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Promessa é dívida

A redução da disponibilidade de etanol nos postos de todo o país e o aumento do custo do combustível verificados nos últimos meses ameaçam o cumprimento das metas brasileiras de corte de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Isto porque alavancam o uso de combustíveis fósseis, ocasionando um aumento nas emissões de poluentes. Este problema aparentemente não estava previsto pelos governantes do país quando, em 2009, durante a COP 15, se comprometeram em diminuir as emissões em até um bilhão de toneladas de gás carbônico até 2020. Afinal, embora as metas não façam referência especificamente ao etanol, davam como certa a manutenção de um cenário mais favorável ao biocombustível, cujas emissões de CO2 são neutralizadas durante o crescimento da cana-de-açúcar.

Atualmente, a energia limpa das hidrelétricas e do etanol está entre os principais responsáveis pelo fato de o Brasil dispor de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Entretanto, os desafios enfrentados na substituição de derivados de petróleo pelo biocombustível da cana deixam a matriz de transportes brasileira cada vez mais dependente das fontes fósseis. O fato é que uma série de fatores vem comprometendo a ampliação do uso do etanol nos últimos dois anos. Com isso, desde 2010 as vendas caíram 35%, o equivalente a seis bilhões de litros.

Por trás disso, verifica-se uma importante desaceleração da produção. Segundo levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), houve queda de 23,44% no volume produzido na última safra. De abril de 2011 à primeira quinzena de fevereiro deste ano, a colheita da cana gerou 20,56 bilhões de litros do biocombustível. Na safra anterior, esse volume tinha sido de 25,38 bilhões.

Tal constatação é bastante preocupante, ainda mais se forem consideradas as projeções de processamento da safra atual. Diversos levantamentos divulgados no começo de março por consultorias do setor apontam para a tendência de manutenção do volume produzido de cana: enquanto a safra 2011-2012 resultou na colheita de 490 milhões de toneladas de cana, na próxima temporada, a expectativa é atingir 500 milhões de toneladas, volume apenas 2% maior.

Todo esse cenário gera um ciclo vicioso no mercado, na contramão da meta de estimular o desenvolvimento sustentável do país. Quanto menor a produção de etanol, maior o preço do produto na bomba. Esta situação desestimula o consumidor a optar pelo biocombustível e, como consequência da baixa de demanda, o produtor perde o interesse em aumentar a parcela da cana que vira etanol. Condições climáticas inadequadas para a produção completam o cenário.

Na avaliação da Unica, a saída para se quebrar esse círculo vicioso passa pelo aumento dos investimentos no setor para estimular a produção do etanol, reduzindo os custos para o produtor e, consequentemente, ao consumidor. Segundo estimativas da entidade, é necessário ampliar os investimentos do setor em cerca de R$ 150 bilhões até 2020 para dobrar a geração do biocombustível. Só assim o combustível poderia efetivamente contribuir em favor da viabilização da meta global de redução de poluentes do país, auxiliando no cumprimento do que foi previsto pelo governo.

A responsabilidade pelo sucesso dessa missão, contudo, cabe a todos nós, e não somente à indústria e ao governo. Isso porque, ao optar pelo biocombustível, o consumidor final ou o gestor de frotas está efetivamente reduzindo as emissões causadas pelos deslocamentos pelos quais é responsável.

Além disso, na maioria dos casos, os benefícios de se abastecer o carro com etanol incluem expressivas reduções de custos. Isso porque o cálculo da condição ótima em termos econômicos para cada veículo – ou seja, a relação entre o custo da gasolina e do etanol – depende de muitos outros fatores, como o comportamento do condutor, as condições de manutenção do veículo e das estradas, e características inerentes ao próprio modelo de carro. Ou seja, mais do que considerar a relação de 70% entre os preços dos combustíveis, é preciso conhecer o comportamento de cada veículo para verificar qual é a relação ótima de preços dos dois combustíveis. E a experiência com nossos clientes de gestão de frotas tem mostrado, via de regra, vantagens significativas para o etanol na maioria das situações.

Primar pelo compromisso nacional firmado na COP 15 é um dever de toda a sociedade e um país com dimensões continentais e com um clima e solo tão favoráveis não pode deixar de dar o exemplo. Certamente seremos cobrados por essa responsabilidade durante a Rio+20, conferência das Nações Unidas que ocorrerá em junho deste ano. Será a hora de mostrar ao mundo que estamos nos esforçando para cumprir o papel que nós mesmos nos atribuímos, de preservação daquilo que temos de mais invejável, o nosso meio ambiente. Mas será que estamos nos esforçando mesmo? A situação do mercado de etanol indica que ainda falta muito.

* Rodrigo Somogyi é gerente de inovação e sustentabilidade da Ecofrotas.

(O Autor)

Fonte: Envolverde


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