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Base de dados brasileira de produtos naturais recebe reconhecimento internacional

Base de dados brasileira de produtos naturais recebe reconhecimento internacional

Dois importantes reconhecimentos internacionais atestaram recentemente a qualidade da NuBBE Database, uma base de dados inédita sobre produtos naturais isolados a partir da biodiversidade do Brasil, com informações sobre o potencial desses metabólitos secundários para uso em química medicinal, ecologia química e metabolômica.

O primeiro foi a publicação, no Journal of Natural Products, do artigo “Development of a Natural Products Database from the Biodiversity of Brazil” (Desenvolvimento de uma Base de Dados sobre Produtos Naturais da Biodiversidade do Brasil), assinado pela própria equipe da NuBBE Database. Coeditado pela American Society of Pharmacognosy e pela American Chemical Society, o periódico é considerado um dos melhores do mundo na área da química de produtos naturais.

O segundo foi a solicitação feita à NuBBE Database pelo banco de dados Zinc, pedindo permissão para estabelecer um link cruzado entre os portais das duas base de dados. O Zinc, um serviço pertencente ao Laboratório Shoichet, do Departamento de Química Farmacêutica da Universidade da Califórnia, San Francisco (UCSF), é referência no campo da química medicinal, com informações sobre mais de 21 milhões de compostos de uso farmacêutico disponíveis no mercado.

Fortalecida agora com a chancela internacional, a NuBBE Database nasceu da cooperação entre o Núcleo de Bioensaios, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais (NuBBE), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, e o Laboratório de Química Medicinal e Computacional (LQMC), do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP).

A base disponibiliza dados sobre 640 compostos de origem natural, estudados pelo NuBBE ao longo de seus 15 anos de existência. A expectativa dos coordenadores – os professores Vanderlan Bolzani, da Unesp, e Adriano Defini Andricopulo, da USP de São Carlos – é que ela continue crescendo, até englobar todos os compostos com potencial medicinal já isolados a partir dos biomas brasileiros. Para isso, os coordenadores buscam apoio institucional estadual e federal.

Bolzani, professora titular do Instituto de Química da Unesp de Araraquara e idealizadora da NuBBE Database, disse à Agência FAPESP que a inspiração para criar essa base de dados lhe ocorreu quando participou de um congresso científico na China, em 2005. “Fiquei fascinada com a base de dados sobre produtos naturais utilizados pela medicina chinesa”, afirmou ela, que também é membro da coordenação do programa BIOTA-FAPESP.

A ideia ganhou corpo no diálogo com Andricopulo, coordenador do LQMC, com larga experiência na elaboração de bases de dados robustas, como por exemplo a PK/DB – a primeira base de dados sobre propriedades farmacocinéticas da América Latina, criada no Laboratório de Química Medicinal e Computacional. O resultado foi uma bem-sucedida parceria entre as duas instituições.

Os doutorandos Marilia Valli (NuBBE) e Ricardo Nascimento dos Santos (LQMC), ambos bolsistas da FAPESP, e a estudante de iniciação científica Cíntia Hiromi Nakajima (bolsa empresa) engajaram-se firmemente na sistematização dos dados, antes dispersos por 170 artigos científicos produzidos pelo NuBBE. E o mestre em ciência da computação Leandro Figueira implantou essas informações no ambiente computacional, criando uma base de dados virtual aberta, passível de ampliação e de reiterada atualização.

A natureza como laboratório

A base de dados está alojada no site nubbe.iq.unesp.br/nubbeDB.html. Por enquanto, o portal se encontra em fase de teste e o acesso pode ser dificultado em razão dos ajustes que estão sendo efetuados no sistema. A intenção dos coordenadores, porém, é que o portal esteja em pleno funcionamento ainda no primeiro semestre de 2013, permitindo amplo acesso aos grupos de pesquisadores associados e ao público em geral, à medida que alguns dispositivos de segurança forem desenvolvidos.

Tendo acesso, o consulente pode selecionar qualquer um dos 640 compostos descritos – de Acremonium sp a Xylopia aethiopica. E obter informações detalhadas, como origem, classificação, estrutura molecular 3D, massa e volume moleculares, solubilidade, ligações de hidrogênio, violações das regras de Lipinski (que estabelecem o potencial que uma molécula apresenta de ser absorvida oralmente) etc. “São parâmetros fundamentais quando se investiga uma molécula visando à produção de um protótipo com finalidade farmacêutica”, explicou Bolzani.

“A natureza é o laboratório mais sofisticado que existe. Precisamos estudar a fundo seus compostos, investigar seu potencial medicinal, descobrir como essa riqueza química é afetada por fatores bióticos e abióticos, ecossistemas, associações, local ou época de coletas, processos de isolamento e identificação etc. Entender o universo molecular da biodiversidade é avançar no conhecimento sobre as espécies de ambientes tropicais e equatoriais como o nosso, para poder reproduzir por biotecnologia ou sintetizar tais compostos em laboratórios.”

Como exemplo de uma classe de substâncias de interesse do NuBBE, a pesquisadora citou um alcaloide que, com pequenas modificações, resultou em um inibidor de acetilcolinesterase. A inibição da acetilcolinesterase (enzima responsável pela quebra da molécula do neurotransmissor acetilcolina) é uma das estratégias mais promissoras para o tratamento da doença de Alzheimer, que afeta hoje quase 40 milhões de pessoas em todo o mundo.

Em razão de sua riquíssima biodiversidade, que reúne aproximadamente 20% de todas as espécies do planeta, o Brasil apresenta um enorme potencial para a produção de conhecimento e de produtos com valor agregado – incluindo medicamentos naturais ou derivados, suplementos alimentares, cosméticos e materiais para controle de pragas e parasitas agrícolas.

Uma iniciativa como a NuBBE Database oferece consistentes fundamentos científicos para o aproveitamento dos produtos naturais oriundos de nossos biomas. Ou seja, para transformar esse potencial em realidade.

(Agência FAPESP)

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