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Crédito Imagem: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)

Aquecimento global coloca em risco produtividade do milho

Os impactos das mudanças climáticas nas diversas culturas agrícolas ainda não são completamente entendidos, mas cada vez mais pesquisadores estão estudando o assunto que é de suma importância para a segurança alimentar mundial no futuro.

Um dos mais recentes estudos nessa área foi publicado nesta semana no periódico Global Change Biology e avaliou a cultura do milho na França desde 1960 e projetou como ela se desenvolverá até 2030 em um mundo sob o aquecimento global.

Segundo o trabalho, que de acordo com seus autores pode ser extrapolado e utilizado como um alerta para outras regiões do planeta, quando a temperatura sobe para acima de 32°C, o milho sofre o chamado estresse de calor e não cresce como deveria.

Na região da França avaliada, o número de dias que ultrapassavam os 32°C na década de 1960 costumava ser de três, atualmente é de cinco e, se os modelos climáticos estiverem corretos, nas próximas décadas poderá passar de quinze.

“Este é um grande risco para a segurança alimentar. A produção agrícola quadruplicou desde 1960, graças a melhores tecnologias como pesticidas e fertilizantes, mas a velocidade com a qual a produtividade cresce tem ficado menor nas últimas décadas e na taxa presente pode não ser suficiente para manter os níveis de produção atuais”, afirmou Ed Hawkins, do Centro Nacional de Ciência Atmosférica da Universidade de Reading e principal autor do estudo.

A equipe de Hawkins descobriu que enquanto a variação de chuva pode ser amenizada com a irrigação, pouco ainda é feito para lidar com as temperaturas extremas. Por exemplo, durante a onda de calor de 2003, a produção francesa de milho caiu cerca de 20% em relação ao ano anterior.

Avaliando os dados levantados, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a produtividade por acre deveria ser elevada em até 12% entre 2016 e 2035 apenas para manter os níveis atuais da safra de milho.

“Esse 12% de incremento é necessário no pior cenário que projetamos. Se as temperaturas não subirem tanto nas próximas décadas, pode ser que consigamos manter a safra presente com um aumento menor de produtividade”, declarou Hawkins.

A situação com certeza varia para outros países, mas segundo os pesquisadores a conclusão básica é similar. Os agricultores terão que se preparar para a maior frequência de dias quentes. “Os modelos climáticos apontam com relativa confiança que veremos uma alta nas temperaturas por todo o mundo, graças ao crescimento contínuo das emissões de gases do efeito estufa”, explicou o pesquisador.

O estudo também destaca que o problema se agrava quando fica claro que as medidas mais básicas para elevar a produtividade já foram tomadas no passado, como maior uso de máquinas e melhores fertilizantes, e que agora qualquer avanço tende a ser bem mais caro e difícil de ser conseguido.

Os pesquisadores reconhecem que diferentes culturas possuem tolerâncias próprias para o calor, mas que todas elas apresentam um máximo de temperatura para que sejam produtivas. Técnicas como modificação genética e uma maior seleção de sementes podem minimizar a situação, mas ainda não se sabe até que ponto essas tecnologias podem avançar.

“Se as mudanças climáticas continuarem a ser ignoradas, agricultores poderão ser obrigados a trocar totalmente para culturas que atualmente estão restritas apenas às partes mais quentes do planeta”, afirmou Hawkins.

Os impactos das mudanças climáticas na agricultura já chamaram a atenção de alguns governos. No começo deste ano o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) publicou um relatório afirmando que o aumento do dióxido de carbono na atmosfera, o aumento das temperaturas e a alteração na precipitação afetarão a produtividade das colheitas, já que podem mudar seus padrões de crescimento e amadurecimento.

O documento apontou que, só para controlar o crescimento das ervas daninhas, que se desenvolvem mais à medida que a temperatura aumenta, os investimentos na agricultura para esse fim terão que subir para US$ 11 bilhões anuais.

A própria ONU alerta com frequência para a ligação entre o aquecimento global e a segurança alimentar.

Já em 2011, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) lançou o relatório “Mudança Climática, Água e Segurança Alimentar”, que recomenda a adoção de sistemas agroflorestais para ajudar a reduzir temperaturas e evaporação, além de ampliarem a retenção da água e a conservação do solo.

A questão é tão séria que a ONU está tentando classificar as mudanças climáticas como uma questão de segurança internacional a pedido de pequenas nações insulares e muitos países africanos. A justificativa é que por causa da queda na produção de alimentos vários conflitos civis já estão acontecendo.

A classificação não avançou devido à obstrução de China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que temem ter seu crescimento econômico afetado por possíveis leis que obriguem a redução nas emissões de gases do efeito estufa.

Crédito Imagem: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
Crédito Imagem: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)

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