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Nova batalha contra a energia nuclear

Tóquio, Japão, 22/5/2012 – Nas duas últimas décadas o ativista Masao Ishiji, de 59 anos, lutou com unhas e dentes para impedir a operação de quatro reatores nucleares na zona costeira japonesa de Oi, na região de Fukui. Nos últimos dias, essa desesperada luta atingiu um momento-chave. A assembleia municipal de Oi aprovou uma resolução no dia 14 de maio permitindo a reativação de dois reatores da usina, que estavam fechados para a realização de testes.

“A nova decisão de Oi é um golpe para o movimento antinuclear” afirmou Yuki Sekimoto, do Greenpeace. “Também representa uma dura recordação da encruzilhada que enfrentam os moradores da área. Devem escolher entre seus empregos ou abandonar a energia atômica, o que é uma situação muito injusta”, acrescentou.

O prefeito, Shinobu Tokioka, que agora enfrenta a difícil tarefa de avaliar a decisão da assembleia local, disse à imprensa japonesa que sua principal preocupação é o dano potencial que sofrerá a economia local se o fechamento dos reatores for prolongado.

Pesquisas locais realizadas por Ishiji e seus seguidores em Wakasa, localidade de nove mil habitantes situada entre os dois reatores de Oi, indicam que os residentes sofrem o impasse de perderem seus empregos ou serem vítimas de um possível acidente nuclear como o ocorrido em Fukushima no ano passado, em razão de um terremoto e posterior tsunami.

Mais de 90% das 400 pessoas entrevistadas disseram estar preocupadas com a falta de um plano de evacuação seguro caso outro terremoto afete os reatores. Mas, também preocupa a possibilidade de muitos moradores da área perderem sua fonte de renda, já que existem muitos comércios e pousadas que dependem do movimento de pessoas em torno da usina nuclear.

“Essas são as maiores preocupações. A decisão de Oi de retomar o funcionamento dos reatores criou uma situação tensa nas áreas próximas”, disse Ishiji durante um grande encontro de organizações não governamentais antinucleares realizado no dia 15 de maio em Tóquio. Os reatores de Oi foram construídos em meados dos anos 70, quando as localidades da zona estavam ocupadas fundamentalmente por agricultores e pescadores, e sofriam uma perda de população jovem e a deterioração de sua economia.

Ishiji relatou que costumava trabalhar para a indústria florestal local, mas foi prejudicado pelas importações mais baratas de madeira de outros países asiáticos. “A madeira japonesa não pôde competir com recursos asiáticos, o que levou ao abandono de nossas florestas. Os mais jovens se mudaram para as grandes cidades em busca de trabalhos de melhor remuneração, deixando para trás uma vulnerável economia local”, explicou.

Nesse período, muitas economias locais debilitadas apelaram para a indústria nuclear, que o governo incentivava como bandeira do progresso. A construção de reatores foi acompanhada por generosos subsídios governamentais para a criação paralela de estradas, escolas e infraestrutura diversa, o que gerou mais empregos e revitalizou a economia local.

Entretanto, a destruição da usina de Fukushima no ano passado foi um duro golpe para este entusiasmo. Dezenas de milhares de pessoas sofreram a contaminação radioativa, enquanto muitos negócios e produtores agrícolas caíram na bancarrota.

O acidente desencadeou uma generalizada rejeição no público à energia nuclear. Mais de 70% dos japoneses consultados disseram não confiar na indústria atômica, o que levou muitos políticos locais a duvidarem quanto a reativar os reatores em seus próprios distritos. Cinquenta reatores nucleares permanecem fechados desde o começo de maio do ano passado.

Os reatores de Oi são propriedade da Companhia de Energia Elétrica Kansai, a segunda empresa pública mais importante depois da Companhia Elétrica Tóquio, hoje afundada em dívidas por causa do acidente em Fukushima. As empresas públicas alertaram sobre possíveis cortes de energia no próximo verão devido ao fechamento de reatores. A energia atômica atualmente fornece pelo menos 30% da eletricidade nacional, e estava previsto que chegasse a 50%, até que ocorreu essa tragédia.

Takao Kashiwagi, professor do Instituto de Tecnologia de Tóquio e conselheiro governamental, disse que o acidente em Fukushima preparou o caminho para medidas mais severas, incluindo barreiras contra eventuais tsunamis e a supervisão de especialistas independentes. “A segurança energética não deve ser um assunto político”, afirmou à IPS. “A retomada de operação dos reatores deve ser decidida com base em pesquisa científica concreta”, acrescentou.

No entanto, ambientalistas não se deixam intimidar pela decisão em Oi. Aileen Smith, da organização Green Action, insistiu que Fukushima representou um brutal chamado de atenção para os riscos que representa a energia nuclear para a humanidade e o meio ambiente.

Além disso, “a luta contra a energia nuclear está estreitamente relacionada com o apoio ao emprego”, destacou, por sua vez, Ishiji, que promove o uso de fontes renováveis em Fukui.

Fonte: IPS

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