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Boas notícias da conservação

Não faltam más notícias sobre o estado do meio ambiente em todos os cantos do mundo, o que pode dar a impressão que a conservação só acumula fracassos. Na realidade, alguns esforços são bem sucedidos e reportá-los é importante não só para balizar futuras ações, mas para proporcionar um pouco de  esperança para quem trabalha pela conservação. Foi o que fizeram quatro autores no artigo Conservation successes at micro-, meso-, and macroscales, recém-publicado na revista científica Trends in Ecology and Evolution.

Logo de cara, os autores admitem que as ações de conservação em grande parte têm sido incapazes de conter o colapso global da biodiversidade. “Estamos cientes que alguns esforços de conservação, como parques que ficam só no papel, falharam miseravelmente. Além disso, alguns sucessos da conservação são exagerados e muitos daqueles que recebem destaque estão sob risco de ameaças futuras”, escrevem. Ainda assim, a ideia ao destacar os sucessos que existem é ajudar a compor uma visão mais equilibrada e oferecer uma avaliação geral das realizações da conservação nas últimas três décadas.

Para isso, os autores avaliaram casos de conservação em três escalas. A microescala engloba esforços diretos para preservar espécies ou habitats e inclui a criação de áreas protegidas (PA) e o controle da caça ilegal. Nessa categoria, eles incluem os esforços para conservar a megafauna no subcontinente indiano, a criação do Parque Nacional Bardia no Nepal, e a criação de PAs em 709 mil quilômetros quadrados de Floresta Amazônica no Brasil – o que contribuiu para a estimada queda de 37% nas taxas brasileiras de desmatamento de 2002 a 2009. Da mesma forma, a proteção do habitat e melhor fiscalização da pesca às baleias resultaram na recuperação da população de baleias-cinzentas do Pacífico. Cada vez mais, os esforços de conservação incluem também ações de restauração, como o projeto do governo de Ruanda que plantou 116 milhões de árvores e planeja plantar mais 44 milhões até o final desse ano.

Em Papua New Guinea, os habitantes tradicionais de uma área que seria desmatada para estabelecer o cultivo de palmeira conseguiram reverter o plano e, no Equador, populações locais e ONGs foram capazes de mostrar a importância da floresta das nuvens e obter sua proteção. Um caso clássico de sucesso é a proteção da Bacia de Catskills, que fornece água limpa para a cidade de Nova York e eliminou a necessidade de uma planta de filtragem da água. “Claramente, angariar apoio das populações locais é vital para proteger a biodiversidade, particularmente na microescala”, escrevem os autores.

Na chamada mesoescala – a regional ou transnacional –, os casos de sucesso parecem ser menos prolíficos. Os autores citam o estabelecimento de parques nacionais contíguos no República Democrática do Congo, Uganda e Ruanda e o subseqüente aumento nas populações de elefantes e gorilas. Moçambique, África do Sul e Zimbábue também estabeleceram áreas de preservação comuns, assim como Brunei, Indonésia e Malásia. Nos ambientes marinhos, 16 nações do Pacífico estão trabalhando em conjunto para proteger e gerir corais e pescados.

Na macroescala – em outras palavras, na esfera global –, os esforços são para limitar práticas empresariais insustentáveis. Entre os bem-sucedidos, os autores citam as iniciativas do Greenpeace contra grandes marcas para evitar que usassem couro e carne de fazendas que praticam o desmatamento na Amazônia. Outro exemplo brasileiro considerado um sucesso é a moratória da soja. O Google Earth é uma ferramenta que ajuda tais iniciativas, lembram os autores, ao permitir que os consumidores monitorem a cobertura florestal em países longínquos.

A maioria dos esforços de conservação acontece simultaneamente em várias escalas e uma maneira de melhorar seus resultados é justamente aumentar as conexões entre as diferentes escalas, dizem os autores. Eles defendem um compromisso de longo prazo para documentar os resultados de intervenções de conservação em populações e espécies. “Resultados negativos e positivos dos projetos de conservação devem ser amplamente disseminados para que os sucessos possam ser repetidos”.

 Flavia Pardini, em De lá pra cá, para a Página 22



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