O primeiro Relatório sobre o Estado do Voluntariado no Mundo (SWVR – State of the World’s Volunteerism Report, na sigla em inglês), lançado em 05/12, cita uma necessidade de tornar as ações voluntárias parte integral do novo consenso de desenvolvimento.
O documento foi apresentado oficialmente durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, e em diversos países, coincidindo com o Dia Internacional dos Voluntários e o encerramento do 10º Aniversário do Ano Internacional dos Voluntários (AIV+10).
Seguindo as recomendações dos Estados Membros das Nações Unidas em sua análise de progresso de 2010 rumo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) até 2015, o SWVR aponta que o voluntariado é um modo eficaz de implantar estratégias conduzidas pela comunidade. Embora seja claro que são necessários maiores esforços para alcançar os ODM, há um reconhecimento cada vez maior de que o atual paradigma de desenvolvimento, baseado no desenvolvimento econômico e no acesso aos serviços, encontra-se drasticamente limitado. A dimensão do bem-estar, com foco na satisfação das pessoas, precisa de mais atenção.
A preocupação está aumentando em relação à eficácia da cooperação para o desenvolvimento. Faz-se necessário uma mudança de foco dos processos e coordenação de projetos para os resultados dos estágios finais e impactos desses processos. O relatório ressalta que é necessário compreender o papel e as contribuições do voluntariado para incorporar esse recurso vital na agenda do desenvolvimento.
O bem-estar é essencial para o novo modelo de desenvolvimento
A visão de que o Produto Interno Bruto (PIB) é um reflexo fiel da sociedade está sendo cada vez mais questionada. O relatório diz que “economias robustas e vigorosas são desejáveis, mas somente quando elas proporcionam bem-estar no modo de vida das pessoas.” A solidariedade, a paixão por uma causa e o desejo de dar um retorno à sociedade são aspectos inerentes ao bem-estar e ao voluntariado.
“Está claro que a avaliação do progresso em termos de expansão do PIB não leva em consideração todos os parâmetros essenciais para o progresso”, diz Flavia Pansieri, coordenadora executiva do programa de Voluntários das Nações Unidas (VNU). “Um novo paradigma de desenvolvimento faz-se necessário, baseado em novos métodos de avaliação do progresso. O PIB permanece fundamental, logicamente, mas avaliações de compromisso individual e social também precisam ser consideradas junto com a sustentabilidade ambiental. Valores como participação, engajamento e inclusão são indispensáveis à promoção do bem-estar das pessoas e da sociedade.”
Geração de dados confiáveis e abordagem de ideias equivocadas
O SWVR demonstra que o voluntariado é universal e abrangente em termos numéricos, mas as ideias equivocadas e a falta de metodologias padronizadas de avaliação são um obstáculo para sua abrangência e alcance. “Para fazer jus ao seu potencial, as dimensões e os valores reais do voluntariado precisam ser reconhecidos como um elemento essencial para o progresso sustentável e nivelado das comunidades e nações”, avalia Flavia.
O relatório demonstra que o voluntariado está presente em cada aspecto da vida e da cultura. Muitos serviços do setor público em todo o mundo dependem de voluntários. O engajamento dos voluntários no setor privado tem crescido progressivamente desde a metade da década de 1990. Ademais, o voluntariado não é um privilégio restrito aos mais ricos e aos mais instruídos: o voluntariado é muito difundido em meio às pessoas de baixa renda. Homens e mulheres voluntárias contribuem em aproximadamente a mesma quantidade de horas. Enquanto a participação de jovens nas organizações está diminuindo, parece haver uma mudança no sentido de formas menos estruturadas de engajamento, como por meio da internet.
O relatório aponta que embora as ações voluntárias não objetivem retorno financeiro, o reembolso de despesas e alguns benefícios podem ser justificados. A quantidade progressiva de políticas e leis em âmbito nacional que incentivam o voluntariado e protegem os direitos dos voluntários ressalta que os governos têm um papel a exercer no campo do voluntariado. Entretanto, o Estado não deve encarar o voluntariado como um meio de justificar reduções na prestação de serviços.
O relatório conclui que a pesquisa sobre voluntariado está em fase inicial e confere aos governos a tarefa de incentivar estudos mais empíricos. Como primeiro passo, um único órgão governamental deve ser responsável pela avaliação do voluntariado no país em vez de depender de levantamentos feitos órgão a órgão. Essa medida deve ser acompanhada de um acordo internacional sobre padrões mínimos e metodologia para assegurar a comparação internacional de dados.
Novas formas de desenvolvimento
O SWVR ilustra como as três maiores tendências estão mudando a face do voluntariado no início da globalização e da era digital: a migração e as viagens estão transformando o modo como as pessoas se voluntariam; o setor privado está cada vez mais envolvido no voluntariado; e as tecnologias da informação e comunicação estão fornecendo novos meios de participação voluntária.
O voluntariado online tem aumentado apesar da diferença significativa entre os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento em termos de acesso à internet, aponta o relatório. O voluntariado internacional está passando por grandes mudanças devido à introdução dos esquemas de voluntariado Sul-Sul ou Sul-Norte. A nova forma de turismo voluntário (“volun-tourism”, em inglês) está em expansão e o setor privado está cada vez mais envolvido com a evolução das práticas de responsabilidade social coorporativa.
O SWVR diz que “formas modernas de voluntariado têm o potencial de contribuir significativamente para o desenvolvimento humano”. Apesar dos obstáculos, essas novas oportunidades, que incluem a responsabilidade social corporativa, favorecem o acesso ao voluntariado para mais pessoas. “Essas notícias são excelentes para a essência de nossas sociedades”, conclui o SWVR.
O voluntariado é importante na superação de obstáculos
O voluntariado fornece uma direção importante para a saída da pobreza ao construir capital social, humano, natural, físico, financeiro e político. O voluntariado pode ser especialmente eficaz quando os recursos nas comunidades locais são utilizados em conjunto, entretanto, como aponta o relatório, para que as pessoas saiam da pobreza, faz-se necessário um sistema de apoio articulado com o mundo exterior e investimentos para promover um ambiente favorável.
O relatório constatou que as ações voluntárias são formas fundamentais de superar a exclusão social, visto que essas ações podem aumentar o sentimento de valor próprio, bem como ajudar no desenvolvimento de vocações e outras habilidades. Para as comunidades, as ações voluntárias podem levar a uma relação mais coesa por meio do estabelecimento da confiança. Isso também coloca em ação recursos humanos que se encontravam inativos, podendo, dessa forma, conduzir a um cenário de ganhos econômicos. O SWVR aponta que o voluntariado precisa ser conhecido plenamente para que seja colocado no seu lugar devido: o debate público sobre inclusão social. Os governos podem fazer melhor uso do voluntariado como uma ferramenta complementar para políticas sociais.
Recurso essencial frente às guerras e catástrofes
O relatório cita a necessidade de integração das ações voluntárias às políticas e programas voltados para a prevenção de conflitos e às ações posteriores a esses eventos. Vários exemplos demonstram como o voluntariado pode exercer um papel positivo em situações de conflito e pós-conflito. Essas ações podem ser altamente eficazes em afastar as pessoas da violência, bem como em estabelecer coesão e paz depois de um conflito aberto. “Reforçar os valores de solidariedade e o apoio mútuo é tão importante para uma sociedade pacífica quanto reconstruir a infraestrutura e estabilizar a economia”, diz a coordenadora do VNU, Flavia Pansieri.
Ao ajudar na prevenção, mitigação e reação às catástrofes, os voluntários contribuem imensamente para a construção de comunidades resilientes, constata o relatório. Programas para o enfrentamento de catástrofes estão em constante aperfeiçoamento para reforçar a prevenção, mitigação e preparo, nos quais as ações voluntárias exercem um papel fundamental.
Na fase de recuperação, aponta o relatório, os esforços de reconstrução costumam ser voltados para a infraestrutura física e ignoram a infraestrutura social. Pesquisas empíricas demonstram que comunidades com mais confiança, engajamento cívico e redes sociais mais sólidas, que são amplamente baseadas em trabalho voluntário, têm mais chances de se recuperar depois de uma catástrofe do que comunidades fragmentadas e isoladas.
Em suma, a coordenadora executiva do programa VNU destaca em sua mensagem no relatório: “O voluntariado é mais que uma ferramenta para o desenvolvimento. Seus valores centrais são indispensáveis para conduzir o mundo no sentido de um futuro mais sustentável. Em todo o planeta, as pessoas estão reconhecendo cada vez mais que nossos padrões insustentáveis de produção e consumo precisam ser modificados. Para que isso aconteça, a vontade política sozinha não é o suficiente. As pessoas precisam participar e se empenhar”.
(PNUD Brasil)
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