Não se sabe ainda o tamanho dos estragos causados pelo fogo. Mas será preciso, mais do que nunca, contar com a capacidade de renovação do cerrado. Em dois dias de intensa queimada, o cenário, ontem, era desolador no Jardim Botânico, na Floresta Nacional e na Reserva da Aeronáutica, palcos dos maiores incêndios do ano no DF. Aviões especializados no combate a incêndios entraram em operação e 274 pessoas — militares, brigadistas e voluntários — trabalhavam incessantemente na tentativa de conter as chamas.
A Flona 1 amarga redução de mais de 65% da vegetação, o que corresponde a quase 2 mil hectares, conforme estimativa feita após sobrevoo. Os 21 brigadistas da floresta não conseguiram evitar que o incêndio, iniciado na quarta-feira, se alastrasse e assumisse grandes proporções, mesmo tendo trabalhado madrugada adentro. Ontem, pelo menos 100 homens do Corpo de Bombeiros e 15 brigadistas cedidos pelo Parque Nacional percorreram os 3.353 hectares da vegetação e atuaram em conjunto com funcionários da floresta e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. A baixa umidade e o vento complicaram o trabalho no meio da manhã. No fim da tarde, uma língua de fogo consumia uma colina do outro lado do Ribeirão das Pedras.
As estradas de terra que recortam a área da Flona apontam encostas completamente queimadas, sob um manto de fumaça. Cálculos de biólogos da reserva mostram que o fogo pode ter atingido a velocidade de até 10 metros por minuto. A maior preocupação é impedir que as labaredas ultrapassem os limites da Flona e atinjam as estruturas da sede, como o Centro de Triagem de Animais Silvestres, abrigo de animais exóticos apreendidos no DF. “Estamos tentando preservar nascentes e impedir que outras áreas da floresta e do Parque Nacional sejam atingidos”, comentou a diretora da reserva, Miriam Ferreira. A brigada de incêndio continua acampada no local e deve continuar os trabalhos hoje. A Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) e o Serviço de Limpeza Urbana colaboraram com o envio de seis caminhões-pipa.
O rápido avanço das chamas no Jardim Botânico, na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília e na Reserva do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mereceram atenção especial dos órgãos envolvidos na contenção dos focos. O escritório do diretor do Jardim Botânico, Jeanitto Gentilini, se tornou a base das operações dos bombeiros e de brigadistas do PrevFogo, organismo de combate a incêndios do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e do Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “É muito difícil conter os incêndios, já que continuamos lidando com condições climáticas desfavoráveis. Além disso, o fogo chegou a lugares de difícil acesso”, disse o comandante da operação, coronel Luiz Blumm.
TRABALHO em EQUIPE
A estratégia de combate ao fogo foi organizada a partir de um sobrevoo pela área, no qual foi possível detectar rotas de acesso às regiões mais críticas. Na quinta-feira, o desconhecimento da área afetada pelo fogo — que espalhou cinzas e fumaça por todo o Lago Sul — dificultou o trabalho das brigadas. Agora, Jardim Botânico e Corpo de Bombeiros prometem trabalhar juntas para facilitar as operações em uma situação de emergência. “Vamos montar um banco de dados, com informações sobre vias de acesso e locais de captação de água para facilitar ações futuras”, disse Gentillini. Além dos 150 homens, dois helicópteros e quatro aviões deram suporte à ação.
O incêndio na Reserva da Aeronáutica caminhou para mais perto das pistas do Aeroporto Internacional de Brasília. A redução da visibilidade obrigou pilotos a pousar e decolar com a ajuda de instrumentos. Hoje, um avião C-130, com capacidade para 12 mil litros de água por voo, auxiliará os trabalhos.
Por volta das 22h, o Corpo de Bombeiros informou que os incêndios na Flona e na Reserva da Aeronáutica haviam controlado.
Fonte : CORREIO BRAZILIENSE _ Ariadne Sakkis
Deixe um comentário