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Seminário defende agenda comum para os Brics na Rio+20

A intenção oficial do encontro é "trocar ideias" sobre as propostas que serão levadas às mesas de trabalho até o sábado, mas na prática o grupo discutirá restrições à questão cambial e aos indicadores de desequilíbrios, impostas pela China, e à regulação do mercado de matérias-primas (commodities), que desagradam ao Brasil. Portal: Economia Brasil

Uma certa exaustão do sistema multilateral de consenso das Nações Unidas e interesses comuns como a erradicação da pobreza e a necessidade de transitar para a economia verde deveriam unir os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em torno de uma agenda comum na Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), no ano que vem.

Essa é uma das conclusões do seminário “Agenda dos Brics para a Rio+20: perspectivas brasileiras”, realizado nesta sexta-feira pelo Centro de Estudos e Pesquisas Brics, no Rio.

O evento constituiu-se de três mesas de debates: a primeira, mais geral, sobre agendas comuns aos Brics para a conferência do ano que vem; e as outras duas sobre os dois subtemas principais da Rio+20: economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e combate à pobreza e arquitetura internacional do desenvolvimento sustentável.

Os debates tiveram participação de representantes dos governos federal, estadual e municipal do Rio, da academia e da sociedade civil, além do embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaoqi.

“Os Brics têm o poder não só de ajudar a definir a agenda conceitual, como o de avançar nessa agenda de maneira mais concreta. Os Brics são um grupamento heterogêneo, mas que apesar das divergências têm muitos interesses em comum: reforma da governança global, manutenção das taxas de crescimento, novas estratégias de combate à pobreza”, disse a coordenadora-geral do Centro de Estudos e Pesquisas Brics, Adriana Erthal Abdenur.

A subsecretária estadual de Economia Verde do Rio, Suzana Kahn, propôs que os Brics desenvolvam “uma metodologia comum, um entendimento comum do que seja uma economia verde e indicadores para que nós possamos nos monitorar mutuamente”.

Kahn e outros representantes do governo do Estado e da Prefeitura do Rio defenderam ainda a descentralização das iniciativas para promover o desenvolvimento sustentável, com governos regionais e grandes cidades dos Brics se articulando entre si na troca de iniciativas de sucesso.

“Uma coalizão entre governos regionais, de baixo para cima, é mais fácil do que ir de cima para baixo. À medida que consigamos construir clusters de soluções, teremos mais facilidade para promover acordos globais”, disse a subsecretária.

O professor de relações internacionais da Universidade de Brasília Eduardo Viola disse que um papel dos Brics pode ser reconhecer a exaustão do atual modelo de tomada de decisões das Nações Unidas.

“Os consensos se criam, mas os resultados são limitados, então há uma exaustão de cúpulas. Há um fracasso crescente da ONU em todas as áreas. Um papel no qual os Brics podem atuar é reconhecer esse fracasso com todas as letras, reconhecer a importância do G20, porque este é um mundo de poder, não um mundo democrático de 180 países.”

Representante do governo federal, o assessor extraordinário do Ministério do Meio Ambiente para a Rio+20, Fernando Lyrio, reconheceu, porém, que essa articulação entre os Brics ainda engatinha.

“Os Brics têm muitas coisas em comum, mas têm grandes diferenças. Países como os Brics têm a capacidade de ter uma postura mais pró-ativa, mas hoje isso não existe.”

CHINA

Apesar de ser uma das maiores poluidoras do mundo, a China foi citada como exemplo para o Brasil de país que está investindo para ter uma economia mais verde, enquanto o Brasil só se preocuparia em reduzir o desmatamento da Amazônia.

“Mudança climática no Brasil ficou associada à redução do desmatamento. Isso fez com que se criasse um gap entre a questão de mitigação e a discussão da transição para economia verde. As políticas industriais brasileiras mal tomaram conhecimento desse assunto. Isso ficou visível na reação brasileira a crise de 2008, que foi pró-carbono. O grande incentivado foi a indústria automobilística, sem qualquer contrapartida ambiental”, queixou-se Pedro da Mota Veiga, diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento.

Viola ecoou suas preocupações. “Estou impressionadíssimo com essa coisa inercial do petróleo, das commodities. O Brasil não enxerga o que a China está fazendo.”

Rodrigo Rosa, assessor especial da Prefeitura do Rio, disse que “o Brasil precisa encontrar seu caminho na economia verde”. “Os painéis fotovoltaicos são hoje todos importados da China, que tem o maior investimento em pesquisa e desenvolvimento em energia renovável”, afirmou.

“Essa pesquisa não é suficiente para suprir a necessidade de uma economia que cresce a 9% ao ano. É como estancar uma hemorragia com band-aid”, contestou a organizadora do debate, Adriana Erthal Abdenur.

O embaixador da China, Qiu Xiaoqi, pediu compreensão para as especificidades do seu país. “A China ainda é um país em desenvolvimento, com um PIB per capita de um décimo das nações desenvolvidas, desigualdades regionais, 150 milhões abaixo da linha da pobreza. Precisamos da compreensão internacional para conciliar tarefas árduas como erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico e redução das emissões de carbono”.

Qiu defendeu respeito “às escolhas independentes dos países”, afirmando que “não existe um modelo universal de desenvolvimento sustentável”.

Fonte : FOLHA _ RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO


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