Em 2008, quando pela primeira vez a União Europeia cogitou elevar sua meta de corte nas emissões de gases do efeito estufa de 20% para 30%, com relação ao nível de 1990, o custo estimado para o bloco seria de €33 bilhões. Quando chegou ao Parlamento Europeu para ser votada em 2011, a medida acabou derrotada com a oposição alegando que o momento econômico não era favorável para aumentar as despesas dos governos.
Curiosamente, a mesma crise econômica que impediu no ano passado a aprovação desse aumento no corte das emissões, agora pode torná-lo possível. Devido à queda da produção industrial no continente, as emissões naturalmente diminuíram e já colocam a União Europeia no rumo de alcançar os 25% de redução até 2020, o que significa que está muito mais barato buscar os 30%.
De acordo com um documento divulgado nesta quarta-feira (18) pela Comissão Europeia, o custo para elevar a meta seria de 0,5% do PIB nos próximos dez anos, o que seria bem abaixo dos €33 bilhões.
A Comissão Europeia chega a falar até em lucro com a adoção de uma meta mais rigorosa, afirmando que apenas com a economia em combustíveis o bloco pode evitar o gasto de €20 bilhões ao ano.
“Este documento deixa claro que a meta de 30% incentivará a economia, diminuirá as importações de combustíveis e reduzirá a contribuição europeia para o aquecimento global. Os países europeus estão começando a perceber que esta é uma decisão que só traz benefícios”, afirmou Joss Garman, do Greenpeace, ao jornal The Guardian.
Porém, a oposição ao aumento do corte nas emissões ainda é forte, principalmente entre os países mais pobres e dependentes do carvão, como a Polônia.
Para minimizar os custos para estas nações, a Comissão Europeia sugere um ajuste no Esquema Europeu de Comércio de Permissões (EU ETS).
A análise indica que seria possível reduzir as permissões que os países mais ricos do bloco podem vender para suas indústrias em 38%, o equivalente a remover 341 milhões de permissões do mercado até 2020, enquanto as nações mais pobres manteriam os mesmos números de permissões.
Outra proposta é permitir que os países do leste europeu resgatem até €3.2 bilhões em créditos de carbono não utilizados.
A Inglaterra e a Dinamarca são totalmente a favor ao aumento da meta, porém mesmo dentro desses países alguns grupos industriais são fortemente contrários. Para atingir os 30%, seria preciso um corte extra de 6,5% em setores que não estão incluídos no EU ETS, como transportes e construção civil.
Um grande apoio para o novo objetivo pode vir das entidades e empresas envolvidas no EU ETS, que enxergam nele uma saída para a atual crise no mercado.
As permissões de emissão da União Europeia (EUAs) estão sendo negociadas em apenas €6,73, muito longe dos €17 que seriam o ideal para o EU ETS cumprir seu papel de estimular investimentos em tecnologias de baixo carbono.
“Claro que uma meta de 30% teria impacto no mercado, mas acredito que as chances disso acontecer em curto prazo são mínimas”, afirmou Emmanuel Fages, analista do Societe Generale, à Reuters.
Como a presidência rotativa da União Europeia está no momento com a Dinamarca, as discussões sobre o tema devem ganhar força nos próximos meses. Um porta-voz da presidência afirmou que uma análise do documento da Comissão Europeia está sendo agendada dentro das discussões das políticas climáticas do bloco.
Fonte: Instituto Carbono Brasil
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