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Autores de estudo barrado sobre vírus mortal defendem publicação

Autores de um estudo sobre o vírus da gripe aviária (H5N1) que tiveram seu trabalho barrado para publicação em revistas científicas defenderam a divulgação de seus resultados em artigo publicado na revista “Science”, nesta quinta-feira (19).

A equipe de Ron Fouchier, do centro médico Erasmus, da Holanda, estuda a transmissão do vírus da gripe aviária, que já matou 340 pessoas no mundo. Ainda não existem casos confirmados de transmissão de pessoa para pessoa – mas é exatamente o que aconteceria nesse caso que o grupo de Fouchier estuda.

Em setembro, a equipe anunciou a criação de uma mutação do H5N1, que teria a capacidade de ser transmitido entre mamíferos, para suas análises. O trabalho foi encaminhado para publicação na “Science” e também na “Nature” – passo necessário para o reconhecimento da pesquisa pela comunidade científica.

Ao compararmos o nível de ameaça atual imposta pelo bioterrorismo com nossa experiência passada com a ameaça do vírus da gripe, nós acreditamos que a própria natureza pode ser considerada a principal bioterrorista.”
Ron Fouchier, Sander Herfst e Albert Osterhaus, do centro médico Erasmus

Em 30 de novembro, no entanto, o Painel Consultivo sobre Biossegurança dos Estados Unidos (NSABB, na sigla em inglês) pediu que as revistas omitissem detalhes sobre a metodologia científica do trabalho que permitiriam que ele fosse copiado, por questões de segurança.

Desde então, as duas publicações estudam como e se vão divulgar o estudo. Na época, a “Science” disse que compreendia o pedido do painel, mas que estava preocupada “por censurar informação potencialmente importante para a saúde pública”.

No artigo publicado nesta quinta, Fouchier e seus colegas afirmam que sua pesquisa é importante porque “as recomendações sobre os riscos do vírus HPAI H5N1 causar uma pandemia mundial são baseadas apenas em opiniões, não em fatos”.

“Nosso trabalho na transmissão aérea do vírus HPAI H5N1 foi feito de maneira completamente aberta e a decisão de realizar esse trabalho foi tomada após consultas sérias nos níveis local, nacional e internacional”, diz o texto. O artigo detalha as condições de segurança dos laboratórios.

Os autores dizem que respeitam o pedido do NSABB, embora não concordem com ele. “A recomendação da NSABB de restringir a publicação de resultados de pesquisa é sem precedentes e um desvio enorme das práticas comuns das ciências da vida”, afirma o texto.

“Ao compararmos o nível de ameaça atual imposta pelo bioterrorismo com nossa experiência passada com a ameaça do vírus da gripe, nós acreditamos que a própria natureza pode ser considerada a principal bioterrorista”, diz o grupo.

Não é através do medo que vamos parar uma pandemia de H5N1. A busca do conhecimento é o que tornou os humanos resistentes”
Daniel Perez, Universidade de Maryland

Defesa
A “Science” também publicou nesta quinta outros três artigos sobre o assunto. Em um deles, o argentino Daniel Perez, do departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Maryland, defende a execução de pesquisas sobre a gripe aviária e a publicação de seus resultados.

Segundo o cientista, a pandemia de influenza de 2009, do vírus da gripe A (H1N1) foi causada, “entre outros fatores, porque não tínhamos um entendimento completo do que faz uma linhagem de influenza se tornar transmissível a humanos”.

“Ainda não sabemos se um vírus H5N1 que tenha conseguido a capacidade de ser transmissível pelo ar em aves pode ser transmitido da mesma maneira em humanos. Não sabemos se o potencial existe, mas não é através do medo que vamos parar uma pandemia de H5N1. A busca do conhecimento é o que tornou os humanos resistentes, uma espécie capaz de superar nossos piores medos”, diz Perez.

Acusação
Em outro artigo, Michael Osterholm, da Universidade de Minnesota, e Donald Henderson, da Universidade de Pittsburgh, defendem a posição da NSABB.

As linhagens que circulam atualmente do H5N1, com sua mortalidade em humanos estimada entre 30% e 80%, colocam esse patógeno na categoria de uma das doenças infecciosas humanas mais mortais conhecidas”
Michael Osterholm, Universidade de Minnesota, e Donald Henderson, Universidade de Pittsburgh

Para eles, “a publicação de detalhes de pesquisas recentes envolvendo a transmissibilidade da influenza aviária apresenta muito mais riscos do que qualquer benefício que possa trazer”.

A dupla diz considerar os méritos possíveis da divulgação desses resultados, mas acredita que um fato precisa ser levado em consideração: “as linhagens que circulam atualmente do H5N1, com sua mortalidade em humanos estimada entre 30% e 80%, colocam esse patógeno na categoria de uma das doenças infecciosas humanas mais mortais conhecidas.”

Intervenção governamental
Por fim, em seu artigo, John Kraemer e Lawrence Gostin, da Universidade Georgetown, criticaram a “intervenção governamental na ciência”.

Para eles, um “processo de revisão institucional transparente vai equilibrar a liberdade científica com a segurança nacional de maneira melhor do que restrições a publicações”.

Fonte: G1

 


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