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Brasil conhece pouco sobre espécies nativas de liquens, diz cientista

Imagem meramente ilustrativa

O conhecimento do Brasil sobre suas próprias espécies de liquens ainda é pequeno, segundo a análise de uma pesquisadora da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (Unesp), que já identificou mais de 20 liquens diferentes só no estado de São Paulo.

Liquens ocorrem como resultado da parceria entre fungos com algas verdes ou cianobactérias. Este tipo de “vida a dois” se chama simbiose e significa que ambos (o fungo e a alga) precisam permanecer juntos e morrem quando separados. A união traz benefícios à vida de pelo menos um dos parceiros envolvidos.

Para a cientista Patrícia Jungbluth, pós-graduanda no Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da universidade, o número de especialistas sobre liquens no país não é grande. “Não deve passar de uma dezena e parte dessas pessoas são pós-graduandas como eu”, diz a pesquisadora, que chegou a divulgar a existência de cinco novos liquens somente em 2011.

Até o final de 2012, ela deve concluir a análise de outra espécie. “Nós acabamos descobrindo muito mais do que publicamos”, conta Patrícia. “Até no quintal da chácara dos meus pais eu encontrei duas espécies novas”, afirma a especialista, que acredita que sejam conhecidas pouco mais de metade dos liquens existentes no Brasil.

Mesmo com a fartura de espécies no país, o campo pouco atrai os recém-graduados em biologia. “Os estudantes de hoje se interessam mais por outras áreas, muitos saem da graduação sem sequer terem ouvido falar de líquens”, diz Patrícia.

Já Patrícia levou seu gosto por esses seres vivos durante toda a sua formação. Como tese de doutoramento em 2011, ela divulgou a existência de uma espécie de líquen nomeada Pyxine jolyana, que produz uma substância que pode ser capaz de afastar animais herbívoros e fungos. O líquen foi detectado em três municípios paulistas: Peruíbe, Ubatuba e São Luís do Paraitinga.

Uso comercial
Conhecer as espécies e classificá-las faz parte do trabalho da taxonomista. “Essa é a base para as pesquisas posteriores. Ao saber quais são os liquens, eu posso realizar estudos para ver, por exemplo, se os líquens podem fornecer substâncias úteis à farmacologia”, diz.

Algumas espécies alcançam apenas 1 centímetro durante toda a vida, enquanto outras como as barbas-de-bode podem chegar a 2 metros no Brasil. Mas em todos os casos, esse crescimento é lento, apenas milímetros durante um ano.

Na Europa e nos Estados Unidos, substâncias contra o câncer, fungos e bactérias são extraídas dos liquens. “Esses países são zonas temperadas, com menor diversidade. Aqui no Brasil esse potencial deve ser muito maior”, acredita a pesquisadora, que confessa que os estudos com líquens requerem paciência para trazer resultados. “As pessoas são muito imediatistas, trabalhar com líquen não vai render dinheiro a princípio.”

Liquens podem ser usados como indicadores para a qualidade do ar. “Quando um ambiente está desequilibrado, pode haver uma interferência na simbiose e o líquen pode morrer”, diz Patrícia. Este tipo de dano pode ser causado pela presença de metais pesados no ar e nas águas das chuvas, que podem ser absorvidos pelos liquens.

Ameaça
Outro emprego dos líquens está na indústria de perfumes, que utiliza substâncias dos seres vivos simbióticos para fixar as essências, mas pode chegar a explorá-los sem controle. Segundo Patrícia, não existe um padrão para o aproveitamento dessas espécies.

“Como poucas pessoas pesquisam sobre os liquens, não existem regras para protegê-los”, afirma. “O ideal seria que a indústria tentasse fazer a substância fixadora em laboratório, sem a extração indiscriminada das espécies.”

O desmatamento também ameaça os liquens e pode fazer com que espécies inteiras desapareçam sem que os pesquisadores cheguem a identificá-las. “Elas somem antes que a gente possa saber se um dia podem ser úteis ao ser humano”, diz a cientista.

Fonte: G1 Natureza

 


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