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Paraíso do Atlântico dará pistas para mudanças do clima na Terra

Fernando de Noronha ganha estação para medir alterações do nível do mar

Em todo o mundo pesquisadores buscam entender como os oceanos reagem às mudanças climáticas. Um dos oceanos menos conhecidos é justamente o Atlântico Sul. Um passo importante para a compreensão de como o Atlântico se altera à medida que a temperatura da Terra aumenta acaba de ser dado em Fernando de Noronha. Foi lá que pesquisadores do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamepe) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começaram a investigar os efeitos das mudanças do clima no avanço do nível do mar no Nordeste. O início dos estudos foi marcado com a instalação de um marégrafo junto à costa de Fernando de Noronha, a 545 quilômetros de Recife.

A meta dos cientistas é usar os dados para fazer previsões sobre elevações no nível do mar. Serão projetados cenários para 2020, 2030 e 2050. A iniciativa é uma das ações do Projeto de Estudos das Mudanças Climáticas e seus Efeitos em Pernambuco (Muclipe), desenvolvido pelo Lamepe. De acordo com a instituição, os modelos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, órgão da ONU) são generalizados demais para indicar o que pode acontecer com o Nordeste. A região precisa de estudos mais específicos. Pernambuco é um dos estados mais vulneráveis, já que registra elevação do mar tanto no litoral sul quanto no norte.

Segundo a Coordenadora do Lamepe, Francis Lacerda, o arquipélago foi escolhido para sediar o marégrafo pela sua localização privilegiada.

– Fernando de Noronha fica em local estratégico, do ponto de vista de clima, na faixa equatorial do Oceano Atlântico tropical. A maioria dos nossos fenômenos meteorológicos se forma naquela área de convergência intertropical e de confluência dos ventos. É ali que fica uma das zonas mais importantes do Nordeste para o clima – afirma Francis Lacerda.

Ela divide a coordenação do Muclipe com o pesquisador Paulo Nobre, do Inpe, que está em Fernando de Noronha. Francis acredita que monitorar o nível do mar é uma ação estratégica para o estado, principalmente devido à vulnerabilidade da costa, marcada por avanços e erosões. A densidade populacional da costa pernambucana é a maior do país, de acordo com a Secretaria estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade.

– É nesse contexto que o Muclipe pode colaborar. Os estudos darão base para a elaboração de políticas públicas – diz a cientista.

Os dados coletados em Noronha serão introduzidos em modelos computacionais oceânicos, que simularão os cenários futuros do clima regional. Além do Inpe, o Lamepe conta com a parceria da Universidade Federal de Pernambuco, no monitoramento do oceano. A pesquisa foi aprovada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Em Pernambuco, os efeitos do aquecimento global no nível do mar preocupam outras entidades. É o caso das Sociedade Nordestina de Ecologia, que vem monitorando constantes alagamentos em pelo menos cinco bairros recifenses. Nesses bairros as ruas ficam alagadas durante as marés altas, mesmo sem registro de chuvas. No ano passado, por exemplo, os pesquisadores encontraram casas com até 25 centímetros de água no bairro do Jiquiá na ocorrência de marés altas. Segundo os moradores, no passado isso só ocorria durante chuvas fortes.

Já o Lamepe detecta assustadoras mudanças de temperatura no estado, como ocorre em Vitória de Santo Antão e Araripina. A primeira fica a 51 quilômetros do Recife, na Zona da Mata, quase inteiramente tomada pela lavoura açucareira. A região se situa entre o litoral e o agreste. A segunda, a 692 quilômetros da capital, está no sertão do Araripe, região que sofre desmatamento devido às minas de gipsita e calcinadoras de gesso.

O Lamepe observou que, em uma série histórica de meio século, as duas cidades passaram a registrar temperaturas três graus Celsius mais elevadas. Agora vai estudar os efeitos do aquecimento global no nível do mar.

Praia do Sancho - Fernando de Noronha / Foto: Patricia Patriota
Praia do Sancho – Fernando de Noronha / Foto: Patricia Patriota

Fonte: O Globo
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/paraiso-do-atlantico-dara-pistas-para-mudancas-do-clima-na-terra-3193606#ixzz1dapbQu41


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