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Água, ar, terra e veneno

Seis casos de contaminação – inclusive no Brasil – mostram como nossas tentativas de garantir mais energia, alimentos e infraestrutura estão deixando um rastro de contaminação e mortes

Em 2050 o mundo terá 9,5 bilhões de habitantes. Serão 46% mais pessoas no mesmo espaço e os mesmos recursos de hoje. Sentiu o aperto aí? Calma, a humanidade está empenhada em resolver a situação. Temos gente procurando novas formas de energia. (Precisamos mais que dobrar o total produzido para que não haja apagão em 2030.) Cientistas buscam recursos que façam sementes render mais, já que só um aumento de 70% no volume de comida dará conta de alimentar todos nós. E tem gente preocupada com a infraestrutura acelerando a produção de aço, ferro e materiais que construirão carros, casas, computadores.

Ufa, estamos salvos. Isso se os esforços funcionarem. Mas, na busca por melhorar a situação, algumas empreitadas têm piorado a vida de muita gente. Substâncias químicas e tóxicas vêm contaminando água, ar e solo de comunidades vizinhas a esses projetos, provocando – na maioria das vezes silenciosamente – doenças e mortes. “Em energia, por exemplo, só acessamos novas fontes com métodos desafiadores e de risco. Já consumimos o que estava fácil”, diz Michael Klare, professor de segurança mundial da Universidade de Hampshire. O resultado é que até beber água virou perigo em alguns lugares. Em outros – como o Rio de Janeiro -, nem respirar pode ser seguro.

AR
Rio de Janeiro – BRASIL, 2010
Em dezembro de 2010, 6 mil casas no bairro Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro, ficaram cobertas por uma fuligem prateada. A nuvem veio da CSA, siderúrgica vizinha ao bairro que recentemente tinha expandido a produção. Os detritos gerados na unidade, descartados a céu aberto, produziram a nuvem, que encheu o ar de materiais como grafite. Nos dias seguintes, moradores da região relataram problemas respiratórios, como bronquite e asma, e alergias. Algumas das consequências poderão ser conhecidas só no futuro. “Uma poluição assim pode até aumentar a incidência de câncer”, diz Helena Ribeiro, coordenadora da Faculdade de Saúde Pública da USP. A CSA foi multada pela prefeitura em R$ 2,8 milhões e gastará R$ 14 milhões em melhorias no bairro afetado.

ÁGUA
Pensilvânia, Colorado, Utah, Wyoming – EUA , 2008-2011
Fazer a água da torneira pegar fogo daria um belo passe de mágica – não fosse real em algumas casas dos EUA. Aconteceu em estados como a Pensilvânia, ricos em gás natural, nova fonte de energia queridinha dos EUA. Em 2008, o país descobriu a real extensão da reserva de gás sob seu solo: 23 trilhões de metros cúbicos, o suficiente para abastecer sua população por mais de um século. O estoque recém-descoberto transformou o gás em altertativa ao petróleo. E se encaixou na política de energias verdes de Obama (o gás é considerado mais limpo do que fontes com carvão). Parecia uma história com final feliz. Até que moradores das áreas exploradas começaram a reclamar do gosto ruim e da cor que saía da água dos poços. E até que alguém viu o perigo que era acender um isqueiro perto de uma torneira.

Nessa mesma época, aumentou o registro de dores de cabeça e doenças graves, como câncer, nas regiões exploradas. A agência de proteção ambiental dos EUA investigou – e encontrou elementos tóxicos como benzeno e vanádio, cancerígenos, na água das comunidades. A mudança na água e os sintomas relatados por moradores das áreas de exploração foram registrados pelo documentário Gasland, indicado ao Oscar em 2011.
A indústria de gás negou relação entre a exploração e os relatos da população. Mas não dissipou os temores. O estado de Nova York, vizinho da Pensilvânia, suspendeu por meses a exploração de gás em seu território e pediu estudos de especialistas, temendo a contaminação da água da maior cidade do país. Até o presidente Obama se preocupou.”Precisamos garantir que a extração do gás natural seja feita com segurança”, discursou em março.

Lucas do Rio Verde – MATO GROSSO , 2010
O município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, é um dos maiores produtores de milho e soja do país. Cresce em torno de 10% por ano movido pelo agronegócio. O que também aumenta o uso de pesticidas.

Fonte: Planeta Sustentável

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