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ISO 26.000: “Norma nasceu da demanda dos consumidores”

Em dezembro de 2010, foi publicada no Brasil, a versão em português da ISO 26.000. Ainda pouco conhecido, o documento elenca as diretrizes para a adoção da responsabilidade social pelos diferentes tipos de organizações  e foi criado pela Organização Internacional de Normalização (ISO, sigla em inglês), com sede em Genebra, na Suíça. A entidade tem como objetivo criar normas que facilitem o comércio e promovam boas práticas de gestão e o avanço tecnológico, além de disseminar conhecimentos. Diferentemente das suas normas mais conhecidas – a ISO 9.000, para gestão da qualidade, e a ISO 14.000, para gestão do meio ambiente – a ISO 26.000 não certifica práticas corporativas, mas sim fornece às instituições orientações e subsídios para implantação e aprimoramento de modelos de gestão mais sustentáveis.

Segundo o site do Grupo de Articulação das ONGs na ISO 26.000 (GAO), o objetivo dessa norma é “orientar as organizações de todos os tipos e tamanhos sobre os cuidados e princípios que devem ser seguidos por quem deseja ser socialmente responsável. Deve ainda trazer orientações sobre o processo de incorporação da responsabilidade social às atividades de uma organização, e indicações sobre os principais instrumentos, sistemas e entidades que atualmente tratam do tema”.

A fim de oferecer mais informações ao consumidor sobre a ISO 26000 e sobre seu impacto na adoção de práticas mais conscientes, o Akatu conversou com Aron Belinky, Secretário Executivo GAO. Belinky é também especialista em responsabilidade socioambiental e sustentabilidade e colaborador frequente de projetos do Akatu.

Veja os principais trechos da entrevista:

Instituto Akatu – Por que a ISO 26.000 é diferente de outras certificações?
Aron Belinky –
 É preciso que fique bem claro que a ISO 26.000 é uma norma do tipo “guia de diretrizes” de responsabilidade social. Diferentemente de outras normas, ela não pressupõe um check-list de ações que devem ser implementadas pelas organizações como pressuposto para obtenção de uma certificação ou qualquer coisa do tipo. As instituições que decidirem adotar ou até mesmo aprimorar as normas de responsabilidade social precisam estuda-la de forma a identificar como as várias recomendações se aplicam à sua realidade, considerando seu ramo de atividade, seu produto, seu serviço e seus stakeholders.

Instituto Akatu – Por que as empresas se interessam pela ISO 26.000?
Aron Belinky – 
Um dos itens da norma enumera 16 benefícios resultantes da adoção de uma gestão socialmente responsável. Desse total, três têm a ver com a imagem da instituição. Os 13 restantes têm a ver com outros benefícios decorrentes de uma gestão social. A ISO 26.000 permite minimizar o risco da instituição se ver distante da realidade.  Sem uma gestão eficaz de comunicação, que está prevista na ISO 26.000, isso não é possível. A capacidade da organização para perceber as mudanças da sociedade em geral e, particularmente, do comportamento e das necessidades do consumidor, depende de um canal de comunicação aberto, rápido e eficaz de interação com este consumidor. Assim, antes de ser uma questão de imagem, é uma questão de estar em sintonia com as mudanças, com as inovações. Na medida em que a ISO 26.000 é o mais abrangente e o mais focado documento que conecta sustentabilidade à responsabilidade social e à gestão organizacional, ela se coloca como um fator fundamental na competitividade estratégica, já que permite detectar rapidamente as mudanças de cenário e se adaptar a elas.

Instituto Akatu – No Brasil, quais as instituições que adotaram a norma?
Aron Belinky – 
É visível um interesse bastante grande das várias instituições brasileiras em seguir as recomendações da ISO 26.000, a começar por aquelas que participaram do processo de construção da norma. Mas não temos uma estatística ou números sobre sua implementação, até mesmo pela natureza da norma, que tem caráter orientador e não certificador.

Instituto Akatu – Como a norma beneficia o consumidor?
Aron Belinky –
 O consumidor é amplamente beneficiado, na medida em que os efeitos da adoção da ISO 26.000 se refletem na qualidade do produto, do serviço e das relações comerciais e sociais, que tendem a se tornar mais sustentáveis. Aliás, é importante lembrar que a ISO 26.000 nasceu de uma demanda de um comitê de políticas para defesa de interesses dos consumidores da própria ISO. Foi esse órgão que, há seis anos, provocou a discussão sobre a necessidade de um documento de referência. O processo contou com a participação de empresas, sociedade  civil e consumidores e resultou neste formato de norma que temos hoje.

Instituto Akatu – Como o consumidor pode fazer uso da norma?
Aron Belinky –
  Primeiro ele precisa conhecer a norma. Deve então usá-la como referência sobre aquilo que pode se esperar de uma empresa socialmente responsável. A norma em si é voltada para as empresas e por isso o documento deve ser comprado na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Mas há  uma publicação que foi feita em conjunto pelo GAO e o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVCes), que a resume e que reúne as discussões que nortearam a construção da norma desde 2006. Ela está disponível paradownload gratuito.

A intenção da ISO 26.000 é fornecer às instituições orientação e subsídios para implementação e aprimoramento da gestão de responsabilidade social sustentável. Conhecendo-a, o consumidor deve acompanhar e cobrar seu cumprimento pelas empresas, nos diversos canais de contato que tem com elas. Ou seja, ele deve se manifestar por meio das ouvidorias para questionar sobre informações duvidosas em propagandas veiculadas na mídia ou que são colocadas em seus produtos. É importante que fique claro que isso não é pouca coisa.

É preciso dizer que ainda é preciso, em um futuro próximo, desenvolver um formato da norma que dê praticidade ao consumidor no momento da decisão de compra. É preciso também continuar as discussões para dar mais força e velocidade à adoção de reponsabilidade social pelas empresas.

Fonte: Instituto Akatu


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