os supermercados também poderiam distribuir aos consumidores as mesmas sacolas que estão vendendo pelo tempo que fosse necessário para todos perceberem o benefício da troca, um benefício  que deve ser para a sociedade e para o meio ambiente, nunca para uma empresa. Esse período talvez pudesse ser negociado entre as partes, consumidores, supermercados e empresas, que proporiam, inclusive, a legislação adequada para facilitar o processo de transição.

Os consumidores estão dispostos a banir as sacolas e a ir mais longe nas mudanças para uma nova economia, mas não querem arcar sozinhos com a despesa.

Fonte: Instituto Ethos

Proibidas em algumas cidades brasileiras, as sacolinhas plásticas ameaçam voltar e até virar obrigatórias. E o meio ambiente?
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