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Agrotóxicos e transgênicos: crescimento simultâneo

Na reportagem de capa da nova edição de Unesp Ciência, abordamos o complexo debate que envolve a pesquisa e a produção de organismos geneticamente modificados (OGMs), ou transgênicos, no Brasil. Em menos de uma década, nos tornamos o segundo país com maior produção desse tipo de produto, em termos de extensão de área semeada. As raízes para este crescimento são muitas, e incluem fatores políticos, comerciais e científicos.

Acabamos não detalhando muito bem, no entanto, o crescimento concomitante no Brasil do uso de defensivos agrícolas. Somos, desde 2010, os campeões mundiais no uso de agrotóxicos, com uma média de mais de 5 kg para cada brasileiro por ano. Dois dos pesquisadores entrevistados por nossa reportagem, Paulo Kageyama, da Esalq/USP, e Rubens Nodari, do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, sugerem que os dois crescimentos estão relacionados.

“Em 2001 no Brasil se usou o equivalente a 2,7 kg de agrotóxicos por hectare cultivado. Em 2010, foram cerca de 5 kg. Neste período cresceu a área cultivada com soja e milho transgênicos. Ou seja, é de se supor que, ao menos indiretamente, esses produtos estão causando problemas, na medida em que estão causando aumento do uso de agrotóxicos”, diz Nodari.

Um fenômeno parecido ocorreu nos EUA. Embora o programa nacional que monitorava o uso de defensivos agrícolas no país tenha sido desmantelado pelo governo Bush, uma pesquisa independente do pesquisador americano Charles Benbrook. Com base em dados do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) do período entre 1996 (ano em que foram introduzidas no mercado americano as primeiras sementes transgênicas) e 2004, ele revelou um acréscimo de 55 mil toneladas de agrotóxicos nas lavouras daquele país.

Nos EUA, os agricultores de algodão, soja e milho já se deparam com outro problema. Nessas culturas, a maior parte dos produtores recorrem a sementes geneticamente modificadas, dotadas de um gene que lhes confere resistência a um defensivo chamado glifosato – desenvolvido originalmente pela Monsanto sob o nome comercial de Round Up, hoje já pode ser adquirido também de outras companhias. Acontece que já surgiram pragas que apresentam algum grau de resistência ao glifosato. O resultado é que os agricultores estão sendo obrigados a elevar a quantidade do defensivo aplicada e, em certos casos, estão recorrendo a outras variedades de agrotóxicos.

No levantamento de Benbrook, por exemplo, ele notou que em 1994 foram aplicadas no país cerca de 3,6 mil toneladas de glifosato, número que saltou para quase 54 mil toneladas em 2005.

Preocupada com o impacto que o surgimento dessas novas pragas resistentes pode ter sobre seus produtos, a Monsanto já chegou a subsidiar os gastos de agricultores americanos da área de algodão com defensivos adicionais. E está investindo no desenvolvimento de novos OGMs que sejam resistentes a outros pesticidas. Pelo mesmo caminho então seguindo outras gigantes do setor de biotecnologia agrícola. A alemã Bayer já oferece sementes de algodão e soja resistentes ao glufosinato, um novo produto que chegou para disputar o mercado.

Kageyama chama a atenção para a trajetória que levou à imbricação entre transgênicos e agrotóxicos. “Isso é o resultado do ponto de vista de que o único caminho para aumentar a produtividade agrícola passava pelo desenvolvimento do agrotóxico. Antes as áreas de sementes e de produção de agrotóxicos eram distintas. Agora a meia dúzia de empresas que domina o mercado de agrotóxicos domina também o de produção de sementes geneticamente modificadas”, diz.

UNESPCIÊNCIA
por PABLO NOGUEIRA

http://www2.unesp.br/revista/?p=4332

 

Aplicação de Round-Up em campo de soja transgênica. Crédito: Greenpeace.org
Aplicação de Round-Up em campo de soja transgênica. Crédito: Greenpeace.org

 


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