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10 medidas para evitar que a crise da água piore no ano que vem

 9738 Pássaro voa em represa em Itu que chegou a apenas 2% de sua capacidade. Itu é uma das cidades mais afetadas pela crise da água no Sudeste (Foto: Andre Penner/AP)
Pássaro voa em represa em Itu que chegou a apenas 2% de sua capacidade. Itu é uma das cidades mais afetadas pela crise da água no Sudeste (Foto: Andre Penner/AP)

Novembro está com uma situação surreal para os paulistanos: falta de água e enchente ao mesmo tempo. As chuvas, esperadas há meses para aliviar a grave seca no Sudeste, finalmente chegaram, mas elas estão longe de resolver o problema. As estimativas mais otimistas indicam que o período chuvoso não deve encher mais do que 30% da Cantareira, o que indica que a crise continuará em 2015.

Segundo Marussia Whately, especialista em gestão de recursos hídricos do Instituto Socioambiental (ISA), a situação mostra o quanto estamos vulneráveis na questão da água. “Um verão de chuvas não será suficiente para recuperar os mananciais. Será um grande desafio conseguir manter a sociedade informada e mobilizada para enfrentar a crise no ano que vem”, diz.

Marussia está coordenando um projeto que envolve mais de 30 organizações da sociedade civil para apontar soluções sobre a crise, e levantou informações para fazer um diagnóstico da situação. Com base nesse diagnóstico e nas dezenas de reportagens que publicamos sobre a crise hídrica em São Paulo, preparamos uma lista de medidas que podem ser colocadas em prática para evitar que o sistema de abastecimento entre em colapso no próximo ano.

1. Incentivos (e multas) para reduzir o consumo

Em momentos de crise, o famoso clichê “faça a sua parte” vale mais do que nunca. Os consumidores precisam reduzir o desperdício e utilizar menos água. Mas o peso não pode cair todo nas costas dos cidadãos. O poder público deve criar medidas de incentivo para isso. O bônus para os consumidores que economizaram água já está em curso em São Paulo, mas tem efeito limitado. ONGs defendem uma proposta um pouco mais impopular: multar o consumo excessivo. A medida é polêmica e o governo paulista anunciou que não pretende colocá-la em prática.

2. Os mais pobres também têm direito à água

O governo precisa assegurar que todas as faixas de renda e consumo tenham acesso à água, mesmo em situações de rodízio ou racionamento. Consumidores de maior poder aquisitivo ou grandes empresas podem buscar alternativas, como perfurar poços ou comprar caminhões-pipa. Consumidores de baixa renda não têm essa possibilidade e sofrem mais com os cortes de água.

3. Atenção para a saúde

A crise da água pode desencadear problemas sérios de saúde pública. Uma das preocupações é com os cortes e racionamento. Ao diminuir a pressão da água, possíveis furos ou buracos nos encanamentos podem permitir que a água se contamine no caminho de casa. Outra preocupação é na forma como as famílias armazenam a água da chuva. Deixar em baldes ou recipientes abertos pode ser um perigo no combate a doenças como a dengue (ou o novo vírus chikungunya). O poder público precisa preparar uma forte campanha para conscientizar o público.

4. Uma gestão mais

Tem racionamento ou não tem? Não faltam críticas para a forma como o governo Geraldo Alckmin conduz a crise da água, e uma delas é na questão da transparência. É difícil conseguir as informações sobre o que está de fato ocorrendo, com uma série de denúncias de um “racionamento não oficial”. O governo, a Sabesp e as prefeituras precisam ser mais transparentes, divulgando para a população os locais e horários de onde pode faltar água para permitir que a população se prepare.

Médio prazo

5. Implementar medidas “atrasadas”

Um ponto em comum nas análises de vários especialistas em segurança hídrica é de que já se sabia que São Paulo estava em uma situação frágil no abastecimento. Em 2004, por exemplo, houve uma seca muito grave e foram feitos projetos para ampliar o sistema. Esses projetos não saíram do papel, principalmente por conta da burocracia e da falsa sensação de segurança após anos muito chuvosos, como 2010 e 2011. Essas medidas precisam ser implementadas, e devem ser pensadas não apenas em momentos de crise, mas principalmente quando a situação do abastecimento for normalizada.

6. Reduzir perdas

Um estudo do Instituto Trata Brasil mostra que São Paulo perde mais de 30% da água durante a distribuição. A maior parte é causada por vazamentos nos canos e tubulações, mas uma quantidade considerável dessa água se perde por ligações ilegais. Os governos e a Sabesp precisam apresentar políticas de redução de perdas, com metas progressivas, e acabar com o desvio irregular de água.

7. Iniciar a restauração de florestas

Há vários indícios de que, se as matas e florestas brasileiras não estivessem tão degradadas, São Paulo conseguiria resistir melhor à estiagem. As árvores evitam o assoreamento de rios e represas e regulam o clima. Um levantamento mostrou, por exemplo, que a Mata Atlântica está muito mais desmatada na região da Cantareira do que se acreditava antes. Reflorestar é urgente, e o resultado é muito rápido: a cidade de Extrema, em Minas Gerais, pagou para que proprietários reflorestassem as nascentes, e hoje enfrenta a estiagem sem o risco de desabastecimento.

Longo prazo

8. Reutilizar a água

O anúncio de que o governo de São Paulo faria obras para utilizar a água de reúso não foi bem recebido. Para alguns, parece que a Sabesp vai misturar esgoto com água de abastecimento. Não é bem assim. O esgoto tratado pode sim ser usado em muitas situações. Essa água já é utilizada para limpar ruas e parques após eventos ou uma feira, por exemplo. Não faria sentido fazer isso com água potável. Outra medida importante é captar a água da chuva. Hoje, essa água escorre para os rios, que estão poluídos, e se mistura ao esgoto. Um grande desperdício para o abastecimento.

9. Despoluir os rios

O cartunista Laerte Coutinho, em sua conta no Twitter, sintetizou com clareza o problema: “Quando eu penso que S. Paulo está no meio de 2 rios nada secos e que os transformou em esgoto…”. Os paulistanos não podem utilizar as águas do Tietê, do Pinheiros, do Tamanduateí e de vários outros córregos na cidade, destruídos pela poluição – desde esgoto urbano até “ilhas” de plástico e latas que são jogadas sem pudor nas ruas. Despoluir os rios é mais do que urgente. É um processo difícil, caro e demorado, mas precisa ser feito, e já há tecnologia disponível para isso. Enquanto isso, os cidadãos precisam parar de jogar lixo na rua. Nem que seja por força da lei, como a multa que a cidade do Rio de Janeiro implantou.

10. O clima extremo está aí

O último relatório do IPCC já alertava: o aquecimento global está aí. E a previsão é de que eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes. Não dá pra dizer se a seca atual é causada pelas mudanças climáticas, mas os cientistas acreditam que teremos que aprender a conviver com secas extremas ou chuvas torrenciais. No entanto, nem o governo federal nem os governos estaduais têm planos para enfrentar essa situação. Já é o momento de elaborar esses planos e se preparar para um clima mais hostil no futuro.

(Época – Blog do Planeta.)
Fonte: http://www.portaldomeioambiente.org.br/agua/9738-10-medidas-para-evitar-que-a-crise-da-agua-piore-no-ano-que-vem

 

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