
Aos quatro cantos, o diretor-presidente da Associação Capixaba de Desenvolvimento e Inclusão Social (Acadis), o colombiano Gerardo Bohórquez Mondragón, anuncia que é o idealizador do Modelo Pedagógico Contextualizado (MPC) – método que ele considera “único” na ressocialização de adolescentes em conflito com a lei. Aliás, foi essa “especialidade” que o credenciou para receber das mãos da diretora-presidente do Instituto de Atendimento Socieducativo do Espírito Santo (Iases), Silvana Galinna, a gestão das unidades de Cariacica e Linhares sem licitação, uma vez que o modelo “não tem congêneres”.
Após renovar convênio com o Iases, presidente
da Acadis reajustou seu próprio salário em 73%
Com carregado sotaque castelhano e demonstrando certa impaciência em falar sobre Gerardo Mondragon, o frei Hernán Londoño – que está trabalhando na gestão da Unidade Regional Sul do Iases, em Cachoeiro de Itapemirim, em parceria com o Instituto Capixaba de Integração Socioeconômica de Cidadãos (Icisec) – em vez de responder à pergunta da reportagem (Mondragon teria se apropriado inadvertidamente do método desenvolvido pelos amigonianos?), preferiu fazer outra: “A nossa Congregação [dos Religiosos Terciários Capuchinhos ] tem 124 anos, o senhor Mondragon tem cerca de 30 anos [35 anos] e trabalha há quatro ou cinco anos com esse modelo. De quem pode ser o modelo? Ele simplesmente patenteou o modelo com outro nome. Agora, tire você as suas próprias conclusões”, provocou.
O frei amigoniano disse que só existe um “Modelo Pedagógico Terapêutico”, que é o idealizado há mais de um século pelo fundador da Congregação, frei espanhol Luis Amigó y Ferrer. “Qualquer outra ‘coisa’ que surja não é apropriada”, afirmou categoricamente.
Frei Hernán conta que trabalhou durante cerca de três anos com Mondragon, quando o presidente da Acadis ainda era frei e dirigia o Centro Socieducativo Dom Luis Amigó e Ferrer, em Belo Horizonte. Ao definir a personalidade de Mondragon, frei Hernán foi sucinto: “Só posso dizer que ele era uma pessoa inquieta, nada mais”.
Quando questionado se Gerardo Mondragon estaria agindo de má-fé ao afirmar que o método é de autoria dele, frei Hernán soltou uma risada irônica: “Já disse, você pode tirar as suas próprias conclusões”.
Em entrevista concedida em abril deste ano ao jornal A Gazeta – na ocasião do lançamento do seu livro “Modelo Pedagógico Contextualizado (MPC)”, no Tribunal de Justiça do Espírito Santo –, Gerardo Mondragon conta como “criou” o modelo: “(…) Fui aprendendo a técnica e a trabalhar com adolescentes que usavam drogas ainda na Colômbia. Aos 22 anos, fui convidado a coordenar um programa no Triângulo Mineiro. Depois fui para Belo Horizonte e comecei a desenvolver meu próprio método (…)”.
Reparem que, em nenhum momento, nesta e em outras entrevistas, Mondragon cita o nome da instituição amigoniana e nem tampouco que foi frei. Sobre o fato de omitir que foi frei e ter trabalhado quase uma década na instituição, frei Hernán disse que Mondragon omite a informação “quando quer”.
Mais à frente, na mesma entrevista, Mondragon dá mais detalhes do “processo de criação” do MPC. “(…) comecei a pensar num modelo pedagógico e terapêutico para dar suporte a esses garotos, para que pudessem sair das unidades de internação e desenvolver a liberdade, além de educá-los para isso. Isso já faz sete anos. E através da experiência, íamos reformulando para melhorar o modelo. Até que implantamos isso na antiga Febem, em São Paulo. As pessoas foram percebendo a geração de uma onda de ressocialização”, resume seu método sem modéstia.
No início de setembro, em entrevista ao jornal A Crítica, de Manaus (AM) – próximo Estado que deve adotar o MPC de Mondragon –, o presidente da Acadis, que ao jornal amazonense se identificou como diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social e Educacional (Inbradese), também omitiu as informações sobre o seu passado na instituição amigoniana e sua ordenação de frei.
Observe neste trecho da entrevista como Mondragon, novamente, apresenta o modelo: “(…) o MPC não é uma teoria, mas sim uma prática socioeducativa. Ele não nasceu em uma sala de aula (…)”. Em seguida, atribui caráter sentimental à sua criação, o que dá ao modelo ainda mais pessoalidade: “(…) Tudo isso, com embasamentos filosófico, psico-pedagógico, jurídico, antropológico, psicológico e na minha vivência pessoal, porque eu fui um delinquente, um infrator e fui torturado e internado”.
Depois que Século Diário passou a denunciar indícios de que a Acadis estaria fazendo mau uso do dinheiro público para gerir as duas unidades de privação de Liberdade – CSE-Cariacica e Linhares – terceirizadas à entidade a partir de convênio com o Iases, foram vários os comentários postados por leitores que afirmaram que Mondragon teria se apropriado do modelo amigoniano.
Na matéria publicada pelo jornal amazonense A Crítica, que anuncia o convênio de Mondragon com a Secretaria de Assistência Social para assumir a gestão de uma unidade em Manaus, um leitor também escreve um comentário (http://acritica.uol.com.br/manaus/Manaus-Amazonia-Amazonas-Gerardo-Bohorquez-Mondragon-Manaus-socioeducativas_0_547145650.html) insinuando que Mondragon copiou o modelo dos amigonianos. Diz um trecho do comentário: (…) “é uma piada, infelizmente as pessoas não conhecem a realidade do cara, o MPC ele copiou dos Amigonianos (…)”
Já em Século Diário, um dos mais de 50 leitores que postaram comentários na matéria sobre a Acadis revela: “Caros leitores, o projeto MPC foi elaborado quando de uma oportunidade do Frei Gerardo Mondragon vindo para o Estado do Espirito Santo para capacitar funcionarios do IASES ao custo de R$ 500.000,00 a pedido do IASES. Lembre-se que nesta epoca ele era funcionario da congregaçao AMIGONIANOS e o projeto MPC nada mais é do que o Projeto Amigonianos praticado na colombia, com um diferencial socioterapeutico. Isso mesmo, roubou o projeto amigonianos, implementou terapia e patentiou em seu proprio nome. Bom, com um projeto desses, com a estrutura concedida (CSE) com o dinheiro que recebera e escolhendo o perfil dos jovens que iria trabalhar, e nao gostando devolveria para o estado ficam as coisas mais simples. Então para com essa de acreditar que era menino carente na colombia. Realmente o projeto é bom, mas não é do Sr. Gerardo. Além do mais, vários jovens voltam a criminalidade e retornam para outros centros do espírito santo, sob o constrangimento de nunca falarem que passaram pela ACADIS, e quando falam, rapidamente querem recrutá-lo de novo. O resultado apareceu, nao aparece mais como antes, pois a selecáo de perfil acabou. E o suicídio em Linhares, e as milhares de fugas e rebeliões”, finaliza o leitor.
Fonte : SECULODIARIO.com/ES
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