Taxistas, fiscais da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e pessoas que trabalham diariamente no trânsito de São Paulo estão mais expostas a problemas de saúde, segundo um estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP (Universidade de São Paulo).
Pesquisadores do laboratório, ligado à Faculdade de Medicina da USP, monitoraram 81 trabalhadores do trânsito paulistano (57 taxistas e 24 fiscais de tráfego da CET) por dois anos para medir os efeitos da poluição no organismo. Cerca de 90% deles tiveram ardor e queimação nos olhos, além de alteração na composição das lágrimas e outros problemas, afirma Maria Lúcia Bueno Garcia, professora de medicina da USP e uma das responsáveis pelo estudo.
“Em quase todos eles encontramos sintomas oculares, ardor, queimação, latejamento. Eles tinham a pele seca, tosse e uma cor de catarro mais escura, além de obstrução nasal”, diz a professora. “A lágrima produzida por esses indivíduos têm menos proteção para o olho, pela presença em menor grau de uma proteína de defesa.”
Câncer
Também foi identificada alteração nos micronúcleos das células da boca dos pesquisados. O problema aumenta a propensão a mutações genéticas e facilita o aparecimento de câncer, de acordo com a pesquisadora.
Cerca de 80% dos pesquisados relataram problemas na mucosa do nariz, como inflamação e obstrução nasal, afirma Maria Lúcia.
Com relação à pressão, cada um dos indivíduos recebeu um aparelho que fazia medições de 15 em 15 minutos. Segundo a professora, a maioria deles apresentou pressão mais alta que o comum.
(Foto: Nelson Antoine/Fotoarena/AE)
Foram encontrados problemas vasculares nos trabalhadores, segundo a docente da USP. “Nesses indivíduos expostos à poluição, os vasos sanguíneos tem mais dificuldade de abertura, ficam mais fechados do que o normal”, diz ela. O problema é um fator de predisposição para a arteriosclerose, doença que se caracteriza pelo endurecimento da parede das artérias.
O estudo avaliou a saúde de dois indivíduos por semana durante quatro dias úteis, o que totalizou oito avaliados por mês, segundo a pesquisadora. Os trabalhadores passaram pelo monitoramento mais de uma vez ao longo da pesquisa. “A avaliação ocorria durante o dia de trabalho, justamente para pegar o momento de maior contato com a poluição”, afirma Maria Lúcia.
Capitaneada pelo professor de medicina da USP Paulo Saldiva, a pesquisa contou com a participação de cientistas da Universidade Harvard, dos EUA, e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Os dados ainda não foram publicados porque ainda estão sendo feitas análises, diz Maria Lúcia.
Avenida Paulista (Foto: Letícia Macedo/G1)
Importante, mas insuficiente
Na avaliação da pesquisadora, as medidas adotadas pelo poder público para melhorar o ar da capital paulista até agora foram importantes, mas não suficientes para evitar problemas de saúde das pessoas que estão todos os dias nas ruas.
“Apesar de a poluição ter diminuído, o número de veículos está crescendo”, afirma a pesquisadora. “Os controladores de tráfego [da CET] trabalham nos corredores e ficam andando, então eles respiram mais rápido e inalam mais poluição.”
A pesquisadora pondera que a poluição e a consequente incidência de problemas de saúde depende do dia e da época do ano. “Isso varia de sazonalidade. Com a chuva melhora, mas com o clima seco a poluição aumenta. Então depende do clima e depende do dia”, diz ela.
Fonte: G1
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