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Desmatamento na Amazônia aumenta em novembro e Pará com mais áreas desmatadas Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

Ex-autoridades de clima dos EUA exortam Biden a pressionar Brasil por desmatamento na Amazônia

Em carta, quadros de governos republicanos e democratas sugerem cúpula sobre o tema e vinculação de acordos comerciais à preservação

Desmatamento na Amazônia aumenta em novembro e Pará com mais áreas desmatadas Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace
Desmatamento na Amazônia aumenta em novembro e Pará com mais áreas desmatadas Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

por Lisa Friedman, do New York Times

WASHINGTON — Durante a campanha presidencial dos Estados Unidos, o agora presidente Joe Biden defendeu que os Estados Unidos criassem um fundo de US$ 20 bilhões (R$ 109,2 bilhões) para interromper a destruição da Floresta Amazônica e impusesse “consequências econômicas significativas” caso o desmatamento persistisse. Na última sexta-feira, uma coalizão bipartidária de sete ex-secretários de governos anteriores e negociadores na área climática defendeu em uma carta endereçada a Biden e à vice-presidente Kamala Harris que a medida seja levada adiante.

A proposta de Biden na época não foi bem recebida pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, alinhado ao populismo conservador. Bolsonaro respondeu pelo Twitter com letras maiúsculas que “NOSSA SOBERANIA NÃO É NEGOCIÁVEL”, argumentando que o governo brasileiro não aceitaria mais “suborno, demarcações criminosas ou ameaças infundadas”.

Na carta, o grupo defendeu o que chamou de “Plano de Proteção da Amazônia”, voltado para verbas, acordos comerciais, regulações financeiras e comprometimentos por parte de corporações. O objetivo do movimento é dar forma às promessas de campanha de Biden e a uma diretriz anunciada pelo Departamento de Estado na última quarta-feira para proteger o bioma.

— A Floresta Amazônica é absolutamente essencial para o mundo. Ela equilibra o clima da Terra e a ocorrência de chuvas, sustenta várias dezenas de milhões de pessoas e é morada de uma vida selvagem mais abundante do que em qualquer outro lugar do planeta — disse Bruce Babbitt, ex-governador do Arizona e secretário do Interior durante o governo Bill Clinton (1993-2001).

“O Congresso e o povo americano têm um longo histórico de apoio à conservação da Amazônia. É algo inspirador e concreto que eles podem apoiar”, diz trecho da carta endereçada a Biden e Harris.

Cúpula pela Amazônia

Entre os signatários, estão dois ex-diretores da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos EUA que atuaram em governos republicanos, Christine Todd Whitman e William Reilly; Todd Stern, enviado especial para as mudanças climáticas no governo Barack Obama entre 2009 e 2016, Tim Wirth e Franko Loy, subsecretários de Estado para Assuntos Globais na administraçao Clinton; e Stuart Eizenstat, que liderou a delegaçao americana nas negociações do Protocolo de Kyoto, em 1997.

A coalizão tem exortado Biden a convocar uma cúpula na Casa Branca para pressionar líderes corporativos a ajudarem no financiamento da redução de pelo menos 1 bilhão de toneladas de gases causadores do efeito estufa na Amazônia até 2025. Eles também sugeriram ao presidente americano que amplie esforços de troca da dívida externa de países da região amazônica pela conservação ambiental local, além de reforçar negociações com estes governos.

O cerne da proposta consiste em tornar acordos comerciais peças-chave para a prevenção do desmatamento e para corrigir brechas em leis criadas para impedir crimes ambientais no exterior. Companhias já são proibidas de importar madeira de origem ilegal. Mas a medida ainda não se aplica para o gado, soja ou outras commodities agrícolas que podem ser criadas ou cultivadas em áreas desmatadas ilegalmente.

— Nós estamos criando indiretamente um incentivo financeiro para que criminosos incendeiem a Amazônia e convertam essas terras em pastos — disse Nigel Purvis, ex-negociador para o clima dos EUA e CEO da Climate Advisers, uma entidade voltada para a agenda climática baseada em Washington.

Reduzir desmatamento é prioridade

Um dos porta-vozes de John Kerry, o enviado internacional para o clima do governo Biden, afirmou que a proteção da Amazônia “será um elemento importante da diplomacia climática dos EUA” e que a equipe de Kerry convocará especialistas em desmatamento.

Em uma carta endereçada a Biden no último dia 20, Bolsonaro disse esperar que o Brasil e os EUA iniciem um acordo comercial — depois de repetir durante semanas as alegações infudadas de fraude eleitoral disseminadas pelo seu aliado próximo, o então presidente Donald Trump.

Para Babbitt, “garantias ambientais significativas em acordos comerciais” podem ser o caminho mais importante para reduzir o desmatamento. Cientistas alertam há anos que qualquer expectativa de evitar o aumento da temperatura global a níveis catastróficos deve passar pela recuperação das florestas mais degradadas do mundo, principalmente a Amazônia.

Sob Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia brasileira atingiu um recorde no ano passado, quando 11.088 km² de área de floresta foram derrubados, segundo dados do sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados em novembro.

Thomas Shannon, embaixador dos EUA no Brasil entre 2010 e 2013, disse que a pressão sobre Bolsonaro não funcionará sozinha.

— O Brasil não se intimidará — alerta Shannon. — (O desafio de Biden) É construir uma diplomacia que convença o Brasil de que há motivos para que ele se engaje novamente no cenário global.

O Globo: https://oglobo.globo.com/mundo/ex-autoridades-de-clima-dos-eua-exortam-biden-pressionar-brasil-por-desmatamento-na-amazonia-24863215


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