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Remédio contra mudança climática e pobreza

Enquanto a energia convencional aparece como principal responsável pelas emissões de gases causadores do aquecimento global, a produzida por fontes renováveis atua como bálsamo diante de desajustes ambientais e sociais.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU), indicou esta semana que as fontes renováveis, elemento essencial da chamada economia verde, podem reduzir a pobreza energética que afeta 1,4 milhão de pessoas no mundo e também ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar a mitigação da mudança climática.

Diante da crise financeira atual, é majoritária a convicção de que a economia deve se transformar de modo ambientalmente sustentável para que melhorem as condições de vida da crescente população do planeta, disse Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Unctad.

Nessa visão se conjugam energia, meio ambiente e o desenvolvimento, o que também preocupa a Assembleia Geral da ONU, que declarou 2012 Ano Internacional da Energia Sustentável para todos. Quanto à energia, dados de 2010 demonstram que, na época, 20% da população mundial carecia de acesso a eletricidade para cozinhar, calefação, iluminação, comunicações e usos produtivos. As populações da África subsaariana são as mais castigadas pelas carências de eletricidade, que afetam 70% de seus habitantes, em particular nas zonas rurais.

No lançamento do Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, estabeleceu a meta de alcançar o acesso universal ao serviço até 2030. Ban afirmou também que no mesmo período se deverá duplicar a taxa de energia suficiente e igualmente a porcentagem das produzidas por fontes renováveis.

A Unctad organizou esta semana uma série de conferências sobre o papel dos países emergentes diante do avanço da economia verde e também sobre o programa das nações do Sul para alcançar um mundo sustentável. Supachai afirmou que a transição para uma economia verde já está em andamento.

Empresas e consumidores apoiam de maneira crescente as formas de energia eficiente e as tecnologias das renováveis, bem como os alimentos orgânicos, os biocombustíveis, os produtos de madeira, o ecoturismo e outras variedades. A Unctad comprovou que a demanda por esses produtos em alguns casos favoreceu a criação de emprego digno e aumentou as oportunidades de desenvolvimento para as comunidades mais pobres dos países do Sul.

Muitos Estados responderam a esse florescimento dos mercados da economia verde fortalecendo sua capacidade de produção e de exportação. Os aumentos mais notórios de exportações se deram em tecnologias de energia renovável, como os painéis solares ou as turbinas de vento, bem com em produtos de iluminação eficiente.

Amedeo Teti, diretor-geral de comércio exterior do Ministério da Indústria e Energia da Itália, citou, entre outros exemplos, os casos da Índia, que figura entre os dez maiores exportadores de turbinas hidráulicas do mundo, e da Malásia, que está entre os cinco principais vendedores de células fotovoltaicas.

Entretanto, o mundo em desenvolvimento ainda encontra obstáculos quando tenta compartilhar uma transição factível para a economia verde. Muitos países em desenvolvimento carecem de suficiente capital financeiro, técnico e humano necessário para transformar suas economias, disse Supachai. Também precisam enfrentar o desafio de promover o desenvolvimento nacional, um requisito fundamental para reduzir a pobreza e estabelecer a igualdade em suas sociedades, acrescentou.

Ao mesmo tempo, as nações do Sul precisam reduzir sua dependência das fontes de energia convencionais, que até épocas bem recentes marcaram a matriz de seu crescimento econômico. Apesar de todos os esforços, os combustíveis de origem fóssil ainda representam 89% do consumo mundial de energia.

Outro motivo de preocupação são as desvantagens competitivas que surgem durante a transição. Preocupam-se especialmente com as perspectivas de restrições ao seu crescimento e desenvolvimento econômico, mediante entraves ao acesso de suas exportações aos mercados mundiais. Entre esses obstáculos estão as barreiras não alfandegárias e os padrões privados relacionados com o impacto ambiental do comércio de bens e serviços.

Supachai alertou que qualquer mecanismo internacional que se crie para apoiar a transição dos países em desenvolvimento para a economia verde deverá abster-se de impor novas condições no comércio internacional e na cooperação financeira.

O secretário-geral da Unctad saudou a possibilidade de que a redução da pobreza energética seja somada aos oito grandes Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos pelos governos na sede da ONU em 2000, com metas para 2015, tomando por base os indicadores referentes a 1990. Em regiões como a África subsaariana faltam os meios básicos para progredir, explicou Supachai à IPS. “Por isso, me agrada o secretário-geral da ONU apoiar a criação de capacidades, pois nessas áreas precisamos de transporte logístico, eletricidade e força energética”, acrescentou.

Para Supachai, até o momento, os ODM estão mais inclinados para uma orientação social do que para o lado econômico. Das oito metas, apenas uma cuida da criação de capacidades, afirmou. “Não temos nada contra os objetivos sociais, mas o que precisamos é de um equilíbrio entre o investimento nesta área e na economia”, ressaltou, lembrando que, caso isso continue como está, será muito difícil alcançar as metas.

“Creio que, quando os ODM foram lançados, a ONU era vista como uma instituição social. Uma pessoa pode se dedicar a dar remédios contra o HIV e outras enfermidades, mas penso que a ONU terá maior possibilidade de apoiar o investimento social quando contar com mais capacidades, mais aportes financeiros, mais renda para o povo, mais emprego. É disso que precisamos”, enfatizou Supachai.

“Para a próxima geração de ODM, necessitamos de um reequilíbrio, uma revisão da composição da ajuda internacional. De todo modo, estou bastante otimista quanto à energia renovável passar a integrar os ODM”, concluiu o secretário-geral da Unctad.

Fonte: Mercado Ético

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