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Cooperação internacional pode minimizar riscos de escassez de água, diz especialista da ONU

Cooperação internacional pode minimizar riscos de escassez de água, diz especialista da ONU

O alerta constante sobre a disponibilidade de água no mundo já seria suficiente para justificar uma mobilização global pela preservação do recurso. Segundo especialistas, em menos de 40 anos a população mundial será de quase 10 bilhões de pessoas, ou seja, cerca de 3 bilhões a mais do que a atual. Organizações internacionais, como a ONU-Água, que reúne representantes de 28 de diferentes escritórios da Organização das Nações Unidas, estimam que esse crescimento demográfico pode representar um aumento de mais de 50% na demanda de água.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Isabel Martínez, oficial programática do Escritório Regional América Latina e do Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lembrou que, mais do que tratar as pressões sobre os recursos hídricos, os órgãos da ONU decidiram dedicar o ano a uma discussão mais prática sobre o que precisa ser feito para minimizar os riscos de escassez de água e os problemas já enfrentados em muitos países.

As Nações Unidas definiram 2013 como o Ano Internacional de Cooperação pela Água. A proposta é tentar estimular um diálogo entre as nações do mundo em torno de soluções e medidas que podem ser compartilhadas. Para se ter uma ideia, mais de 140 países dividem grandes bacias hidrográficas com outras nações.

No escritório no Panamá, a oficial do Pnuma, especialista em Gestão de Recursos Naturais, defendeu que essa cooperação internacional, além de criar mecanismos de uso sustentável e eficiente da água, pode produzir benefícios econômicos para os países. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Izabel Martínez à Agência Brasil:

Agência Brasil – Há anos, as Nações Unidas chamam a atenção dos governos para o problema da água no mundo. O recado foi intensificado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro. Há perspectiva de mudanças na gestão desse recurso, especialmente nos países da América Latina e do Caribe?

Izabel Martínez – Na América Latina e no Caribe como um todo, o acesso à água tem melhorado, especialmente nas áreas urbanas. O panorama é bem heterogêneo, mas há avanços significativos nos acesso à água potável e ao saneamento. Foi registrado um aumento pequeno na população urbana – de 95% em 1990 para 97% em 2008 – mas um crescimento significativo para populações rurais – de 63% para 80% no mesmo período. Contudo, 22% da população da região não contam com serviços domiciliares de água potável, dependendo de fontes públicas e outras formas de captação.

O saneamento aumentou de forma sistemática desde a década de 1990. No entanto, desde 2008 – ano mais recente com dados disponíveis – 45% da população rural e 14% da população urbana da América Latina e do Caribe não contam com saneamento em suas residências. A fonte desses dados é o relatório O Desenvolvimento Sustentável nos 20 anos da Cúpula da Terra: Avanços, Lacunas e Diretrizes Estratégicas para América Latina e do Caribe, coordenado pela [Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe] Cepal.

ABr – Quais as prioridades que os governos da região precisam observar?

Izabel – É necessário um gerenciamento integrado de recursos hídricos levando em conta os diferentes ecossistemas da região. A Estratégia Operacional para Água Doce 2012-2016 lista quatro prioridades estratégicas: enfrentar o desafio global pela qualidade da água; obter benefícios dos ecossistemas aquáticos; desenvolver a capacidade de recuperação face às mudanças climáticas e incorporar eficiência ao uso dos recursos hídricos. O documento final da Rio+20, O Futuro que Queremos, inclui diversas sugestões sobre o tema. Dentre elas estão reafirmar compromissos relativos ao direito humano à água, apoiar iniciativas de conservação e uso sustentável de ecossistemas aquáticos nas fronteiras nacionais de cada país e adotar medidas contra enchentes, secas e a escassez de água, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda.

ABr – Os órgãos das Nações Unidas decidiram voltar o debate sobre as águas, em 2013, para o esforço pela cooperação internacional. É possível conciliar interesses e esforços efetivos pela preservação do recurso?

Izabel -A cooperação pela água cria benefícios econômicos tangíveis, já que todas as atividades econômicas dependem de água e a cooperação pode levar a um uso mais eficiente e sustentável. E a cooperação pela água é crucial para conservar recursos hídricos, garantir sua sustentabilidade e proteger o meio ambiente. Permite o intercâmbio de conhecimento científico, estratégias e melhores práticas.

Há uma série de mensagens-chave que estão sendo trabalhadas pelas Nações Unidas ao longo deste Ano Internacional de Cooperação pela Água. A cooperação pela água colabora para a paz, já que o esforço conjunto de países pelo gerenciamento de recursos hídricos e o acesso à água potável ajuda a superar tensões culturais, políticas e sociais, e estimula a confiança mútua. A cooperação pela água é essencial para o desenvolvimento socioeconômico, a erradicação da pobreza, a igualidade social e de gênero e a sustentabilidade ambiental. O acesso à água e ao saneamento é dos fundamentos para várias atividades humanas e para as Metas de Desenvolvimento do Milênio.

ABr – Como a senhora avalia as medidas globais de saneamento básico?

Izabel – Segundo o Panorama Ambiental Global 5 (GEO 5), publicação do Pnuma lançada no ano passado, melhorar as condições de fornecimento de água e de saneamento é provavelmente a maneira mais barata e eficaz de reduzir o índice global de doenças e mortes por contaminação. Mesmo que a Meta de Desenvolvimento do Milênio relacionada ao acesso à água potável – Reduzir à metade, até 2015, a proporção da população sem acesso sustentável à água potável segura – tenha sido alcançada em 2010, mais de 600 milhões de pessoas não possuirão acesso satisfatório à água potável em 2015. Já a meta relativa ao saneamento é improvável de ser alcançada, com 2,5 bilhões de pessoas sem saneamento básico no mundo. Atingir esses objetivos reduziria em cerca de 10% os índices de doenças por contaminação de água. É necessário aumentar os investimentos em infraestrutura, capacitação e em regulamentação.

ABr – Há uma consciência política, atualmente, sobre os aspectos econômicos que essas medidas podem traduzir?

Izabel – A oferta inadequada de serviços de água potável e saneamento traz custos sociais consideráveis e ineficiência econômica. Quando não há acesso à água, uma grande parcela da renda tem que ser gasta na compra de água engarrafada. Também se perde muito tempo, especialmente mulheres e crianças, no transporte desta água. Isso impede populações mais pobres de se envolverem em outras atividades. A falta de saneamento tem um custo muito alto. Camboja, Indonésia, Filipinas e Vietnã, por exemplo, perdem cerca de 9 bilhões de dólares todos os anos por causa do saneamento insuficiente – cerca de 2% do PIB. O acesso à água potável e ao saneamento adequados são fundamentos da Economia Verde.

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(Agência Brasil)

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