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A expansão econômica do Sul é sustentável?

A expansão econômica do Sul é sustentável?

Genebra, Suíça, maio/2012 (IPS/South Centre) – O crescimento das economias em desenvolvimento se acelerou no novo milênio. Enquanto nas décadas de 1980 e 1990 cresceram em média pouco mais do que as economias avançadas, desde os primeiros anos deste século até a crise global, a diferença subiu para cinco pontos.

Esta diferença aumentou ainda mais entre 2008 e 2011 após o colapso das economias avançadas. A aceleração se observa em todas as regiões em desenvolvimento, que crescem mais rapidamente do que no passado. A notável exceção é a China, que cresceu no novo milênio, em geral, no mesmo (embora rápido) ritmo dos anos 1990.

Por isso, é costume se dizer que a economia do Sul está se “desacoplando” da do Norte. Contudo, a principal dúvida é se ocorre uma virada duradoura na tendência do crescimento do Sul com relação ao Norte. Um olhar mais atento mostra que o crescimento do Sul se deve em boa parte a excepcionais e insustentáveis condições econômicas, bem como à melhoria em seus próprios fundamentos.

Antes de a crise financeira atingir, em 2008, o crédito e o consumo, e fizesse explodir as bolhas imobiliárias, sobretudo nos Estados Unidos, havia se formado um clima global altamente favorável para as economias em desenvolvimento no comércio e no investimento, nos fluxos de capital e nos preços das matérias-primas.

Pelo menos um terço do crescimento pré-crise da China se deveu às exportações, principalmente para as economias avançadas. A proporção é ainda maior para as pequenas economias exportadoras asiáticas.

Há uma estreita correlação entre expansão imobiliária e déficits em conta corrente, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países que sofreram transtornos financeiros em seguida.

Desde o começo deste século, as taxas de juros historicamente baixas e a rápida expansão da liquidez nos Estados Unidos, na Europa e no Japão desencadearam uma busca por rendimentos e o consequente auge nos fluxos de capital para as economias em desenvolvimento.

Isso foi complementado por uma onda de remessas de trabalhadores, que chegam a mais de 25% do produto interno bruto em alguns países menores, e a mais de 3% na Índia. Os preços das matérias-primas também subiram fortemente, em grande parte graças ao rápido crescimento da China, empurrado pelas exportações para as economias avançadas.

Com a queda do mercado imobiliário, o ambiente econômico internacional se deteriorou em todas as áreas que antes haviam apoiado a expansão nos países em desenvolvimento.

Os fluxos de capital e os preços das matérias-primas retrocederam e as economias avançadas se contraíram. No entanto, as economias em desenvolvimento mostraram resiliência e reagiram rapidamente, especialmente onde uma forte resposta anticíclica foi possível graças às reservas e às posições fiscais favoráveis acumuladas durante o período anterior.

O impulso para o crescimento em algumas destacadas economias do Sul se voltou para a demanda interna, mesmo em países que antes tinham uma economia orientada para a exportação.

O crescimento baseado no investimento deu um estímulo ainda maior aos preços já altos das matérias-primas, anteriores à crise.

Os fluxos de capital também se recuperaram graças às drásticas baixas nas taxas de juros e à expansão monetária das economias avançadas em resposta à crise. A afluência de capitais foi mais do que suficiente para enfrentar déficits crescentes em vários dos principais países em desenvolvimento, incluindo Índia, Brasil, Turquia e África do Sul.

Por várias razões, é improvável que se sustente a meio termo o excepcional crescimento gozado pelo Sul nos últimos dez anos. O retorno às muito favoráveis condições prevalentes antes da crise global é impedido pelos rígidos ajustes que agora enfrentam as economias avançadas.

Certamente as tentativas para voltar ao “aqui não houve nada”, impulsionando a “locomotiva” norte-americana mediante crescentes déficits, desestabilizariam seriamente o comércio internacional e os sistemas monetários.

Por outro lado, o crescimento pós-crise baseado na demanda doméstica não poderá se manter por muito tempo. Já há sinais de desaceleração.

A estratégia da China de enfrentar a queda das exportações para as economias avançadas com elevação dos investimentos não pode funcionar indefinidamente.

Falta uma política voltada para o crescimento que se apoie no consumo interno, o que implica aumentar o consumo privado, que atualmente é de apenas 35% do PIB. Isto é, optar por uma importante redistribuição da renda.

Mesmo uma desaceleração moderada do crescimento na China, de 7%, poderia causar o fim do auge das matérias-primas e ameaçar as perspectivas de crescimento de uma série de países latino-americanos e africanos.

A maioria das economias em desenvolvimento necessita rever seus modelos de desenvolvimento para sustentar o ritmo de crescimento da última década. As economias exportadoras asiáticas devem reduzir sua dependência das exportações para as economias avançadas mediante a expansão de seus mercados internos e regionais.

Os exportadores de matérias-primas precisam reduzir sua dependência dos fluxos de capital e de sua renda com matérias-primas. Estas, que foram as duas chaves para seu crescimento, estão além do controle nacional. Por isto, é necessária uma saída genuína do fundamentalismo do mercado e do liberalismo, tanto nas políticas macroeconômicas como nas estruturais

Fonte: Envolverde

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