Por Wanderley Preite Sobrinho| Uol São Paulo

A disputa em torno de qual vacina contra a covid-19 será adotada pelo Brasil é agravada por uma indefinição: como e com que dinheiro o país vai se estruturar para armazenar, distribuir e aplicar em massa as doses na população.
No Instituto Butantã — responsável pelo desenvolvimento da Coronavac em parceria com a China — e na Fiocruz, que fabricará no Brasil a vacina de Oxford, ninguém fala sobre o assunto. A recomendação é procurar o PNI (Programa Nacional de Imunização), ligado ao Ministério da Saúde.
A pasta limita-se a dizer que o “Brasil possui um dos maiores e melhores programas públicos de imunização do mundo”, com distribuição de “mais de 300 milhões de doses”. “O sistema já está preparado para isso, com toda a expertise conquistada ao longo dos 47 anos do PNI.”.
“Essa logística deveria ter sido desenvolvida para ontem”, afirma Natália Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência). “Mas não há comunicação do ministério com a comunidade científica e com a população. Ninguém sabe o que está sendo feito.”.
Vacinas em teste no Brasil
Vacina de Oxford | Coronavac | Vacina da Pfizer e BioNTech | Vacina da Janssen | |
---|---|---|---|---|
Origem | Reino Unido | China | Estados Unidos e Alemanha | Bélgica |
Contrato ou intenção de compra assinado | Sim | Sim | Não | Não |
Quem coordena testes no Brasil | CRIE – Unifesp | Instituto Butantan | Cepic e Instituição Obras Sociais Irmã Dulce | Cepic |
Voluntários no Brasil | 10.000 | 13.000 | 3.100 | 7.560 |
Voluntários no Mundo | 50.000 | 50.000 | 44.000 | 60.000 |
Locais de testes no Brasil | SP, RJ, BA, RS e RN | SP, RS, MG, PR, RJ e DF | SP e BA | SP, RJ, RS, PR, MG, BA, RN, DF, MT, MS e SC |
Fase atual | Estudo clínico de eficácia | Estudo clínico de eficácia | Estudo clínico de eficácia | Em pausa |
Próxima fase | Aprovação da Anvisa | Aprovação da Anvisa | Avaliação da Anvisa | Em definição |
Doses necessárias | 1 | 2 (com intervalo de 14 dias) | 2 | 1 |
Refrigeração
Entre os cuidados listados no Guia para a Qualificação de Transporte de Produtos Biológicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), estão a manutenção da temperatura estipulada pelo fabricante e a proteção da luz.
As vacinas também não podem ser congeladas, sob risco de perderem eficácia, alerta Daniela Cristina da Silva, professora do ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade): “A temperatura de controle deve estar entre 2° C e 8° C”.
Há imunizantes, porém, como o da Pfizer-BioNTech, que precisam ser mantidas entre -20º C e -70º C, temperatura alcançada apenas por refrigeradores de laboratório.
“Independentemente da vacina, como será o transporte para regiões remotas do Brasil, às vezes sem acesso constante à eletricidade? Esse planejamento depende do governo federal.” Natália Pasternak, presidente do IQC.
Nos Estados Unidos, a gigante de transportes UPS (United Parcel Service) está construindo super-refrigeradores com capacidade para abrigar 600 refrigeradores. Cada um deles pode armazenar 48 mil frascos de vacina a até -80ºC.
Transporte
Os problemas enfrentados no transporte das vacinas vão desde armazenamento inadequado a atrasos em despachos aduaneiros, quebra de veículos, acidentes em rodovias ou greves em portos e aeroportos. As caixas térmicas podem sofrer avarias ou funcionários manusearem a carga inadequadamente.
“Para resolver, é preciso monitorar a temperatura durante todo o trajeto, considerando os piores itinerários escolhidos por meio de uma avaliação de risco”, diz Silva, do ICTQ, que recomenda que todo o percurso seja supervisionado por farmacêuticos.
Segundo o guia da Anvisa, não há obrigatoriedade de que o transporte terrestre seja feito por caminhões refrigerados. As soluções mais econômicas são maletas ou caixas térmicas, termômetros digitais ou infravermelhos e etiquetas térmicas que monitoram a temperatura.
“Se o governo federal não dispuser de transporte suficiente, será preciso ver se juridicamente é possível firmar convênios com a iniciativa privada”, diz Pasternak. “Temos empresas frigoríficas aparelhadas para ajudar.”.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) se juntaram para arrecadar dinheiro para a compra de insumos e seringas e para o transporte da futura vacina a diversos países do mundo.
“Vacinar o mundo contra a covid-19 será um dos maiores empreendimentos em massa da história, e é preciso agir tão rápido quanto a produção de vacinas.” Henrietta Fore, diretora geral do Unicef.
Já o transporte das vacinas deverá ser feito preferencialmente por avião, recomenda a OMS, que teme que falte dinheiro para a distribuição: ela precisará de US$ 38 bilhões (R$ 213,24 bi), mas tem em caixa até agora apenas US$ 4 bilhões (R$ 22,4 bi).
Segundo a empresa de logística DHL, 15 mil voos podem ser necessários para que a vacina chegue ao mundo todo, um gargalo que precisará ser equacionado.
Na União Europeia, Bruxelas enviou uma lista de “deveres” que governos terão de implementar para garantir que seus serviços de saúde estejam preparados para a operação.
UOL https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/10/24/covid-19-coronavac-vacinacao-china-sus-transporte-armazenamento-vacina.htm
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