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Foto: Ric Milk/ Ilustração

Lendas pantaneiras têm de ‘Minhocão’ que vira barcos para devorar pescadores até ‘Pai do Mato’ que protege a região

As lendas e mitos são inspiradas pelas influências que a região recebeu em sua ocupação, transmitidas de geração em geração – principalmente de forma verbal – e tem um papel importante para a formação da cultura local.

Ilustração do que seria o minhocão — Foto: Ric Milk/ Ilustração
Ilustração do que seria o minhocão — Foto: Ric Milk/ Ilustração

Por Débora Ricalde, via G1 MS

Entre os destaques da novela Pantanal, que começou na segunda-feira, são duas lendas criadas pela ficção, a do “Velho do Rio”, um guardião da região que se transforma em sucuri, e a da “Maria Marruá”, a mulher que vira onça.

O Pantanal da vida real, entretanto, tem suas próprias lendas. São inspiradas pelas influências que a região recebeu em sua ocupação, transmitidas de geração em geração — principalmente de forma verbal – com um papel importante para a formação da cultura local.

“Essas narrativas míticas são construídas dentro de uma comunidade e, após um tempo, acaba, se perdendo dentro da memória da população. Algumas dessas histórias são contadas a partir de algo real que carregam consigo o propósito de alertar para o perigo ou até mesmo explicar um fato ‘inexplicável’”, afirmou o professor e antropólogo, Álvaro Banducci.

Minhocão

Uma das principais lendas pantaneiras é do minhocão. Seria um tipo de serpente, com focinho de porco, chifre e pele tão grossa que pareceria a casca de uma árvore. O monstro viveria nos rios da região e viraria os barcos de pescadores para se alimentar deles.

“Eu escutei aquela água tremer, virei e vi mais ou menos um metro de ponta, igual focinho de porco jogando água, só pensava ‘meu Deus do céu’”, afirma o pescador Paulo Fernandes em um documentário feito pela Fundação de Cultura do estado (FCMS), em 2016, sobre a lenda pantaneira.

Outro ribeirinho que jura que viu o “monstro” e sobreviveu para contar a história é Quito Picolomoni. Ele também deu depoimento ao documentário.

“Eu fui atravessando o rio com a minha família toda, aí quando chegamos perto ele levantou e abriu a boca. Era um monstro de bicho sua pele parecia um pé de carandá. Ele afundou, passou por baixo da canoa e foi embora”, recorda assustado.

Pé-de-garrafa

Outra estória que ainda hoje assusta os moradores do bioma é o do “Pé-de-Garrafa”. Seria um monstro “bicho-homem”. Segundo os pantaneiros, a lenda é de um homem com o corpo coberto de pelos, menos na região do umbigo, que possui apenas um pé no formato de garrafa e solta assobios que servem para demarcar o território.

O monstro devido o formato dos seus pés, se locomoveria com pulos, deixando no chão um rastro com marca de fundo de garrafa.

Ilustração do mito do Pé-de-garrafa — Foto: Alberto Filho/Ilutração
Ilustração do mito do Pé-de-garrafa — Foto: Alberto Filho/Ilustração

Com o alto assovio, ele hipnotiza quem tenta invadir seu território e, como consequência, quem faz isso é levado para o seu covil, onde acaba por ser devorado.

O Pai do Mato

Outro ser, que, segundo o imaginário pantaneiro, viveria na região é o “Pai do Mato”. Ele seria encarregado de guardar as matas e protegê-las de qualquer interferência que altere a ordem das coisas e, principalmente, que venha de quebrar o silêncio da noite.

Um indicativo da presença do “Pai do Mato”, conforme a lenda, é um forte grito que ecoa pelas matas. A estória alerta ainda que esse grito não deve ser respondido, caso contrário, a pessoa corre o risco de sofrer uma espécie de confusão mental e se perder em meio a vegetação.

Ilustração da lenda pantaneira Pai-do-Mato — Foto: Clube Brasileiro de Trens Fantasmas/Ilustração
Ilustração da lenda pantaneira Pai-do-Mato — Foto: Clube Brasileiro de Trens Fantasmas/Ilustração

Outras lendas do estado

Além da região pantaneira, Mato Grosso do Sul tem ainda muitas lendas difundidas entre a população de outras partes do estado. Entre as principais estão:

Senhorzinho

Conhecido pela bondade e o “dom da cura”, a lenda Senhorzinho apareceu na década de 40 na região de Bonito, polo de ecoturismo do estado. Segundo a tradição oral, ele seria um profeta mudo, que foi perseguido devido a suas “curas” desbancarem os farmacêuticos do local. Teria sido capturado, preso e morto dentro do município.

“O Senhorzinho é uma personalidade histórica e uma de suas lendas se resume a história da cobra que está presa em uma caverna na cidade de Bonito. Quanto mais essas histórias vão se acumulando ao redor dele, mais se reforça essa ideia de ‘sagrado’”, afirmou o professor ao g1MS.

Manchete publicada no jornal de Bonito, em 1995 — Foto: Documentário Mestre Divino/ Geisiany de Andrade e Kemila dos Santos

Cobra da Serra Limpa

Relacionada ao Senhorzinho está outra lenda da região de Bonito, a da “Cobra da Serra Limpa”. O monstro teria sido trancado pelo curandeiro em uma gruta no alto da Serra Limpa e se um dia o ser for libertado pode atacar a cidade.

“Essas narrativas que cercam o Senhorzinho é o que podemos chamar de lendas. Existem outras como a dele ter sido decapitado e, depois de jogarem sua cabeça no rio, saiu vivo do outro lado ou mesmo a que ele estava na cadeia e saiu flutuando durante a noite pela prisão. Ninguém sabe como ele morreu, mas essas lendas fazem ele ser sempre parte de um acontecimento milagroso e excepcional”, diz o antropólogo.

Sinhozinho era conhecido por suas veste simples e sempre deixar uma cruz como forma de benção. — Foto: Documentário Mestre Divino/ Geisiany de Andrade e Kemila dos Santos

A sandália de Frei Mariano

Quem já percorreu a região de Corumbá ou “Capital do Pantanal”, como também é conhecida, sabe a velha lenda de uma sandália escondida que impediria a cidade de evoluir. Muito conhecido, o mito é um dos mais importantes para a história da região.

“Frei Mariano foi muito importante para Corumbá, porém ao entrar na política criou desavenças e acabou sendo expulso da cidade e, a lenda que ronda a personalidade é que o Frei tenha enterrado a sandália em algum lugar do município, dizendo que a cidade só iria se desenvolver se a encontrassem”, disse o antropólogo.

Corumbá: a cidade que guarda a lenda de Frei Mariano — Foto: Anderson Viegas/g1 MS
Corumbá: a cidade que guarda a lenda de Frei Mariano — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

Entre mitos e verdades, o bioma Pantanal carrega uma vasta representatividade de fauna e flora, onde os animais são únicos, assim como a comunidade e a culinária típica. Na nova novela da Rede Globo, alguns desses costumes são apresentados em uma trama que garante emoção e também destaque para as belezas da região.

Conheça algumas curiosidades da planície alagada

Presente em dois estados do Centro-Oeste brasileiro, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, o Pantanal também avança por parte do território do Paraguai e da Bolívia. Clique aqui e veja algumas curiosidades da vida da maior planície alagável do mundo, Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco.

Dia do Pantanal: conheça 5 curiosidades sobre o maior berço da biodiversidade brasileira — Foto: REM/MT
Dia do Pantanal: conheça 5 curiosidades sobre o maior berço da biodiversidade brasileira — Foto: REM/MT

Saiba sobre a rotina dos pantaneiros

A vida pantaneira segue um ritmo próprio. As regras são ditadas pelas fases da lua, pelo ciclo de vida dos animais e pelas águas. Para chegar aos locais mais afastados, onde as pessoas vivem ilhadas, é necessário seguir pelo curso do rio por horas.

Pantaneiros dividem como é a experiência de viver isolados em meio a maior planície alagável do planeta  — Foto: Edemir Rodrigues/ Reprodução
Pantaneiros dividem como é a experiência de viver isolados em meio a maior planície alagável do planeta — Foto: Edemir Rodrigues/ Reprodução

Culinária do Pantanal é simples, rústica e tem aproveitamento integral dos alimentos

Para aguentar a “lida” diária ao acordar, o pantaneiro típico não abre mão do chimarrão, bebida trazida do sul do país, feita com água quente despejada em uma cuia com erva-mate. Depois, ainda na madrugada, vem a primeira refeição.

O tradicional quebra-torto. O prato une arroz carreteiro feito com carne de sol, ovo, farofa e ainda outros alimentos do dia anterior. Ainda no desjejum, o pantaneiro ingere uma bebida em busca de mais energia e disposição para o trabalho, uma mistura de água e guaraná em pó.

Para aguentar o dia inteiro de trabalho, sob o sol, o pantaneiro precisa de bastante energia e hidratação. Confira quais sãos os principais pratos do pantaneiro.

Arroz com bochecha de boi é servido em reuniões entre peões. — Foto: Reprodução/LunaGarcia
Arroz com bochecha de boi é servido em reuniões entre peões. — Foto: Reprodução/LunaGarcia

Pantanal tem animais que ‘brilham’ aos olhos

Pesquisador explica que as condições geológicas do território – planície alagada – possuem condições favoráveis à adaptação destes e tantos outros animais, os quais são considerados símbolos desta região.

Entre os principais animais estão a Onça-pintada, o Tuiuiú, Ariranha, Arara-azul, Cervo-do-pantanal e Jacarés.

Profissional registrou jacarés no fim de tarde no Pantanal de MS — Foto: Luiz Mendes/Arquivo Pessoal
Profissional registrou jacarés no fim de tarde no Pantanal de MS — Foto: Luiz Mendes/Arquivo Pessoal

Fonte: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2022/04/01/lendas-pantaneiras-tem-de-minhocao-que-vira-barcos-para-devorar-pescadores-ate-pai-do-mato-que-protege-a-regiao.ghtml


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