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Foto: Elberth00001939/Creative Commons

As Cidades e a Biodiversidade em Perspectiva: estudo da CDB/COP11

A área total urbana do mundo deverá triplicar até 2030 (dados de 2000) e as populações urbanas duplicarão para cerca de 4,9 bilhões no mesmo período, devendo chegar a 6,3 bilhões em 2050. Com a projeção desse cenário, a recomendação é que o planejamento urbano deve integrar os ecossistemas para ser eficiente e oferecer benefícios econômicos, com redução de danos ambientais e qualidade de vida. As conclusões fazem parte da avaliação The Cities and Biodiversity Outlook (CDO) ou As Cidades e a Biodiversidade em Perspectiva* lançada hoje pela Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB)*, em parceria com a Stockholm Resilience Centre (SRC) e Governos Locais para a Sustentabilidade (ICLEI), que é uma contribuição para a implementação das Metas de Aichi.

Para atender a Meta 12, o estudo propõe, por exemplo, que as cidades podem evitar aextinção de espécies, por meio de pesquisa e investimentos em zoológicos, museus e aquários. Já para o cumprimento da Meta 15, a orientação é que haja o restabelecimento de ex-zonas industriais ou terras degradadas, totalizando 15% de restauração de ecossistemas degradados até 2020.

O documento teve participação de 123 pesquisadores do mundo todo, sob coordenação científica do professor Thomas Elmqvist, do Centro de Resiliência de Estocolmo e é o primeiro de contexto global realizado até hoje. Incentiva o TEEB, e traz um resumo do quadro crítico nas diversas regiões do planeta e exemplos de iniciativas locais eficientes.

EXEMPLOS POSITIVOS
Entre eles estão ações conjuntas ocorridas em Bogotá, na Colômbia, como o fechamento de estradas nos finais de semana, a melhoria do sistema de trânsito de ônibus e a criação de ciclovias, que resultou em aumento da atividade física entre os moradores e redução nas emissões de gases de efeito estufa.

Do Brasil, a experiência mencionada é de Curitiba/PR, já que a cidade mantém 46 áreas protegidas e 64,5 metros quadrados por habitante, o que a tornou reconhecida como aCidade Verde do Brasil, além de manter o Programa Câmbio Verde, que incentiva moradores de bairros precários a manterem limpas suas áreas para melhorar as condições de saúde. Em contrapartida, o poder público municipal oferece produtos hortifrutigranjeiros em troca de material reciclável.

Na Cidade do México, a manutenção dos três jardins zoológicos locais (Chapultepec, San Juan de Aragón y e Los Coyotes) é considerada positiva já que apresenta importante programa de educação ambiental.

Em Nairóbi, capital do Quênia, o exemplo citado é do Parque Nacional de Nairobi, a sete quilômetros do centro da cidade, que obteve o reconhecimento por conta da conservação da vida silvestre. Lá existem mais de 400 espécies de aves e 100 espécies de mamíferos.

AINDA HÁ TEMPO
O estudo alerta que se o modelo de urbanização permanecer predatório como é hoje, em boa parte do planeta, resultará em efeitos colaterais para a saúde e o desenvolvimento humano. Destaca que mais de 60% das áreas indicadas para serem urbanizadas até 2030 ainda têm de ser construídas. Essa margem de tempo possibilita que os projetos possam ser realizados com sustentabilidade, atendendo aos princípios de baixo carbono e ao uso eficiente de recursos, tendo em vista que a expansão urbana aumentará significativamente a demanda de água entre outros recursos, além das terras para agricultura.

O que se observa hoje é que o crescimento desordenado ocorre de forma mais acelerada nas proximidades dos hotspots da biodiversidade  (Veja também o Mapa dos Hotspots) e nas zonas costeiras (onde geralmente ficam os grandes centros urbanos), principalmente em regiões da África sub-saariana, Índia e China.

O alerta para a Índia – país anfitrião da COP11 – vai desde o crescimento de aglomerados urbanos a perdas de terras agrícolas para a urbanização conjugadas ao planejamento ineficiente no abastecimento de alimentos. Hoje, 30% da população é urbana e estima-se que chegue a 50% em 2044.

Um dos problemas observados na China são as invasões em áreas protegidas. Já a governança fraca em cidades das 55 nações africanas acarreta o aumento do ciclo da pobreza, que infere o comprometimento da biodiversidade. O continente é o que se urbaniza mais rapidamente do que os demais. A expectativa é que chegue a 750 milhões de habitantes em 2030.

A situação na América Latina e Caribe não é muito melhor. Nos últimos 50 anos, de acordo com o relatório, o número de cidades da região aumentou em seis vezes, com destaque para o crescimento desordenado de moradias de baixa renda em áreas prioritárias biodiversas, como zonas úmidas e várzeas. Mais de 80% vivem nas cidades e em 2050 o percentual deve subir para 90%.

Por outro lado, o processo de urbanização europeu reflete até 80% de crescimento urbano na expansão de terra em vez do crescimento populacional. O que se observa lá e também nos EUA é o crescimento dos subúrbios nas cidades.

Um dado curioso na avaliação é que na Oceania e em grandes países, como a Austrália e Nova Zelândia, cerca de 85% da população vive em zonas urbanas, entretanto, com densidade relativamente baixa. Na Austrália, são menos de três pessoas por quilômetro quadrado.

O brasileiro Bráulio Dias, secretário-executivo da CDB, considera que as inovações dependem menos de recursos econômicos e mais de trabalhar de forma equilibrada as tecnologias e abordagens já existentes. Medidas como absorção de carbono e filtragem de poeira melhoram significativamente a qualidade do ar. Estudos realizados no Reino Unidoindicam que 10% de aumento da cobertura de copas nas cidades pode resultar na diminuição de até 4º C na temperatura. Outras pesquisas mundiais já reforçam que a proximidade de árvores também tem o potencial de ajudar na redução de asma infantil e alergias.

Para reforçar a mudança de paradigma de desenvolvimento, Achim Steiner, subsecretário geral e diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), destacou que ecossistemas valiosos estão nas áreas urbanas, citando como exemplo aBélgica, cuja capital, Bruxelas, abriga 50% das espécies florais.

O lançamento do estudo aconteceu dentro da programação do encontro Cidades pela Vida, sob a organização do secretariado da CDB, o governo indiano, com apoio do governo japonês e dos Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI), que vai até amanhã.

Fonte: Blogs – Planeta Sustentável

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