Contrariando as expectativas, tudo indica que a Conferência das Partes de Durban (COP17), que termina nesta sexta-feira (9), vai conseguir chegar a um acordo sobre o futuro das políticas climáticas mundiais.
Durante as duas semanas de negociações, a União Europeia (UE) buscou ganhar apoio para seu roteiro de ações que propõe a elaboração de um novo acordo climático até 2015, que seria ratificado em 2020. Esse tratado obrigaria todas as nações a terem metas de redução de emissões de gases do efeito estufa, mesmo que de forma diferenciada para cada uma. A proposta também engloba a continuidade do Protocolo de Quioto até 2020.
Aos poucos os europeus foram vencendo as resistências de outros países e nesta quinta-feira (8) os Estados Unidos declararam que apoiam a proposta, o que pode significar a sua aprovação.
O discurso do negociador chefe da delegação norte-americana, Todd Stern, foi precedido pela intromissão de Abigail Borah, que entrou na COP17 como representante do Movimento Internacional da Juventude Climática e disparou: “Estou falando em nome dos Estados Unidos porque os meus negociadores não conseguem. O Congresso já atrasou muito as políticas climáticas do meu país e tenho medo de que 2020 será tarde demais. Precisamos de um acordo justo e ambicioso agora!”
Abigail acabou sendo removida do plenário pelos seguranças, mas pode ter provocado Stern a ser mais agressivo em seu discurso.
O negociador começou detalhando as ações que os EUA vêm promovendo para mitigar o aquecimento global e como está se comprometendo em ajudar a financiar o Fundo Climático Verde.
“Assim, é um erro sugerir que os EUA são um obstáculo às políticas climáticas ou que estamos adiando a tomada de decisões”, afirmou.
A grande surpresa veio quando Stern defendeu a proposta europeia, que muitos acusam ser apenas uma manobra para adiar a entrada em vigor de um acordo com metas de emissões.
“É sem sentido afirmar que a proposta dos europeus é um hiato entre hoje e 2020. O roteiro sugere muitas ações e conta com o apoio dos Estados Unidos”, declarou Stern.
Até agora, os norte-americanos estavam sendo indiretos e não afirmavam abertamente que concordavam com a proposta.
A quinta-feira também viu o Brasil assumir que aceita o plano europeu e que está de acordo com a ideia de ter metas obrigatórias a partir de 2020, se isso garantir a continuidade do Protocolo de Quioto.
“O Brasil trabalha com afinco para a adoção de um segundo período de compromisso para o Protocolo de Quioto e o fortalecimento da implementação da convenção [da ONU] no curto, médio e longo prazos. Se todos trabalharmos juntos, poderemos negociar o mais cedo possível um novo instrumento legalmente vinculante sobre a convenção, baseado nas recomendações da ciência, que inclua todos os países para o período imediatamente pós 2020”, disse a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira.
“O Protocolo de Quioto é nosso bem maior para assegurar um forte regime de mudança do clima. Durban é nossa última oportunidade de evitar essa lacuna. Devemos adotar o segundo período de cumprimento até o final desta semana”, alertou a ministra.
A Índia, que estava sendo acusada de bloquear as negociações, divulgou que está de acordo com a China, aceitando o plano europeu desde que algumas condições sejam garantidas. Entre as reivindicações estão a liberação imediata dos primeiros recursos para ações de mitigação e adaptação climática, o estabelecimento o quanto antes de um mecanismo de transferência de tecnologias limpas e a continuidade do Protocolo de Quioto.
Mesmo as nações mais vulneráveis às mudanças climáticas, como a Aliança dos Pequenos Estados Insulares e os países africanos, estão apoiando o roteiro europeu, mas apresentam o mesmo tipo de condições que a Índia e a China para darem sua aprovação.
Entre os países ricos, o Japão parece concordar com a UE, mas não quer participar do segundo período de Quioto e exige que os debates sobre o acordo climático pós 2020 comecem o mais rápido possível. A Austrália afirmou que assinará o documento na COP17 se os outros grandes emissores fizerem o mesmo. Apenas o Canadá ainda não deixou claro sua posição.
Contando com tanto apoio, os ministros europeus comemoram o sucesso de sua proposta.
“Acreditamos que 120 dos 193 países representados na COP17 estão de acordo com o roteiro que sugerimos”, declarou Chris Huhne, secretário de mudanças climáticas do Reino Unido.
A conferência deve se estender até tarde da noite desta sexta-feira (9), mas os discursos parecem estar se alinhando para aprovar o roteiro europeu.
Fonte: Instituto Carbono Brasil

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