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A teoria sustentável

As vantagens do Brasil: energia renovável e terra em abundância. O dilema: como controlar os danos da produção extensiva de commodities. Foto: Istockphoto

O século xx finalmente chegou ao fim. Acabou a era das energias baratas e não é mais possível continuar a empurrar as externalidades da economia para baixo do tapete da natureza. Também não é mais possível ignorar que apenas um terço da humanidade tem um padrão de vida capaz de suprir todas as necessidades em alimentos, habitação, saúde, educação e trabalho. Para muitos especialistas, o planeta vive uma convergência de crises, de onde deve emergir uma nova forma de produzir, consumir e viver, e não há um plano B que permita deixar tudo como está e seguir vivendo em paz. “O combate à desigualdade e a adequação da economia às necessidades climáticas e ambientais devem ser o centro das discussões econômicas, e não pode mais ser apenas uma reflexão teórica”, aponta Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia da USP.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou, em 2008, o estudo Economia Verde (GEI, em inglês). O relatório foi a primeira tentativa de indicar soluções para o impasse que se formou na economia tradicional. No início de 2011, o organismo da ONU publicou outro estudo, intitulado Rumo à Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza, assinado por seu diretor-executivo, Achim Steiner, e pelo economista sênior do Deutsche Bank, o indiano Pavan Sukhdev. O novo texto mostra como diversos setores – energias renováveis, tecnologias limpas e eficientes, serviços de água e pesca sustentável – podem gerar empregos, aquecer a economia e produzir um crescimento limpo. Uma tese já apresentada por Ignacy Sachs, que defende o uso de biomassas para alavancar um modelo econômico com novas empresas e novas tecnologias, com mais distribuição de renda pelo trabalho e com uma grande capacidade de regeneração de biomas e ecossistemas. “Podemos produzir alimentos e matérias-primas na terra, nos rios e mares, e garantir qualidade de vida para todos os habitantes do planeta”, assegura.

Mesmo com um novo olhar sobre os dilemas ambientais e as oportunidades que se abrem na economia, o relatório deixa algumas perguntas em aberto. Uma delas é sobre o financiamento dessa transição. O Pnuma aponta a necessidade de um investimento anual de 2% do PIB global, cerca de 1,3 trilhão de dólares, valor próximo a 10% do que se gastou com a crise financeira e menos do que se investe para manter as guerras atuais pelo mundo. O problema, segundo John Elkington, reconhecido como criador do conceito do Triple Bottom Line, que preconiza o equilíbrio social, ambiental e econômico das ações humanas, é que a maioria dos países esgotou sua capacidade de investir por meio dos pacotes de estímulo à economia, e pouco foi pedido em termos de contrapartidas para limpar a economia. “Ainda prevalece o mito de que implantar infraestrutura e projetos verdes tende a ser mais caro, e isso desestimula a transição”, aponta. Como explica o empresário e arquiteto Marcelo Takaoka, responsável por inúmeros “edifícios verdes”, a conta deve, porém, incluir a operação e a manutenção dos projetos, e não apenas a implantação. “Muitas vezes, os custos adicionais em materiais e tecnologias na construção são amplamente compensados com o baixo consumo de energia, água e outros materiais durante a vida útil do empreendimento.”*

fonte : Juliana Arini e Dal Marcondes _ CARTA CAPITAL


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