Com a proliferação de grandes data centers em todo o mundo, e a um ritmo particularmente intenso no Brasil, a necessidade de energia elétrica cresce. CIOs, CTOs e CFOs precisam conhecer e gerenciar o consumo não só pela eterna obrigação de reduzir custos, mas também devido à cobrança pública por mais sustentabilidade nas corporações.
“Esses dois drivers são importantes”, pondera o gerente de desenvolvimentos de negócios em energia e utilities na América do Sul da Logica, Marcello Martino. “A energia não está barata e os recursos estão cada vez menos disponíveis. Depois vem a sustentabilidade, o componente social. Todas as empresas estão preocupadas e investindo cada vez mais em soluções sustentáveis. É importante mostrar aos consumidores e acionistas essa preocupação.”
A Logica é uma multinacional de origem inglesa que atua no Brasil desde o início dos anos 2000 fornecendo soluções para o setor de utilities (como smart grid) e para empresas de outros segmentos interessadas em gerenciar e reduzir o consumo de energia. A forte demanda vem de vários setores da indústria e mesmo do governo, inclusive de municípios, preocupados com o mau uso do recurso.
“Participamos do projeto de um porto na Europa no qual estávamos preocupados com os atendimentos emergenciais. Esse sistema gerenciava energia, acesso, deslocamento, equipes de segurança, tudo em uma plataforma distribuída, com novos tipos de iluminação controlada por uma central, ou mesmo de forma automática. Também conseguimos fazer a otimização dos custos em uma estrada que se iluminava de acordo com o fluxo”, conta Martino.
Calcular o retorno sobre o investimento (ROI) de soluções de gestão e economia de energia nem sempre é simples, pois podem ser considerados tanto os benefícios tangíveis (no qual se incluem principalmente recursos econômicos) como os intangíveis (ou seja, aqueles que impactam a imagem da empresa, ou a produtividade dos funcionários e equipamentos). “Cada vez mais esses benefícios intangíveis ganham importância e se tornam passíveis de medição”, diz Marcello Martino. “Tipicamente projetos de gestão energética se pagam em dois ou três anos.”
Fator Brasil
Para a gigante do setor de energia, Schneider Electric, a economia depende do entendimento do padrão de consumo e da necessidade da corporação. A partir daí cria-se um desenho eficiente da solução, com inteligência embarcada em plataformas de gestão que integram todos os componentes do data center, desde os painéis de meia e baixa tensão, transformadores, servidores, UPS, ar-condicionado de precisão, controle de acesso, iluminação etc.
“Todos os nossos produtos e soluções, hardware e software, são concebidos para garantir um uso mais eficiente de energia. Tipicamente conseguimos obter até 30% de redução quando participamos do projeto desde o desenho até a instalação”, diz o vice-presidente da unidade de negócios de TI da Schneider Electric, Jesús Carmona.
Mas se a redução de custos é um fator importante, a sustentabilidade na construção de grandes infraestruturas de TI, pelo menos no Brasil, ainda é mais clichê do que realidade. Segundo Carmona, há “tanta demanda por centros de dados que a agilidade na construção é prioridade e o cliente sacrifica eficiência por rapidez na implementação. Ou seja, compra uma solução mais rápida, que responde a necessidade a curto prazo, mas não necessariamente a médio e longo.”
Carmona acha que já existe conhecimento suficiente para construir data centers verdes no país, e os clientes gostariam de tê-los, mas não estão dispostos a pagar mais por isso. Apenas a eficiência energética desperta interesse, mas por questões de redução de custos.
Refrigeração
Ainda em data centers, pontos centrais da infraestrutura de TI de empresas cada vez mais conectadas, observa-se o crescimento da importância dos sistemas de refrigeração. Segundo um estudo da Panduit, refrigeração, iluminação, transformadores e perdas energéticas correspondem a 48% dos gastos com energia de um centro de dados. Os outros 52% são de responsabilidade dos equipamentos de computação.
“A principal preocupação dos CIOs é não ter pontos com concentração de ar quente dentro dos data centers, mas isso está muito mais ligado a distribuição de ar do que ao próprio ar-condicionado”, explica Marcos Santamaria, engenheiro de aplicação das Indústrias Tosi e instrutor do Datacenter Dynamics. “O segundo maior consumidor dentro do data center são os equipamentos de ar condicionado. Portanto a eficiência deles é essencial para reduzir custos.”
A Tosi atua no mercado de equipamentos de refrigeração para o setor de tecnologia há pouco mais de dois anos, a partir da participação em um projeto de data center para um grande banco multinacional. O carro chefe da empresa são os chillers (coração do sistema de ar condicionado, responsável pela troca térmica), que contam com compressores centrífugos com mancais magnéticos. Esse tipo de equipamento de precisão substitui o óleo pela mesma tecnologia dos trens de levitação, o que reduz o atrito e, consequentemente, os custos de manutenção e o consumo de energia.
Segundo Santamaria, um data center operando 24/7 que adote esse tipo de equipamento tem um ROI calculado entre um ano e meio e dois anos. Essa eficiência também pode ser útil a hotéis, hospitais e outros estabelecimentos que operam em tempo integral, pois esse regime de funcionamento encurta o tempo de retorno do investimento.
“O nosso grande mérito foi miniaturizar o compressor centrífugo e aplicar um chiller”, explica Santamaria. “Outra diferença é que não existiam esses compressores com condensação a ar, só a água. Hoje posso ter chillers operando com compressores centrífugos e condensação a ar. Do ponto de vista energético se consome um pouco mais, mas eles eliminam o uso de outro recurso natural que muitos não levam em conta: a água.”
A expectativa da Tosi é grande, primeiro por estar explorando o mercado de data centers do zero, e depois pela grande expansão verificada nos últimos anos. Grandes instituições estão atualizando seus centros de dados ou construindo novos para atender essa demanda.
Corredores
Durante muito tempo, boa parte dos profissionais de data center acreditou que a eficiência energética estava ligada somente à capacidade dos equipamentos de ar-condicionado, quando na verdade o posicionamento dos equipamentos desempenha papel igualmente importante no fluxo de ar. A Panduit é uma das empresas cujas soluções se preocupam com a gestão da capacidade energética do centro de dados, fazendo com que o fluxo de ar assuma papel essencial dentro do rack.
“Esse modelo mais sustentável de data centers usa o sistema de corredores quentes (para onde o ar que sai dos servidores e switches é expelido) e frios (no qual ocorre a entrada de ar). A meta é levar os equipamentos o mais próximo possível de uma eficiência ideal, e para isso há acessórios adequados”, diz Diogo Avelino, engenheiro de sistemas responsável pela área de pré-venda da Panduit.
Entre as soluções comercializadas pela empresa estão sistemas de confinamento que preservam a área do corredor frio, isolando o ar gelado para os servidores e switches. Para o corredores quentes existem chaminés acopladas na parte superior do rack, tornando a temperatura do ambiente o mais uniforme possível. Os Cool Bots, por sua vez, são produtos que organizam os cabos que saem do rack para baixo do piso elevado, evitando a retenção e a circulação irregular de ar.
“Sem mexer em nenhum equipamento, só remodelando o espaço do data center e fazendo investimentos a curto prazo, é possível reduzir o consumo de energia em até 33%”, garante Avelino.
Dono de uma das energias elétricas mais caras do mundo, a preocupação com o consumo energético nas infraestruturas de TI no Brasil pode encontrar paralelos em países mais desenvolvidos. Estima-se que em 2025 mais de 10% da energia elétrica vendida nos EUA será para atender data centers. Hoje são 3%. “Um ambiente sustentável deixou de ser simplesmente desejável para tornar-se uma necessidade”, diz o especialista da Panduit.
Fonte: TI inside

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