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Rio brasileiro pode mudar as análises hidrológicas globais

O rio Hamza foi descoberto por acaso e que corre no subterrâneo da Região Norte do Brasil, desembocando no Oceano Atlântico

Pesquisadores do Observatório Nacional encontraram evidências de um rio subterrâneo de 6 mil Km de extensão.

Por baixo do maior rio do planeta, o Amazonas, corre um gigante silencioso. Há 4 mil metros de profundidade, flui o Hamza, um rio subterâneo de pelo menos 6 mil quilômetros, que se estende do Acre até o Oceano Atlântico. A descoberta foi divulgada por cientistas do Observatório Nacional (ON), que estudavam poços de petróleo na região e o encontraram por acaso. O desafio, agora, é entender onde nasce e por qual trajeto segue este que pode ser o maior curso d’água localizado debaixo da terra.

Segundo os cientistas, o fluxo subterrâneo foi formado pelas águas das chuvas, absorvidas por rochas de característica porosa e permeável, que fazem parte da formação geológica da Bacia Amazônica. “É como um vaso de flor que absorve a água e a armazena no fundo”, compara o geofísico Valiya Hamza, da Coordenação de Geofísica do Observatório Nacional, orientador do trabalho de doutorado de Elizabeth Tavares, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que resultou na descoberta.
Esse sistema de armazenagem, chamado pelos cientistas da área de recarga, é o mesmo dos aquíferos. A diferença, porém, é que a água subterrânea descoberta se movimenta de um lugar para o outro, fato que não acontece com os aquíferos, que são apenas reservatórios de água no subsolo. “Esse fluxo é o que dá a característica de rio”, explica o geofísico, que batizou o rio descoberto, uma homenagem dos integrantes da pesquisa.

O achado da água subterrânea foi feito quando os pesquisadores estudavam as variações de temperaturas de poços profundos, perfurados pela Petrobras nas décadas de 1970 e 1980, na busca por petróleo na região. Segundo Elizabeth, é possível saber se há água se movimentando no subsolo a partir da variação da temperatura nas camadas das rochas. “Quanto maior a profundidade, maior a temperatura. Se houver variação da superfície até o fundo, quer dizer que há água em movimento”, esclarece a pesquisadora.

Para chegar à conclusão do tamanho do rio subterrâneo, os cientistas analisaram 185 poços nas bacias do Acre, do Solimões, do Amazonas, de Marajó e de Barreirinha. A partir das avaliações dos dados, eles constataram as gigantescas dimensões do fluxo, bem debaixo do Rio Amazonas. Nas bacias do Acre e do Solimões, o Rio Hamza chega a ter 400 quilômetros de largura e vai se afunilando até desaguar no Oceano Atlântico. A área mais profunda, de 4 mil metros, encontra-se no subsolo do estado do Acre e parte do Amazonas. No restante, até chegar ao mar, varia entre 2 mil e 3 mil metros de profundidade. “É um verdadeiro gigante correndo embaixo da terra, que o torna um bem valioso, que vai trazer interesse do mundo todo”, acredita Valiya Hamza. “Certamente, ele veio dos Andes, no Peru”, acrescenta.

Devagar e profundo 

Além de suas dimensões, o rio subterrâneo tem o mesmo sentido de fluxo que o Amazonas, de oeste para leste. Contudo, existem diferenças marcantes na vazão e na velocidade de escoamento. A vazão média do Rio Amazonas é estimada em cerca de 133 mil metros cúbicos, enquanto a do subterrâneo é de 3 mil metros cúbicos. “Esse valor é pequeno em relação à vazão do Amazonas, mas é o indicativo de um sistema hidrológico subterrâneo gigantesco se ele estivesse na superfície”, defende Elizabeth Tavares. Para ter uma ideia da importância do sistema, basta notar que a vazão subterrânea na Região Amazônica é superior à vazão média do Rio São Francisco, de 2,7 mil metros cúbicos por segundo.

Os dados do estudo também revelaram as velocidades desse fluxo embaixo da terra. Comparando-se ao Rio Amazonas, as velocidades do Hamza são relativamente pequenas. As águas do Amazonas variam de 0,1 a 2 metros por segundo, já as subterrâneas estão na faixa de 10 a 100 metros por ano. Segundo Elizabeth, o Amazonas é um rio estreito, em relação ao Hamza, com uma grande vazão e com alta velocidade. “Se você tem uma grande quantidade de água num espaço menor, obviamente, a velocidade será maior. O fluxo subterrâneo é mais largo e, com isso, sua velocidade é muita pequena, mas contínua”, explica. “Porém, ao longo do tempo, o Hamza vai concentrando uma quantidade grande de água, que precisa sair”, completa.

Outra característica interessante é o comportamento do rio que corre embaixo do Amazonas. Nos primeiros 2 mil metros de profundidade, seu fluxo é vertical. Ou seja, nessa camada, a água é absorvida da superfície e se movimenta entre os poros das rochas, no sentido de cima para baixo. Dos 2 mil metros até os 4 mil metros de profundidade, o fluxo se modifica, e a água começa a fluir na horizontal, como ocorre no Rio Amazonas. Isso leva a crer que haja uma rocha, a qual os cientistas chamam de selante, onde a água não é mais absorvida pela terra. “É como se ali fosse o leito do rio. A água não tem como descer, por isso, corre na horizontal até o mar”, explica Elizabeth.

Segundo a pesquisadora, o curso do Rio Hamza pode explicar também a descoberta de água doce no mar que banha a costa norte do país. “Acreditamos que o fluxo subterrâneo possa contribuir para a baixa salinidade encontrada no Oceano Atlântico até 700m da costa terrestre. Afinal, esse deságue deve ocorrer há milhares de anos”, diz.

Para os cientistas envolvidos na descoberta, a certeza de um curso d’água com essa dimensão no subsolo da região amazônica pode mudar as análises hidrológicas globais, que levam em conta as águas das chuvas, os lençóis freáticos, os aquíferos e os oceanos. “Acredito que o Rio Hamza deva ser somado ao ciclo hidrológico. Por sua dimensão, ele é peça fundamental para toda essa equação”, defende Elizabeth.

Fonte : Silvia Pacheco_ ESTADO de MINAS


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Comentários

6 respostas para “Rio brasileiro pode mudar as análises hidrológicas globais”

  1. Avatar de O Vale do Ribeira

    Veja as Fotos da erosão nas margens do rio ribeira de iguape em Sete Barras no Site O Vale do Ribeira

  2. Avatar de Rita
    Rita

    Sobre o “Rio Hamza”
    A velocidade de deslocamento desse “rio” é, de acordo com os pesquisadores, 0,000003 m/s – ora, isso é praticamente zero, como poderiam chamá-lo de rio? isso demonstra nenhum conhecimento de hidrologia, geologia, geografia…
    Não existe rio algum, e sim um extenso aquífero (rochas porosas e permeáveis contendo água), já bem conhecido pelos geólogos brasileiros, chamado Aquifero Alter-do-Chão (pode ser achado no Google). Este aquifero tem seus primeiros 500 m de agua doce, abaixo disso a água se torna salgada. Suas águas não tem ligação, em profundidade, com o Oceano Atlântico, porque existe uma barreira geológica entre os dois.
    Águas subterrâneas ocorrem em quase todos os terrenos (aquíferos locais) e seu aproveitamento é feito quando a água é escassa em superfície. No Peru ou em qualquer outro lugar. Dizer que é os peruanos utilizam água do “Rio Hamza”, é um pouco de delírio.
    Os bolsões de água doce no Oceano Atlântico são devidos à formidável descarga do Rio Amazonas, obviamente…
    Os geólogos da Petrobrás já pesquisaram toda a geologia (incluindo as águas subterrâneas), do sub-solo da Amazônia, e, aparentemente, os pesquisadores do ON não levaram em conta esse conhecimento. Resolveram reinventar a roda… quadrada…
    Acredito que eles sejam sumidades em suas áreas de estudo, mas de hidrogeologia não entendem nada.
    Rita Redaelli, Geóloga
    Rio de Janeiro

  3. Avatar de Rita
    Rita

    Carta Aberta sobre o “Rio Hamza”

    Uma ideia subjetiva foi apresentada durante o 12º Congresso
    Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica, no Rio de Janeiro,
    e divulgada na mídia no mês de agosto de 2011: “abaixo do Rio Amazonas, no interior das rochas a 4.000 metros de profundidade, haveria um “rio subterrâneo” com 6.000 km de comprimento e 400 km de largura”.

    Tal trabalho seria apenas criticável no âmbito da ciência, se restrito aos círculos acadêmicos. No entanto, para surpresa da comunidade geológica, a comunicação, que estava restrita ao Congresso, foi enviada, provavelmente via release, a inúmeros veículos de divulgação científica e não científica.

    A divulgação de um resultado de pesquisa simplista, que usou dados concretos para chegar a conclusões improváveis, inclusive usando definições incorretas, prejudica a divulgação da ciência e desinforma o público. Proveniente de um grupo de pesquisa do Observatório Nacional, a informação correu mundo sob o nome “Rio Hamza”, em alusão a um dos envolvidos na pesquisa. Entretanto, trata-se de uma conclusão precipitada de uma tese de doutorado baseada em dados indiretos – medidas de temperaturas de poços para petróleo perfurados a partir dos anos 1970. Além disso, a conclusão não foi avaliada por pesquisadores independentes e contém uma série de imprecisões de interpretação e de linguagem, ferindo conceitos arraigados nas Geociências.

    O rio Amazonas atravessa, de oeste para leste, sucessivamente cinco grandes bacias sedimentares, denominadas Acre, Solimões, Amazonas, Marajó e Foz do Amazonas. Em geologia, “bacia sedimentar” significa uma depressão que, ao longo do tempo, recebe diferentes materiais sedimentares (areia, lama, etc) de uma ou mais fontes. Essas bacias estão preenchidas por uma sucessão de camadas de rochas sedimentares com milhares de metros de espessura. Quando porosas, as rochas contêm água subterrânea, situação comum em bacias sedimentares. Se, além de porosas, as rochas forem permeáveis (os poros interconectados), em geral há fluxo de água subterrânea, normalmente com velocidades medidas em cm/ano. A situação também é normal em bacias sedimentares e os diversos aquíferos das bacias atravessadas pelo Rio Amazonas são conhecidos e vem sendo estudados há tempos pelos geólogos brasileiros.

    Uma explicação aceita pela ciência geológica brasileira é de que o “Rio Hamza”, “descoberto” pelos geofísicos do Observatório Nacional, não é um rio, mas um possível fluxo muito lento no interior de um aquífero formado por rochas sedimentares porosas e permeáveis. Mesmo como figura de linguagem, o termo “rio subterrâneo” utilizado por aqueles pesquisadores está absolutamente incorreto para o caso em questão, visto que esse termo é usado, e apenas com cautela, nas situações em que águas fluem através de cavernas. A água não é doce – a essa profundidade trata-se de uma água supersaturada em sais solúveis, ou seja, uma salmoura. Não está comprovada a continuidade do aquífero profundo por 6.000 km, nem se faz ideia se há descarga de suas águas para outras bacias sedimentares próximas. É uma temeridade afirmar, como se fez na Tese em debate, que a água deste aquífero exerceria alguma influência na salinidade de águas marinhas próximo à foz do atual rio Amazonas. A existência de “bolsões de água doce” no Oceano Atlântico próximo deve-se à tremenda descarga do Rio Amazonas, cujas águas invadem o mar por muitos quilômetros desde sua foz.

    A forma equivocada de divulgação de resultados de pesquisa, ainda preliminares, abala a credibilidade da pesquisa brasileira, como neste caso, em que a “descoberta” de um falso “rio subterrâneo” foi alardeada de maneira precipitada e sensacionalista.

    Os signatários desta carta aberta vêm, de forma responsável, contestar as conclusões tomadas como certas, mas que na verdade carecem de qualquer sentido técnico à luz da ciência geológica que se pratica no Brasil e no mundo.

    Prof. Dr. Celso Dal Ré Carneiro (UNICAMP)
    Prof. Dr. Eduardo Salamuni (UFPR)
    Prof. Dr. Luiz Ferreira Vaz (UNICAMP)
    Prof. Dr. Heinrich Theodor Frank (UFRGS)
    Apoio: Federação Brasileira de Geólogos – FEBRAGEO

    1. Avatar de Celina Nascentes

      O ambientalsustentavel.org agradece a informação e publica a “Carta Aberta” sobre o “Rio Hamza”

  4. Avatar de Valiya Hamza
    Valiya Hamza

    Agradecemos aos Professores Celso Dal Rey Carneiro, Eduardo Salamuni, Luiz Ferreira Vaz e Heinrich Teodor Frank e com apoio declarado da FEBRAGEO (abreviado aqui como CSVFF) pelos comentários. Isso abre oportunidade para esclarecer mais uma vez as questões referentes ao fluxo subterrâneo na região Amazônica.
    O trabalho de Pimentel e Hamza (abreviado aqui como PH) apresentado no último Congresso da Sociedade Brasileira de Geofísica não trata de provas diretas sobre a existência de um “rio” subterrâneo. Apresenta indícios de um fluxo subterrâneo na região Amazônica. Não utilizamos o termo “aqüífero”, pois isso implica uma região onde se acumula a água subterrânea e que permanece em estado relativamente imóvel. Caso ocorra movimentos de recarga natural nos aqüíferos também deverá ter zonas de descargas naturais. Os dados analisados por PH não apontam um aqüífero com águas estacionárias, mas um pacote sedimentar onde há fluxos de recargas verticais em toda extensão da calha Amazônica. Essa observação implica em fluxos laterais na parte basal das bacias sedimentares desta região. O trabalho se baseia em grande parte nos dados adquiridos pelo PETROBRÁS e o modelo hidrogeológico utilizado é consagrado na literatura relevante. Esse método já foi utilizado nos estudos de movimentos de águas subterrâneas em dois locais no Brasil e os resultados foram publicados em revistas científicas conceituadas.
    A divulgação na mídia nacional sobre “Rio Hamza” não foi por iniciativa dos autores PH. Decorreu inicialmente como parte de divulgação das atividades científicas institucionais. A rede internet e os meios de comunicação em massa se encarregam com divulgação de cunho popular, sendo que há exageros e erros. Um exemplo é a citação sobre a vazão do Rio Amazonas como sendo 133m3/s em vez de 133.000m3/s.
    O primeiro parágrafo dos comentários de CSVFF dispensa resposta, pois trata de assuntos elementares de livros texto. O segundo parágrafo começa com afirmação em nome da “ciência geológica Brasileira”, implicando que CSVFF já tomaram posse desta área científica. Não há indícios de que a divergência de opinião é unanimidade entre os integrantes de toda Sociedade Geológica Brasileira. É provável que esteja restrito aos grupos menos esclarecidos. De qualquer forma, deixamos esse assunto para comentários da Sociedade Brasileira de Geologia.
    Os demais comentários de CSVFF giram em torno de opiniões e convicções pessoais dos autores sobre questões semânticas. Não houve questionamentos sobre o mérito científico do trabalho de PH (base de dados utilizada, modelo hidrogeológico e técnica de interpretação). Sugerimos que CSVFF publicassem os seus resultados em revistas com arbitragem científica, em vez de contentar com comentários de blogs.
    O termo “RIO” possui mais de 37 definições na literatura. É utilizado para referir se á passagem do tempo (como rio de eventos), jogos de baralhos (rio da quinta cartada), riqueza (rio de dinheiro), medicina (rio de sangue), vulcanologia (rio de lavas) e hidrologia (rios de águas pluviais na superfície terrestre), entre outros.
    A tentativa de CSVFF de associar o uso do termo “rio subterrâneo” exclusivamente ao fluxo de águas nas cavernas aponta conhecimento geológico limitado sobre o assunto. O uso do termo “absolutamente incorreto” aponta falta do devido rigor científico nas afirmações de CSVFF. Opiniões dessa natureza são conhecidas no meio científico como a do “Sapo do Poço”.
    Há três modos de transporte de umidade na região amazônica, descritos como rios voadores ou atmosféricos (depende das condições atmosféricas e padrões climáticas), rios da superfície (decorrente de drenagem pluvial) e rios subterrâneos (fluxo de águas em meios geológicos permeáveis).
    As questões sobre salinidade não foi tratada no trabalho de PH, pois não realizamos análises químicas das águas e estudos geoquímicos. Este é assunto de pesquisa também em hidrogeologia. CSVFF declara que as águas profundas na região Amazônica é salmoura. Na ausência de citações de trabalhos científicas ou evidencias diretas consideramos que essa declaração é derivada de convicções pessoais, sem fundamento científico.
    Salmouras surgem nos meios geológicos como conseqüência de tempos de permanecia de águas no meio poroso maior que o tempo necessário para ocorrência das reações químicas de dissolução. No caso de águas em movimento, o tempo curto de permanência dificulta as reações químicas de dissolução. Por esta razão, as águas profundas em movimento no meio geológico apresentam salinidades relativamente menores.
    Na região de Foz do Amazonas há indícios de duas zonas de baixa salinidade. A primeira é situada relativamente próxima á área costeira e é decorrente da mistura de águas pluviais com a do mar. Apresenta altos teores de sedimentos em suspensão, transportados pelo Rio Amazonas. Na borda externa dessa zona os teores de sedimentos em suspensão são significativamente menores, apesar da presença de águas de baixa salinidade. Uma das hipóteses prováveis é a contribuição de fluxo subterrâneo nas porções mais distantes do talude continental.
    Apesar da declaração ao contrário os comentários dos parágrafos finais de CSVFF configuram como irresponsáveis no meio científico, pois não abordaram as questões científicas tratadas no trabalho de PH.

    Prof. Dr. Valiya M Hamza (ON/MCT)

    1. Avatar de Celina Nascentes

      O ambientalsustentavel.org agradece seu esclarecimento e zelo pela pesquisa. Informamos a publicação na íntegra _ Réplica à Carta Aberta sobre o “Rio Hamza” _ enviada por Prof. Dr. Valiya M Hamza ( ON/MCT), e lhe desejamos reconhecimento pelo árduo trabalho na pesquisa científica.

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