A empresa paulista de produtos de couro, Couroecol, desenvolveu um processo que permite utilizar o resíduo de couro na fabricação de blocos com melhor isolamento térmico e que podem substituir os blocos convencionais na construção civil, disse à Revista Sustentabilidade, Emar Garcia Junior, dono da empresa.
“Fiz um curso de curtume que me abriu a cabeça [para o problema dos resíduos]”, lembrou o empresário e arquiteto. “Aí comecei a pesquisar maneiras de aproveitar o resíduo”.
Segundo Garcia Júnior, só na cidade de Franca, um dos maiores pólos calçadistas do país, são destinados ao aterro industrial local cerca de 100 toneladas por dia de aparas e outros resíduos de couro descartados na fabricação de calçados. Este material contém 17 tipos de diferentes de produtos químicos usados no processamento do couro cru e que são destinados aos aterros. A maioria destes aditivos são nocivos ao meio ambiente e à saúde.
O chorume dos aterros que recebem os resíduos da industria calçadista e dos curtumes, portanto, carregam estes produtos químicos. Acidentes podem acontecer. Em outubro de 2006, o rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, local onde se concentra os cortumes gaúchos, foi contaminado pelo chorume dos aterros da região, provocando a mortandade de 86 toneladas de peixes. Segundo dados da Cetesb de 2005, cada tonelada de couro processado resulta em 2,4 tonladas de resíduos.
O processo desenvolvido pela Couroecol, desenvolvido com recursos próprios, consiste no trituramento de resíduos da indústria e adição de um aglutinante, que neste caso é feito à base de água e não poluente. O aglutinante já foi patenteado pela empresa. O couro vem das aparas e resíduos oriundos da fabricação de calçados, maior parte de Franca, cidade onde se concentra grande parte da indústria calçadista de São Paulo.
A massa resultado deste processo é transferida para moldes, prensada e segue para o processo de secagem, conhecido como cura.
Na prensagem convencional a água contida na massa é retirada pela alta pressão, carregando produtos químicos utilizados no processo de fabricação do couro, entre eles o cromo, o enxofre e o alumínio.
“No nosso processo, paramos de prensar antes de começar a sair água”, informou Garcia Junior, explicando que o processo visa manter alguns dos químicos, como o cromo, que dão durabilidade ao bloco. “O cromo torna o couro eterno, se você enterrar um sapato ele dura para sempre”.
Outra diferença do processo convencional de fabricação de blocos de concreto é a secagem natural ao ar livre, que evita a emissão de gases liberados na secagem industrial em fornos. O tempo de secagem dos blocos é em média sete dias, o mesmo tempo requerido na secagem dos blocos de concreto.
Segundo Garcia Junior, os blocos da Couroecol são até 50% mais leves que os blocos de concreto e são isolantes térmicos e possuem uma eficiência de 40% no isolamento acústico.
Segundo ele, ao utilizar os blocos de resíduos, o custo nas obras diminuirá, pois não será necessário fazer os acabamentos convencionais. As paredes podem receber apenas uma camada de massa acrílica para impermeabilizá-las.
O valor do bloco, feito a partir de resíduos, é o mesmo valor do bloco de concreto, ou seja cerca de R$1. Garcia Júnior disse que para produzir um bloco de 2,3 kg é necessário o mesmo peso em resíduos.
A Courecol começou a produzir os blocos há um ano e meio e, por meio de uma parceria, deve fornecer os blocos de couro para construir um refeitório de uma curtidora em Franca.
A exportação de couro brasileira alcançou em 2008 o faturamento de US$ 1,88 bilhões. Os maiores estados exportadores do material são Rio Grande do Sul e São Paulo, que respondem por 30 e 27% respectivamente do faturamento.
A indústria de couro também gera um grande volume de resíduos, efluentes líquidos e poluentes gasosos. Segundo dados da Cetesb de 2005, cada tonelada de couro processado resulta em 2,4 toneladas de resíduos sólidos, 120 metros cúbicos de efluentes líquidos e 160 quilos de poluentes atmosféricos, em média.
Os próximos passos são obter certificações que comprovem que o produto final é limpo e buscar uma forma de gerar créditos de carbono com o processo, disse Garcia de Souza.
“As minhas expectativas são as melhores, pois o déficit habitacional é alto e eu ofereço um produto com menor custo”.
Fonte : Luís Paulo Roque / Revista Sustentabilidade
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