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Passarinhos na janela

O que é preciso fazer para atrair esses visitantes para o parapeito ou varanda, mesmo quando se mora em uma grande cidade

 

Precisei de dois dias para entender que o vulto fugidio que eu via na janela era uma curiosa rolinha – um macho, como soube meses depois, dada a plumagem azulada na cabeça. Era o terceiro mês que eu colocava frutas num pratinho preso do lado de fora do vidro, no 5º andar de um prédio em frente a uma avenida barulhenta e movimentada. Nascida no interior de São Paulo, onde me acostumei a ver passarinhos nos quintais, me encantei, depois de muitos anos morando na metrópole, com a possibilidade de atraí-los para a minha janela.

Assim como eu, muita gente vem tentando receber a visita dessas aves em suas casas e apartamentos. É uma forma de ter um contato mais próximo com a natureza, mesmo morando na cidade. Além disso, ter passarinhos por perto também pode ser muito útil, uma vez que eles fazem a polinização das plantas e ainda mantêm um bom controle das pragas que as infestam. O que há de mais novo nesse movimento é a maior conscientização ecológica que ele pressupõe: há uma notável preocupação em oferecer aos visitantes alimentos naturais, evitar o surgimento de pombas urbanas e, claro, deixar o passaredo em liberdade. Gaiola, nem pensar.

Para quem se aventura a chamar os bichos para perto, os aprendizados são muitos. Eles são atraídos, por exemplo, pelos jardins em vasos (flores coloridas, em geral) e as hortas domésticas. Mas, vale saber, cada espécie tem uma preferência. Descobri, veja só, que nem mesmo faminta uma rolinha seria capaz de comer frutas, já que seu bico e seu caminhar são dados a esquadrinhar o chão em busca de pequenas sementes.Já se o cardápio incluir alpiste, níger e painço, não só rolinhas como também chupins e pardais virão rapidamente. O único problema é que as pombas também gostam muito desse menu; se quiser que elas fiquem longe, melhor oferecer apenas frutas.

Além da diferença no gosto, os pássaros variam muito em seus hábitos de voar; uns preferem ficar perto do chão, outros de voar alto. Dessa maneira, se você mora em um apartamento no 20º andar ou em uma casa no térreo, vai atrair espécies diferentes. Maritacas voam alto e são capazes de encontrar sementes de girassol até mesmo na cobertura de alguns prédios. Sabiás são preguiçosos e só chegam ao 3º ou 4º andar se vislumbrarem um prato repleto de mamão e banana.

ÁGUA DE BEBER
Outra coisa de que as aves adoram é água. Os beija-flores, por exemplo, gostam muito da água com néctar colocada nos bebedouros – e podem ser subornados com açúcar refinado, desde que se use apenas uma colherinha de café para cada recipiente. Açúcar em excesso, além de fermentar sob o sol, atrai abelhas, que espantam a freguesia. Além disso, o ornitólogo Johan Dalgas Frisch recomenda limpar o bebedouro a cada três dias com uma tampinha de água sanitária diluída em 1 litro de água. A sujeira grossa deve ser removida com uma escova de dentes velha e os recipientes, deixados submersos na solução de limpeza por 1 hora.

Os pássaros também são atraídos por uma simples vasilha com água fresca em um local sombreado, perto da comida. Ali, eles podem se banhar, principalmente nos dias ensolarados. Um modelo de bordas grossas, onde possam se apoiar antes de dar um mergulho, é o ideal. É preciso, apenas, tomar um cuidado: limpar a banheirinha com a mesma solução higiênica usada nos bebedouros – a medida evita a proliferação de bactérias e fungos nocivos tanto para eles quanto para nós.

SURPRESAS DIÁRIAS
Foi desse jeito, no erro e acerto (ora oferecendo fruta, ora colocando sementes variadas), que descobri o que atrai esses bichinhos tão graciosos. É claro que a tarefa demanda sua parcela de dedicação: comprar sementes, frutas frescas e limpar potes, bebedouros e outros utensílios. Mas o esforço vale a pena. No meu caso, recebi a simpática visita de uma maritaca, arisca como pensamento; um bem-te-vi exibido, com sua casaca preta cobrindo o peito banana-ouro; sanhaços; cambacicas; beija-flores e sabiás. Muitos desses nomes, aliás, descobri num livro de pássaros com a surpresa de quem recorda velhos amigos.

Carol Costa
Vida Simples – 10/2011


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