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Estudo mostra risco de incêndio na Amazônia com antecipação

Um novo método promete prever com até cinco meses de antecedência os surtos de incêndios florestais que ocorrem na Amazônia cada vez que uma seca inesperada atinge parte da floresta.

Editoria de Arte / folhapress

A nova técnica foi apresentada ontem por cientistas da Universidade da Califórnia em Irvine e do Centro Goddard da Nasa. Os pesquisadores elaboraram o método com base em medições feitas entre 2001 e 2009, analisando a influência do clima dos oceanos sobre a floresta.

O modelo de computador que os cientistas criaram conseguiu prever como oscilações no superaquecimento do Pacífico (o El Niño) estão relacionadas a secas no leste da Amazônia. Anomalias de temperatura no Atlântico, por outro lado, favorecem mais o espalhamento de incêndios no sul e sudoeste.

Fazer esse tipo de previsão é complicado porque, além de estimar quando e onde a floresta vai estar seca, é preciso saber onde agricultores vão iniciar os incêndios nas lavouras.

Quando o fogo para limpar o campo de plantio sai do controle é que a floresta começa a queimar.

SALTO DE FÉ

Segundo Yang Chien, autor principal do trabalho, a criação do novo modelo precisou de uma espécie de salto de fé dos cientistas.

“Estudos anteriores em geral separavam esse problema em dois, primeiro observando como a temperatura da superfície do mar afeta as chuvas e, segundo, como o nível de chuvas afeta a ocorrência de fogo”, diz. “No nosso estudo, decidimos combinar isso diretamente para inferir como a temperatura do mar afeta os incêndios.”

O que os pesquisadores também fizeram foi procurar correlações de longo prazo entre o clima oceânico e o florestal. O mecanismo com que essa influência se dá ainda é pouco compreendido.

“Nós sugerimos que as temperaturas oceânicas durante a estação úmida e no começo da estação seca são muito importantes para recarregar o nível de umidade do solo”, diz Chien. “Elas afetam a umidade que alimenta a chuva na estação seca.”

O trabalho dos pesquisadores, publicado nesta sexta-feira na revista “Science”, segue os passos de um estudo publicado em julho, liderado pela brasileira Kátia Fernandes, que já tinha conseguido previsões até mais precisas que as de Chien, mas apenas para o oeste da Amazônia.

Segundo Fernandes, as duas técnicas podem ajudar a aumentar a robustez dos sistemas de monitoramento do clima da região, que hoje só conseguem identificar secas violentas com três semanas de antecedência.

“No ano passado, que teve uma seca forte, o governo do Acre suspendeu as permissões de queima para os agricultores, porque o tempo já estava seco e a previsão era que continuasse assim”, conta. Com uma previsão de três meses, diz Fernandes, os governos podem antecipar o planejamento desse tipo de medida complicada.

Outros climatólogos, porém, ainda são céticos quanto à confiabilidade do método para períodos tão longos.
“Faltou os autores desse estudo trabalharem com as previsões reais, e não só com os dados coletados”, diz Alberto Setzer, coordenador do monitoramento de queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Chien, porém, afirma que o modelo conseguiu uma previsão adequada para meados de 2011. “Só não incluímos no estudo porque a estação seca ainda não tinha acabado.”

RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON


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